quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Olhares sobre a mobilidade religiosa e o pluralismo religioso no Brasil



Seminário apresenta a pesquisa Mobilidade Religiosa no Brasil reunindo teólogos, padres e estudiosos da religião que expõem seus olhares sobre a mobilidade e o pluralismo religioso apontando desafios à Igreja
Cai o número de católicos no Brasil. Aumenta a quantidade de evangélicos pentecostais, ao passo que cresce o número de pessoas sem-religião. Estes são os dados revelados pela pesquisa Mobilidade Religiosa no Brasil, realizada pelo CERIS a pedido da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em 2004. Para compreender e discutir estas mudanças, leigos e estudiosos do fenômeno religioso reuniram-se em seminário na PUC-Rio - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, no dia 6 de setembro.
Mobilidade Religiosa no Brasil é a primeira pesquisa em nível nacional a mapear os motivos pelos quais as pessoas mudam de religião no Brasil. Segundo a socióloga e pesquisadora do CERIS, Silvia Fernandes, a pesquisa busca entender o fenômeno da circularidade. “Por quê as pessoas mudam de religião? De onde saem e para onde vão?”, questiona. Desde o Censo IBGE/2000 já havia sido constatado um declínio de católicos (de 83,3% para 73,9%), um aumento de evangélicos pentecostais e neopentecostais (de 9% para 15,6%), e ainda, um aumento de pessoas que se declaram sem-religião (de 4,7% para 7,4%). O seminário vem assim buscar entender como tem funcionado o fluxo religioso.

Apresentação da pesquisa
O seminário teve início com a apresentação da pesquisa pelo estatístico do CERIS, Marcelo Pitta. A pesquisa foi realizada através de questionários coletados em domicílios, respondidos somente por pessoas maiores de 18 anos. Na apresentação, os participantes puderam analisar os dados coletados em 22 capitais, o Distrito Federal e 27 municípios. A pesquisa mostrou que 52,2% das pessoas que já mudaram de religião são divorciadas e 35,5%, separadas judicialmente. Quanto ao nível de escolaridade, quem tem curso superior completo também muda mais de religião, 37,4%.
Outro dado apontado pela pesquisa é a tendência do Evangelismo Pentecostal em receber novos fiéis. De acordo com o levantamento, esta religião é a que mais atrai novos seguidores. Dos antigos católicos, 58,9% deles estão hoje na Igreja Evangélica Pentecostal. Esta religião também recebeu 50,7% dos oriundos da Igreja Protestante histórica e 74,2% das pessoas que pertenceram a uma religião indeterminada mudaram para o Evangelismo Pentecostal. Também as pessoas sem-religião migram majoritariamente para o pentecostalismo, (33,2%) das pessoas que eram sem-religião hoje freqüentam a Igreja Evangélica Pentecostal.


Por quê as pessoas mudam de religião?
Dentre os motivos apontados por pessoas que trocaram de religião estão: a discordância com os princípios e doutrinas da igreja; convite de parentes e amigos a mudar de religião e a falta de apoio da igreja em momentos difíceis. No grupo dos ex-católicos, 35% deles saíram da religião por discordarem dos princípios e doutrinas do catolicismo. 33,3% de pessoas vindas do grupo “outras religiões” – Hindu, Kardecismo, Budismo, Umbanda, Espiritismo, Testemunha de Jeová, Vale do Amanhecer e Mormon também estavam insatisfeitos pelo mesmo motivo.

O que dizem padres e teólogos

Olhares Católicos

Para o teólogo e professor de teologia da PUC, Paulo Fernando Carneiro, a pesquisa traz dados importantes para a compreensão do campo religioso no Brasil hoje e sua dinâmica. Para ele, as mudanças de religião em pessoas divorciadas tende a apresentar maior percentual porque implicam em uma disposição pessoal de dissolver ritos tradicionais assumindo rupturas para construir um outro rumo para sua vida.
Avaliando o percentual de que 4% dos católicos declararam já terem mudado de religião, o teólogo considera uma quantidade expressiva. Segundo ele, em termos absolutos é um alto número devido ao fato do catolicismo ser a religião predominante no Brasil.
Para o teólogo, os dados apresentam desafios ao catolicismo. O primeiro é a necessidade de uma profunda mudança no relacionamento entre a Igreja Católica e seus fiéis; o segundo é a necessidade da Igreja ser conhecida como um espaço aberto a experiências. Uma Igreja plural, que apóia e dialoga, na qual todos se sintam responsáveis e participantes e não simples “consumidores religiosos”.
Agora, a grande questão da Igreja Católica é “se esta vai conseguir enfrentar as demandas ou se reagirá a esses desafios fechando-se em uma afirmação identitária rígida que pode ser atrativa para a manutenção de um grupo restrito de fiéis, mas que impede a satisfação de grande parte das demandas religiosas que surgem nesse novo contexto", avalia Carneiro.
De acordo com uma perspectiva da pastoral, o Padre Joel Portella Amado, coordenador da Pastoral da Arquidiocese do Rio de Janeiro, considera que a pesquisa do CERIS dá uma referência para se pensar numa pastoral mais concretizada na realidade. Padre Joel diz que o Brasil sempre conviveu com a “visita ao demônio” – conhecer outra religião e retornar a anterior. Porém, ele avalia que este não é um processo sazonal, e sim estrutural. “Essa necessidade de mudança, apresentada na pesquisa, é indispensável dentro de um contexto de pluralismo cultural e religioso”, afirma.
Padre Joel apontou quatro pontos que lhe chamaram a atenção nos dados: a manutenção das tendências apresentadas nas pesquisas; a generalização do fenômeno da mobilidade; a “pentecostalização” das experiências religiosas; e a ascensão numérica dos que se declararam sem-religião. Para Padre Joel, estes dados indicam uma necessidade de repaginar a teologia em diversas áreas, como na antropologia. “É necessário recolocar a questão da pertença/pertencimento do ser humano; repensar a questão comunitariedade X liberdade; e, recuperar a fé como uma questão de opção e não apenas de inserção sócio-cultural”, avalia.
Outro teólogo e professor de teologia da PUC, Padre Mario de França Miranda, lembra que o pluralismo religioso não é algo novo. “O ocidente está habituado a uma religião, mas no resto do mundo não é assim”, diz. Segundo Padre França, vivemos hoje num mundo que respeita a liberdade. “Isso é democracia”, diz. “E isso traz a diversidade”, completa. Padre França considera que hoje todas as instituições estão em crise, e que o Homem se sente só. “As instituições eclesiais têm que resolver esse problema”. E pergunta: em quê isso implica para as igrejas (católicas)? “O desafio da Igreja Católica é voltar a tratar a fé como uma coisa séria”, afirma.

Olhares Evangélicos

O Pastor Edson Fernando de Almeida, teólogo e pertencente à Igreja Cristã de Ipanema, considera a pluralidade religiosa um “mistério a ser penetrado”. A pluralidade passa a ser um elemento estruturante positivo e propositivo da relação do homem com Deus. “Por isso, jamais poderá ser um problema a ser superado, mas um mistério a ser penetrado em toda a sua profundidade”, afirma o pastor. Para ele, nessa perspectiva do mistério, do encontro, do reencontro, da conversão e da reconversão, a identidade cristã será sempre crítica, além de radicalmente “crística”.
Para o evangélico pentecostal, o pastor e teólogo Eliezer Alves de Assis, a diversidade tem um traço de riqueza e valor. “A diferença não deve suscitar em nós o temor e o medo, mas a alegria. Ela nos leva a caminhos e horizontes inusitados”, diz. De acordo com o Pastor Eliezer essa chamada “pentecostalização” traz os seguintes pressupostos: um cristianismo mais evangélico e participativo, mais enigmático e militante. Para ele, é necessário vivermos dentro desta diversidade, mas sempre buscando o cristianismo dialogal.


Fonte: www.ceris.org.br

           Blog do Pastor Eliezer de Assis
 



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