sexta-feira, 16 de julho de 2010

Abuso espiritual

wesleystaffordcompassioninternationalA história de uma infância difícil que ajudou a moldar o ministério do presidente da Compassion Internacional

Em um momento decisivo da minha vida, há uns três anos, me dei conta que precisava deixar Deus redimir a história da minha infância. Essa história foi tão dolorosa e confusa que eu passei nada menos que 35 anos sem falar sobre ela. Dizem que as crianças têm um anjo da guarda, mas eu cheguei mesmo a pensar que o que fora designado para me proteger era o mais preguiçoso de todo o céu… Afinal, onde foram parar minhas orações, meus clamores por misericórdia e socorro, que tanto fazia deitado em meu travesseiro durante aquele período tenebroso?

Recebi meu chamado e descobri o propósito e a missão de minha vida justamente no momento mais sombrio e doloroso de minha existência, quando tinha dez anos de idade. Lembro-me nitidamente de uma vela de aniversário rosa, daquelas em que é possível atear fogo em suas duas extremidades. Ela foi acesa pelo homem que, à época, tinha autoridade sobre minha vida. Ele era o responsável por uma escola para filhos de missionários no oeste da África. Aquela instituição era minha casa por nove meses de cada ano, desde que eu tinha seis anos. Minha vida inteira pode ser dividida em duas partes: antes e depois da vela.

Naquele dia, o responsável pela escola me fez caminhar até o refeitório, colocou-me sentado diante de meus coleguinhas e pôs a vela em minhas mãos, acendendo-a nas duas pontas. “Crianças”, ele nos disse, “vocês não podem servir a Deus e a Satanás, como Wesley tentou. Não se pode acender uma vela em suas duas extremidades sem se queimar”. Cinquenta crianças estavam petrificadas, em silêncio. Sentado naquela cadeira, com meus joelhos tremendo, eu olhava aterrado. Por detrás das duas chamas, via a face de meus amigos – garotos que, como eu, vinham de vilarejos e centros missionários de todos os lugares do oeste africano enquanto seus pais faziam a obra de Deus.

A política da missão dizia que todas as crianças deveriam deixar seus pais ainda pequenas. Como eu, elas experimentaram crueldades indescritíveis naquele lugar. Os dirigentes e educadores do estabelecimento eram missionários que, penso hoje, provavelmente fracassaram por não superar os desafios transculturais e linguísticos do campo. Por isso, foram incumbidos da tarefa tediosa de cuidar dos filhos dos outros obreiros. Sem nenhuma supervisão, eles descarregavam em nós suas frustrações. Desde cedo, por isso, aprendi que coisas terríveis podem acontecer quando crianças são tidas como sem importância, ou como a última das prioridades. E tenho tentado convencer as pessoas justamente do contrário.

Pesadelo – Foram quatro anos de pesadelo. Por todos os meus dias na escola, convivi com violência. Tudo era razão para nos fazer apanhar, desde um fio puxado no cobertor a um olho aberto na hora de dormir. Quando comecei a estudar matemática, fiz as contas na média e descobri que apanhava cerca de dezessete vezes por semana. Éramos abusados não apenas física e emocionalmente, mas também espiritualmente. Crescíamos com pavor do Deus poderoso e vingativo que nos era apresentado. As mesmas pessoas que liam a Bíblia para nós durante o dia permaneciam nos dormitórios durante a noite, aproveitando-se dos indefesos. Meninos mais velhos, também vítimas, eram ensinados a como tocar sexualmente nos seus superiores, num ambiente depravado que satisfazia os desejos e a luxúria de homens que usavam todos os recursos físicos e psicológicos para nos calar.

Nem posso descrever a intensidade de dor, raiva e falta de esperança que afligiam minha alma. Nas mãos daquele homem que me torturou com a vela, eu sempre perdia. Era simples; ele era maior e mais forte, e eu, apenas um menino. Não havia quem nos protegesse. Não tínhamos braços paternos para os quais correr. Na escola, nós não podíamos sequer ter fotos de nossos pais, quanto mais reclamar de saudades de casa. Com o passar dos anos ali, percebi que já não conseguia lembrar como era o rosto de minha mãe. Tinha medo de partir seu coração se chegasse em casa e não a reconhecesse.

Os professores nos diziam que, caso contássemos o que acontecia ali, destruiríamos o ministério de nossos pais e arruinaríamos o trabalho evangelístico no continente africano. Não tínhamos ideia de que o nosso silêncio forçado perpetuava o mal contra nós. Nossas cartas à família eram controladas, de modo que não podíamos dar uma única pista sobre os horrores daquele lugar. O menor sinal de rebeldia era punido com agressões, e aprendemos a ser tão silenciosos quanto um cordeiro. Mesmo durante os três meses em casa com nossos pais, todos os anos, não abríamos a boca.

Eu sabia de sua paixão no anúncio do Evangelho, e eu amava meus amigos africanos. Se meu silêncio fosse garantir sua salvação, eu estava disposto a enfrentar qualquer coisa. Na verdade, era um africano de coração. Depois de nove meses de inferno na escola, meu coração era sempre renovado no verão pela alegria do convício com o povo local na vila em que vivia. As mulheres me tinham como filho. Bastava um simples arranhão numa brincadeira para que várias mães negras me pegassem no colo e enxugassem minhas lágrimas com seus vestidos coloridos. Na minha inocência, costumava orar a Deus para que minha pele ficasse escura como a deles. Todas as manhãs, ao acordar, eu checava para ver se ele havia atendido ao meu pedido. Ficava desapontado, mas pensava: “Talvez amanhã”.

Por assim dizer, eu era o assistente do meu pai. Juntos, levávamos o Evangelho a vilas nunca antes visitadas por brancos. Cabia a mim espantar os pássaros das árvores, para que seu barulho não impedisse as pessoas de ouvir a pregação. Costumava reparar no rosto dos africanos quando eles ouviam pela primeira vez a palavra Jesu e via as esperanças que eram construídas por causa da chegada do Evangelho às suas vidas. Logo, eu era um missionário também. Por isso as palavras daquele homem naquela noite lúgubre no refeitório feriram-me mais do qualquer uma das surras que eu havia levado naquela escola: “Wesley nos traiu. O diabo o usou para destruir o ministério de seus pais. Africanos irão para o inferno por causa de Wesley”.

Código de silêncio – Tudo aconteceu porque nas férias anteriores eu contara tudo. Estávamos no aeroporto com outros meninos, despedindo-nos das famílias, prestes a embarcar no avião que nos levaria de volta à África. Nossos pais seguiriam depois, de navio. No portão, coloquei a mão de minha mãe em meu rosto. Fiquei contemplando sua face sorridente, que me parecia tão bela. “O que foi, Wesley?”, perguntou ela, supondo que eu chorava apenas por antecipar a saudade. “Mãe, não quero me esquecer de como você é”, respondi. Ela também começou a chorar. Vi naquele momento uma oportunidade de ser resgatado. “Mãe, por favor, não me mande de volta para lá. Eles me odeiam, me batem. Por favor, eu tenho tanto medo!”

Jamais esquecerei o desespero no olhar de minha mãe. Senti seus soluços enquanto me abraçava. “O que eu posso fazer?”, balbuciava. Em menos de um minuto, minha irmã e eu estávamos embarcando com as outras crianças. Eu fizera o impensável – quebrara o código de silêncio. Meus amigos me olharam como se carregassem no olhar a imagem de minha sentença de morte. Durante o mês de viagem de meus pais de navio, minha mãe, confusa e com o coração partido, ficou tão abalada emocional e psicologicamente que logo ao desembarcar na África foi enviada de volta aos Estados Unidos para tratamento. Notícias de sua situação e das causas do problema espalharam-se como fogo. Logo chegariam aos ouvidos dos dirigentes da escola.

Eu não aguentava mais a humilhação, que novamente aconteceria. Meu algoz esperava que em minutos eu gritaria, choraria e lançaria a vela longe. Mas as duas afirmações – “Ministério de seus pais arruinados” e “Africanos no inferno por causa de Wesley” – eram mais do que eu podia suportar. Ao perceber que a cera quente começava a pingar em minha mão, fui fortalecido de forma sobrenatural. Rapidamente, pensei: “Posso vencer isso”. Aquele monstro havia se colocado em uma posição que, mesmo me fazendo sofrer, me dava a possibilidade de vencer. Eu sabia em meu coração que ele estava errado. Estava mentindo, e minha jovem alma clamava por justiça. Eu não era uma ferramenta de Satanás; era apenas um garoto pequeno clamando por socorro. Logo, já havia bastado de mentiras, injustiça, dor e sofrimento. Aquilo precisava acabar – e minha decisão era a de fazer acabar naquela hora. Nada me faria gritar ou derrubar aquela vela.

Mas estava assustado, lágrimas furiosas escorriam dos meus olhos por causa da cera fervente que me queimava. Ele havia me dado as costas, aumentando ainda mais o tom de suas acusações. Mas eu não mais ouvia sua voz. Tudo o que eu ouvia era o latejar do sangue em meus ouvidos. Trinquei os dentes, contraí os músculos e segurei aquele objeto da forma mais firme que podia. As pontas dos meus dedos ficaram vermelhas e vi bolhas saltando. De repente, fui transportado para fora do meu corpo. Flutuei acima daquele menino assustado, como se aquilo estivesse acontecendo a outra pessoa. Cheguei a ver a ponta do meu dedo acendendo com o fogo. Mas eu não largaria a vela.

Foi quando um menino saltou em minha direção e apagou as chamas. Apavoradas, as crianças correram em várias direções. A reunião macabra acabou num grande pandemônio. Sozinho naquela cadeira, eu havia recebido meu chamado. Saí da posição de vítima e passei à postura de vitorioso. A partir daquele dia, eu seria um protetor das crianças. Dali por diante passaria a falar por aqueles que, como nós naquela escola por tanto tempo, não tinham voz. Alguns anos depois, o estabelecimento foi fechado e os que abusavam de nós foram incriminados e impedidos pela missão de trabalhar com crianças. Não foram presos por conta da leniente legislação da época. Muitos dos que estudaram ali comigo saíram carregando cicatrizes que jamais seriam fechadas.

Lágrimas de alegria – O fim da minha história, que Satanás tentou amaldiçoar, foi transformado por Deus em bênção. Ela finalmente veio à tona com a publicação, em 2007, de meu livro Too small to ignore – Why the least of these matter most? [em tradução livre, “Pequeno demais para ser ignorado – Por que o menor deles é o que mais importa?”]. Encorajado por meus editores, fiz da obra um manifesto para despertar os cristãos quanto à necessidade do cuidado com as crianças. Ao mesmo tempo, deixei o Senhor tratar das feridas mais profundas de minha alma. Minha história é o que move meu coração a lutar contra a miséria, a injustiça e o abuso. Foi isso que me trouxe à Compassion Internacional. Aquela paixão que me moveu aos 10 anos ainda me consome. Meu trabalho é lutar pela causa das crianças, mostrando a elas o amor de Jesus por suas vidas. Pense na minha alegria quando, todos os dias, centenas de pequenos aceitam a Cristo como salvador de suas vidas; ou na satisfação que sinto ao vacinarmos pela primeira vez milhares de crianças de um recanto do mundo contra doenças fáceis de prevenir, mas até então fatais para elas.

Nestes últimos anos, não tenho passado dez segundos sem chorar. Nem todas as minhas lágrimas, entretanto, são de tristeza. Tenho chorado bastante de alegria, vendo a vitória na vida de crianças, assim como vi um dia na minha. Ao finalmente contar minha história, pude ver algo como o outro lado do trabalho de tapeçaria. Deparei-me apenas com os nós e tranças por muito tempo; hoje, ao contrário, vejo a bela obra de arte feita por Deus e sua graça. Ele certamente ouviu cada um de meus clamores, fazendo cessar meu pranto e, através do sofrimento, moldando-me para viver para sua glória.

Wesley Stafford é presidente da Compassion Internacional, com sede no Colorado (EUA), que desenvolve um trabalho de apadrinhamento de crianças. Esse artigo foi adaptado de uma de suas palestras

A arte perdida do compromisso

Sem compromisso, nossa vida individualista será árida e estéril. Sem compromisso, nossas vidas ficarão sem sentido ou propósito

Certas características são tão inerentes ao cristianismo que negligenciá-las significa tornar-se um crente disforme. Uma delas é o compromisso. Um cristão sem compromisso é como um paradoxo. O descompromisso tem sido uma tendência na sociedade moderna. As pessoas estão cada vez menos comprometidas com suas responsabilidades, com seus empregadores e até com sua família. Carreira, casamento, amizade e até mesmo a fé – ou seja, valores enraizados na cultura ocidental – têm sido abalados ela falta de compromisso, sobretudo entre as pessoas mais jovens.

E a percepção não é apenas pela mera observação dos fatos e do comportamento das pessoas. Uma pesquisa feita em 2008 mostrou que mais da metade das pessoas com idades entre 20 e 24 anos estavam com seu empregador atual havia menos de um ano. O matrimônio, em especial, tem sofrido muito com esse quadro. De acordo com dados do último censo norte-americano, os adultos jovens estão se casando mais tarde do que nunca. Um documentário produzido pela PBS em 2006, intitulado A próxima geração, deu algumas dicas sobre o porquê dessa situação atual: desejo de aventura, interesse em progredir na carreira e permanência mais prolongada na adolescência.

A falta de compromisso também está atingindo duramente a religião. Estudos sugerem que a geração iPod chega ao cúmulo de escolher quais aspectos da fé deseja adotar para criar as suas próprias listas espirituais.  A religião passa a ser o mesmo, então, que uma lista de meros interesses pessoais.

Entre os jovens adultos de hoje, a falta de vontade de se comprometer é alarmante. Eles são filhos de uma geração que viveu o apogeu da contracultura, entre as décadas de 1960 e 70, e expressam tal sentimento em seu apogeu. Em 1979, o sociólogo Robert Bellah realizou extensas entrevistas e pesquisas para compreender os chamados “hábitos dos corações” dos americanos médios. Muitos deles não tinham nenhum senso de comunidade ou obrigação social e viam o mundo como um lugar fragmentado de escolha e de liberdade, sempre no objetivo de obter o máximo em realização e conforto pessoal. Instados a expressar alguma forma de compromisso com algo ou alguém além de si mesmos, a maioria quedou-se silente.

Bellah chamou este comportamento de “individualismo ontológico”, uma crença não codificada segundo a qual o indivíduo é a única fonte de significado. O estudioso previu então como essa atitude iria, com o passar do tempo, afetar a sociedade em geral e até a Igreja. Como se vê, acertou em cheio. Desde então, temos visto uma quase ininterrupta marcha em direção ao autofoco, afetando todas as nossas instituições, mas sobretudo o trabalho, o casamento e a família.

Os blocos básicos da construção de uma sociedade pode se corroer se não existir compromisso daqueles que a compõem. No caso da Igreja, é cada vez mais urgente ensinar isso. Afinal, como é possível pensar em ser cristão sem um compromisso voluntário e total com a pessoa de Jesus? Por outro lado, além das ramificações para a sociedade como um todo, quando tal compromisso é recusado o mesmo negligenciado, perde-se uma das grandes alegrias da vida. Quando focamos tudo sobre nós mesmos, perdemos o grande sentido da existência, que outro não é senão conhecer e servir a Deus e amar e servir a nosso próximo.

Isso ficou claro quando 33 cientistas pesquisadores investigaram a relação entre o desenvolvimento humano e da comunidade em um importante relatório chamado Hardwired to connect. A pesquisa revelou que o ser humano é biologicamente preparado para encontrar sentido através de relacionamentos. Depois de quase oito décadas de vida, posso testemunhar sobre isso. Minha alegria maior é dar-me aos outros e vê-los crescer como conseqüência disso. É impossível descobrir isso sem que tenha compromisso com alguém. A primeira vez que aprendi isso foi presenciando meus pais cuidarem de meus avós, de maneira amorosa e espontânea, até o fim de suas vidas.

Vi isso também quando estava no Corpo de Fuzileiros Navais. Lá, ensinava-se aos recrutas como eu que compromisso com o companheiro de farda é tudo. Aprendi que, uma vez em combate, eu certamente morreria se o homem mais próximo a mim não me cobrisse, e vice-versa.

Esse tipo de compromisso total, feito de amor um pelo outro, é o que precisa acontecer nas igrejas. Ao abandonar o compromisso, a nossa cultura narcisista perdeu a única coisa que procura desesperadamente: a felicidade.
Sem compromisso, nossa vida individualista será árida e estéril. Sem compromisso, nossas vidas ficarão sem sentido ou propósito. Afinal, se não se vale a pena morrer por nada, também não vale a pena viver. Mas, com o compromisso, vem o florescimento da sociedade – de vocação, do casamento, da Igreja – e dos nossos corações. Esse é o paradoxo de Jesus, tantas vezes compartilhado quando o Senhor nos oferece para vir e morrer, a fim de que possamos verdadeiramente viver.

Charles Colson & Catherine Larson

Fonte: Cristianismo Hoje 

Conformismo ou transformação?

Jonh Maxwell, famoso escritor na área de liderança, resumiu o significado de liderança como influência. Se lembrarmos que um dos significados da palavra influência é ‘poder’, podemos então concluir que liderança é poder. E poder é o que precisamos para transformar famílias, igrejas e a sociedade em geral.

Creio que muitos líderes ignoram o poder da influência, e por isso sua liderança não é tão transformadora quanto poderia ser. Ou, então, sua influência não é positiva, como a que se espera de um crente em Jesus Cristo. Como líderes, precisamos ter consciência de nosso poder de influência e fazer uso dele para promover as transformações que deixam cada vez mais claro ao mundo a chegada do Reino de Deus através da ação da Igreja de Cristo. Se não tivermos uma influência positiva, é certo que assumiremos uma influência negativa, pois o “mundo jaz no maligno” (1Jo 5.19).

Não influenciar com uma liderança espiritual é influenciar por algum outro tipo de liderança. E aqui entra o perigo do comodismo, de ir ‘a favor’ e não ‘contra’ a maré. Comodismo é sinônimo de má influência, de falta de percepção do poder de liderança. Líderes que não fazem diferença estão entregando ao inimigo de nossas almas todo potencial que poderia ser empregado no exercício de uma influência cristã. Talvez seja nesse sentido que o apostolo Paulo declarou: “E não vos amoldeis ao esquema deste mundo, mas sede transformados pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Rm 12.2). Conformismo tem a ver com assumir a forma já estabelecida. Líderes que se conformam à realidade acabam fortalecendo tal realidade, pois, querendo ou não, exercem poder de influência. Um líder que vê comportamentos estranhos em seus liderados e não fala nada está reforçando tal comportamento e usando sua influência para cristalizar erros. Por outro lado, um líder que promove a transformação do seu ambiente está fazendo uso de sua influência para manifestar os valores do Reino de Deus e as grandes possibilidades que o evangelho de Jesus oferece a todos aqueles que nele creem.

Para o líder, não há muros para subir ou zonas de conforto para se abrigar. Seu poder de influência não lhe permite a neutralidade. Conformismo gerará reforço de tradições sem sentido, pecados escondidos, falta de criatividade e, por fim, criará verdadeiros impérios que impedem a manifestação plena do Espírito Santo de Deus, que  nos traz a novidade do Senhor a cada dia. O líder cristão entende que tem diante de si um compromisso com a transformação, afinal lhe foi dado poder de influência. Com isso, ele pode promover uma grande movimentação em prol do Reino de Deus.

Para o líder exercer boa influência e promover transformações, ele precisa de compromisso com Deus e visão espiritual dos seus liderados, das estruturas em que estão inseridos e, principalmente, da vontade de Deus. Esse compromisso lhe dará abertura para lidar com diferentes situações, ampliará sempre o Reino de Deus e mostrará o que é ser sal e luz no mundo. Promover transformação e não incentivar a estagnação deve ser o nosso lema. Não podemos admitir líderes conformados com um mundo que jaz no maligno e que se apresenta como oponente ao Reino de Deus. É momento de usarmos nosso poder de influência e nos unirmos para promover grandes transformações começando por nossa vida pessoal, familiar e eclesiástica. Como você tem usado sua influência? Você está consciente do poder que tem em suas mãos?

Certa vez perguntaram a Martin Luther King por que ele insistia em promover manifestações a favor da igualdade entre brancos e negros nos Estados Unidos. Sua resposta foi simples: “Calado ou falando estou influenciando uma geração. Quero ser conhecido então por uma boa influência...” Que tenhamos a mesma consciência e que, em vez de conformismo, nos unamos àqueles que com muito esforço têm promovido a transformação do mundo através do poder do evangelho.
GUILHERME DE AMORIM ÁVILLA GIMENEZ

  • AUTOR
Guilherme Ávilla Gimenez

Guilherme Ávilla Gimenez

Teólogo, bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil (especialização em Ministério Pastoral) e Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo. Cursou especialização em Ministério Pastoral no Dallas Theological Seminary. É professor na área de Teologia Prática na Faculdade Teológica Batista de São Paulo e pastor titular da Igreja Batista Betel em São Paulo. Sua dissertação de Mestrado tratou da 'Crise no Ministério Pastoral' e se transformou em conferências e palestras apresentadas em várias Igrejas e Seminários Teológicos.

Fonte: Edições Vida Nova

O ser humilde...

Jesus, o servo que esvaziou a si mesmo, o filho que se humilhou e depois foi exaltado. A mensagem é clara: Jesus é exemplo. Dele devemos aprender sobre humildade. Fomos chamados  para sermos iguais a Cristo, como servos, sabendo que no devido tempo a exaltação vem de Deus.

Quais são as características da mensagem ao cristão de todos os tempos?

1)Exortação á humildade (v.3): “Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo”.

Devemos ter em mente que a unidade não se realiza sem a humildade. A humildade nasce por meio de um coração regenerado. Paulo fala das ambições egoístas daqueles que desejavam fazer da igreja um lugar para glória pessoal. O perigo é partir o corpo e formar um tipo de culto á personalidade. Este tipo de coisa é empecilho para o progresso do Reino de Deus. A palavra vanglória significa ter alta opinião de si mesmo. O perigo aqui está em ocupar a posição de Deus. Por isso Paulo dá a ordem: humildade de mente. Alguns podem achar que a humildade é uma demonstração de fraqueza, mas a humildade nos leva a uma atitude de evitar pensar exageradamente bem a nosso próprio respeito. Aquele que não é humilde está sempre tentando impor seus desejos e métodos, sem se importar o que os outros pensam ou sentem.

2) Deveres para com o próximo (v.4): “Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros”.
Este é o aprender a compartilhar. E não se trata apenas de dinheiro, mas aprender a dar tempo, atenção, carinho, simpatia ao próximo. É aprender a ser hospitaleiro, cooperador e auxiliador.

3) Serviço sincero (v.6-8): “Pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.”

Cristo se identificou conosco para que pudéssemos nos identificar com Ele. A humildade certamente tem a ver com um coração simples, não dividido. É também ser eu mesmo, sem máscaras ou tipos. Apenas aprender a ser verdadeiro, deixar fluir aquilo que está em meu interior, sem necessidade de ter medo.

Cristo foi exaltado porque amou a justiça e odiou a iniqüidade. Essa foi a grande característica de sua missão terrena.

Conclusão, a mensagem do evangelho vai além do perdão dos pecados e mudança de endereço da terra para o céu, diz também que o que acontece com o Cabeça, também ocorrerá com o corpo místico, pois nossa identificação com Cristo é completa. Assim, precisamos aprender a respeito destas características do filho/servo de Deus: Saber ser exortado, realizar os deveres para com o próximo, compreender que somos servos de Cristo, e saber que também somos filho exaltados, frutos do amor de Deus.
Pr. Marcos de Almeida

  • AUTOR
Marcos de Almeida

Marcos de Almeida

Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2007), possui graduacão em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2005) e graduacão em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo (2004), atuando principalmente nos seguintes temas: Grego Koinê; teologia bíblica e sistemática, hermenêutica, história do pensamento cristão, teologia da missão integral da igreja, cristianismo e meio ambiente, ecologia e educacão cristã. É um dos pastores da IBEC - Igreja Bíblica Evangélica da Comunhão e é casado com Ivelise.

Fonte: Edições Vida Nova 

quarta-feira, 14 de julho de 2010

A nova perspectiva sobre Paulo: um estudo sobre as ''Obras da Lei'' em Gálatas

RESUMO
 Este artigo* versa sobre a maneira como Paulo tem sido interpretado em sua relação com a lei de Moisés desde a época da Reforma até o presente. O autor se detém particularmente na interpretação mais recente adiantada por estudiosos de renome, de que a igreja tem entendido erroneamente essa relação e que o judaísmo do primeiro século não era legalista, mas uma religião da graça. Paulo nunca teria combatido as obras da lei porque eram legalismo, mas sim por serem identificadores culturais de Israel, o que estabelecia uma distinção entre judeus e gentios. O autor examina as pretensões da chamada “nova perspectiva sobre Paulo” a partir do livro de Gálatas, detendo-se no exame da expressão “obras da lei”. Ele conclui que exegeticamente a “nova perspectiva” não pode apoiar-se nessa carta de Paulo e que a visão tradicional de que o apóstolo combate a salvação pelas obras da lei é a que melhor explica os textos em exame.
PALAVRAS-CHAVE
Lei; Legalismo; Judaísmo; Judeus; Fariseus; Paulo; Obras da lei; Graça; Dunn; Sanders; Gálatas.
INTRODUÇÃO
 Desde o seu início, o cristianismo debate-se com uma questão crucial: qual é exatamente a posição da lei de Moisés dentro da nova dispensação da graça? Não se trata de uma discussão teológica sem valor prático. Várias alternativas práticas dependem das respostas.1

O debate tem se concentrado historicamente nas cartas de Paulo aos Romanos e aos Gálatas, e mais recentemente na expressão “obras da lei” , que ocorre oito vezes nessas cartas: duas vezes em Romanos (3.20,28) e seis vezes em Gálatas (2.16, três vezes; 3.2,5; 3.10). Em todas essas ocorrências, a expressão ocupa posição central no contexto, e é usada com uma conotação negativa. Paulo emprega-a cinco vezes para negar que a justificação pode ser obtida por intermédio da lei (Rm 3.20,28; Gl 2.16). A expressão também é usada negativamente para se referir aos que estão debaixo da maldição da lei (Gl 3.10).

Não é de admirar, portanto, que dentro da interpretação tradicional do cristianismo histórico as “obras da lei” sempre tenham sido encaradas de forma negativa e entendidas como parte da polêmica de Paulo contra o sistema judaico de salvação por obras e méritos humanos. De acordo com essa interpretação, Paulo usa a expressão “obras da lei” para se referir aos atos de obediência à lei de Moisés realizados pelos judeus da sua época, com a intenção de obter méritos diante de Deus. Paulo rejeita as “obras da lei”, em primeiro lugar, porque nunca foi propósito de Deus que a lei servisse de caminho de salvação. Em segundo lugar, porque o homem é totalmente corrompido e fraco, devido ao pecado, e, portanto, incapaz de cumprir as exigências da lei. Assim, para Paulo, ninguém pode se justificar pelas “obras da lei” simplesmente porque ninguém é capaz de fazer tudo o que a lei exige.2
1. O SURGIMENTO DA “NOVA PERSPECTIVA SOBRE PAULO”
 A interpretação tradicional que por muito tempo dominou a área de estudos paulinos começou a ser contestada recentemente, de forma séria, por vários estudiosos.
Veremos a seguir os estudiosos que mais se destacaram como responsáveis pelo surgimento e difusão da “nova perspectiva sobre Paulo”. É importante lembrar que essa não é uma recensão exaustiva da história do surgimento dessa ideia, mas um mapeamento dos seus principais atores.
1.1 E. P. Sanders
 Depois dos artigos de Krister Stendhal e Werner Kümmel3, a obra que possivelmente mais tem contribuído para uma mudança de perspectiva sobre o judaísmo e Paulo é o livro de E. P. Sanders, Paul and Palestinian Judaism4. Partindo de suas pesquisas em material rabínico, Sanders argumenta que o judaísmo da Palestina na época de Jesus e Paulo não era uma religião legalista, preocupada em acumular méritos diante de Deus; antes, era uma religião baseada na graça de Deus revelada nas alianças com Israel, especialmente no Sinai.

Portanto, longe de ser legalista, o fariseu da época de Jesus e de Paulo já se considerava, por nascimento, dentro da graça e da aliança. Ele não praticava as “obras da lei” de forma legalista nem para justificar-se mas simplesmente para manter-se dentro do círculo da aliança. Sanders, então, conclui que o padrão religioso do judaísmo palestino não era “legalismo”, mas “nomismo pactual” (covenantal nomism). Partindo dessas premissas, Sanders afirma em outra obra sua que o assunto discutido em Gálatas “não é se as pessoas podem acumular méritos suficientes para ser absolvidas no juízo; antes, o que se discute é a base sobre a qual os gentios podem ser incluídos no povo de Deus”5.

A tese de Sanders, em que pese a sua influência e impacto, encontrou diversos oponentes e críticos que apontaram as suas diversas e óbvias fraquezas. Primeiro, a distinção que ele faz entre “ser justificado diante de Deus” (que para ele não era a preocupação nem de Paulo nem dos judeus nem de ninguém no século I) e “entrar no povo de Deus” permanece sem uma justificativa clara e sem uma explicação sobre em que essas duas coisas são diferentes.

Segundo, Sanders manipulou as informações recolhidas das fontes rabínicas, pois omitiu as evidências de que o judaísmo palestino era de fato legalista. Terceiro, ele pressupõe que o Judaísmo da Palestina era monolítico, isto é, uma religião cujos ramos e variantes tinham a mesma opinião sobre fé, obras e o pacto – algo que simplesmente não pode ser provado. Por fim, a tese de Sanders acaba pressupondo que esse autor sabe mais sobre o judaísmo do século I do que Jesus e Paulo6. Apesar de tudo, as ideias de Sanders continuam a influenciar até hoje a área de estudos paulinos.
1.2 James Dunn
 Um outro autor que tem contribuído em muito para essa “nova perspectiva sobre Paulo” é James Dunn. A sua abordagem sociológica tem recebido vasta aceitação. Para ele, Paulo ataca as “obras da lei” não porque elas expressam algum desejo de alcançar mérito por parte dos judeus, mas porque entende que elas fazem uma distinção entre os judeus, o povo de Deus da antiga dispensação, e os gentios, a quem o evangelho está sendo oferecido. As “obras da lei”, que Paulo identifica como restritas à circuncisão, às leis sobre alimentos puros e impuros (kashrut) e aos dias especiais do calendário judaico, são emblemas que caracterizam o judaísmo e devem ser rejeitadas porque enfatizam a separação entre judeus e não-judeus, a qual Cristo veio abolir7.

Os trabalhos de Sanders e Dunn, entre outros, têm influenciado de forma decisiva o debate atual acerca da perspectiva de Paulo sobre a lei. Percebe-se uma mudança na abordagem de vários estudiosos na direção de uma percepção mais positiva e menos crítica do judaísmo, dos judeus e da lei8. Como consequência, Paulo tem sido visto de forma negativa, como detentor de uma perspectiva distorcida da religião dos seus pais,9 ou mesmo como mal-intencionado em sua maneira de caricaturar e de condenar o judaísmo.10 E o que é ainda mais sério, a polêmica de Paulo contra as “obras da lei” é lançada no vácuo, já que, segundo a “nova perspectiva”, ninguém no primeiro século estava dizendo que a salvação era por obras, muito menos os judeus. Como explicar, então, o ataque consistente de Paulo contra as “obras da lei”, especialmente em Gálatas? Segundo os exegetas da “nova perspectiva”, ou Paulo entendeu mal o judaísmo da sua época (Schoeps), ou então não estamos entendendo bem Paulo (Sanders, Dunn). Ele realmente nunca foi contra as “obras da lei” como um caminho falso de salvação, como Lutero e outros reformadores disseram, e suas críticas à lei, às “obras da lei” e ao judaísmo precisam ser interpretadas de maneira diferente da tradicional.
2. AS “OBRAS DA LEI” EM GÁLATAS
 A carta chave de todo esse debate é Gálatas, e é nela que veremos se a tese da “nova perspectiva” pode ser substanciada exegeticamente. Na discussão que se segue, estaremos preocupados apenas com uma questão: Por que motivo Paulo rejeita as “obras da lei”? É porque elas fazem parte do sistema legalista do judaísmo da sua época, sendo incompatíveis com a salvação pela graça, mediante a fé em Cristo (interpretação tradicional)? Ou simplesmente porque fazem distinção entre judeus e gentios (nesse caso, a interpretação tradicional estaria precisando de revisão)? Em nossa pesquisa, estaremos interagindo especialmente com as ideias de James Dunn, considerando que elas têm alcançado proeminência entre as demais linhas da “nova perspectiva”.
2.1 A identidade dos oponentes de Paulo
O significado de “obras da lei” , em Gálatas está essencialmente ligado a algumas questões introdutórias sobre a carta, especialmente o propósito dos oponentes de Paulo na Galácia. Segundo Paulo, eles pregavam “outro evangelho” com a intenção de “perverter o evangelho de Cristo” (1.6,7). Aparentemente, esses pregadores estavam minando a autoridade de Paulo como apóstolo, com o objetivo de resgatar os gálatas de debaixo da sua influência e assim ganhar-lhes a atenção (4.17).

A identidade desses oponentes de Paulo tem sido bastante debatida.11 Aparentemente eles pertenciam à facção farisaica da igreja de Jerusalém, conhecida como “os da circuncisão” (οἱ ἐκ περιτομῆς, At 11.2) devido ao seu ensino enfático sobre a necessidade da circuncisão para a salvação dos gentios (At 11.3; 15.1-5; Gl 2.1-5,11-13; 6.12-13).12 A julgar pelo que Paulo menciona, eles haviam obtido algum sucesso (1.6), pois alguns dos gálatas já estavam guardando os dias santos do calendário judaico (4.9) e outros estavam prestes a se deixar circuncidar (5.2-3). Em resumo, eles estavam abandonando o evangelho pregado por Paulo e adotando um tipo de religião judaico-cristã com fortes tendências legalistas, que requeria as “obras da lei” em acréscimo à fé em Cristo (2.16; 3.10; 4.8-11; 5.2-3).

Alguns estudiosos têm sugerido que, exigindo essas coisas, os “judaizantes” estavam tratando apenas da questão de “como se tomar um herdeiro completo de Abraão” (3.29; 4.1-7,30) ou mesmo propondo um caminho mais excelente de perfeição cristã (3.1-5). Dunn tem mesmo avançado a hipótese de que, de acordo com 2.15-16a, o judaísmo do primeiro século sabia que a salvação era pela fé e não por obras da lei e, portanto, o que estava em jogo na Galácia não era a justificação.13 Entretanto, transparece da carta aos Gálatas que, para Paulo, o que estava prestes a ocorrer com os destinatários era uma questão de vida ou morte. Se eles se submetessem às exigências daqueles pregadores, estariam abandonando o verdadeiro evangelho, renegando a graça de Deus, anulando a obra de Cristo, colocando-se debaixo da maldição da lei e decaindo da graça. Pouca dúvida resta de que, para o apóstolo, o que estava sendo ameaçado era o próprio conceito de justificação. É esse o assunto que o preocupa, mesmo quando aborda a questão da herança de Abraão, incluindo a promessa do Espírito (3.6-9, 29; 3.26 com 4.5-7; 3.4; 3.1-2 com 4.6; Ef 1.13).
2.2 O sentido de “lei” em Gálatas
 Esse ponto torna-se ainda mais claro quando observamos em que sentido Paulo usa a palavra “lei” , em sua argumentação contra a mensagem dos seus opositores. Na maioria das 30 vezes em que a usa em Gálatas, ele se refere à lei de Moisés e, dentre essas, 16 vezes a referência é claramente à lei de Moisés como um todo (2.16,19,21; 3.2,5,10,13,17-19; 4.21a; 5.3-4,18; 6.13) e quatro vezes à administração sinaítica do Antigo Testamento (3.23-25; 4.4; 5.14).14 É seguro concluir que Paulo usa o termo “lei” em Gálatas principalmente para referir-se ao corpo de regulamentos dados por Deus a Israel mediante Moisés no Sinai, e como tal ela é abordada pelo apóstolo nessa carta, não em sua função social e nacional como emblema do judaísmo, mas como o conjunto de requisitos legais de Deus em relação aos judeus, os quais os oponentes de Paulo queriam impor aos gentios. Notemos que Paulo menciona a lei apenas no que se refere à relação do homem com Deus (teológica), não quanto à identidade nacional de um povo (sociológica). Assim, é evidente pela forma como Paulo usa , que a expressão “obras da lei” refere-se às obras realizadas em obediência à lei com propósito salvífico.15

É possível que Dunn esteja certo ao afirmar que Paulo, em Gálatas 2.16, tem em mente apenas os preceitos da lei enfatizados pelos seus oponentes, não a lei como um todo. O que estaria em discussão era principalmente a circuncisão (2.3) e as leis cerimoniais de alimentos puros e impuros (2.12). Dunn observa corretamente, em minha opinião, que estes dois preceitos da lei, juntamente com a observância dos dias especiais do calendário judaico (principalmente o sábado), eram as principais características do judaísmo do período do segundo templo, os “emblemas” da religião judaica. Em outras palavras, se perguntassem a qualquer pessoa do primeiro século o que era um judeu, a resposta provavelmente incluiria a menção de todos ou de alguns desses elementos. Não é de admirar, portanto, que os adversários de Paulo estivessem insistindo nesses pontos em sua catequese dos crentes gentílicos da Galácia.
2.3 O sentido de “obras da lei”
 Embora essa sugestão de Dunn seja atraente, é mais provável que Paulo esteja usando a expressão “obras da lei” num sentido mais amplo em 2.16, como uma conclusão generalizada. Longenecker, que prefere essa possibilidade, acha que Paulo usa “obras da lei” para sinalizar “todo o complexo legalista de ideias relacionadas com o adquirir do favor divino pelo acúmulo de méritos mediante a observância da Torá”16.

Essa interpretação mais ampla de “obras da lei” em 2.16 é confirmada em 3.10: “Todos quantos são das obras da lei estão debaixo de maldição, porque está escrito: ‘Maldito todo o que não permanece em todas as coisas escritas no livro da lei para fazê-las’”. Ser das “obras da lei” implica em cumprir toda a lei – e isto representa mais que os mandamentos sobre circuncisão, alimentos e dias santos.

Algumas versões na língua inglesa introduziram em 3.10 a palavra “confiam” antes de “obras da lei” (“malditos os que confiam nas obras da lei”), refletindo o sentido óbvio do pensamento de Paulo (NIV, RSV; ver também Phillips). Mas nem todos estão satisfeitos com essa interpretação. Dunn, de forma característica, entende que os que são das “obras da lei” não são necessariamente os legalistas, mas “todos os que restringem a graça e a promessa de Deus sob aspectos nacionalistas”.17 Outros, como Braswell, tomam a expressão num sentido bem mais amplo, como uma referência aos judeus em geral, visto que, para Paulo, eles eram o único povo debaixo da lei de Moisés.18 Essa ideia, entretanto, minimiza a força da expressão “todos quantos” , que aponta para os que são das “obras da lei” como um grupo específico, em contraste com os que são “da fé&rdquo, no v. 9. Portanto, a referência em 3.10 não pode ser aos judeus como um todo, mas aos que dentre eles confiavam numa observância legalista da lei como caminho para a vida.19

Podemos ainda apelar para outro argumento, que fortalece a interpretação tradicional. A citação de Paulo nesse versículo (3.10) é de Deuteronômio 27.26. Paulo segue aqui a Septuaginta, que adiciona ao texto hebraico original “todo o homem” e “todas” antes de “as coisas escritas no livro da lei”.20 Por que Paulo preferiu seguir a Septuaginta nessa citação e não o Texto Massorético? Provavelmente porque a Septuaginta, ao expandir o texto hebraico durante a tradução, dando-lhe uma ênfase mais universal e qualificando a lei como um conjunto de requisitos, serve melhor ao argumento do apóstolo a esta altura. A citação deliberada da Septuaginta, nesse contexto, é mais uma indicação de que, para Paulo, “os que são das obras da lei” eram os que confiavam na obediência à lei de Moisés como o caminho para obter o favor divino.
2.4 “Obras da lei” em contraste
 Abordemos o assunto de outra perspectiva. Devido ao caráter polêmico da epístola, Paulo sempre contrasta a expressão “obras da lei” com outras expressões, o que indiretamente nos fornece indicações do seu significado para o apóstolo. Em 2.16, por exemplo, Paulo duas vezes coloca “obras da lei” em paralelismo antitético com “fé em Cristo Jesus” O sentido exato dessa expressão tem sido amplamente debatido em vista da sua sintaxe ambígua. Trata-se de um genitivo subjetivo ou objetivo? A maioria dos exegetas tem optado por um genitivo objetivo, “fé em Jesus Cristo”.21 Entretanto, reconhecemos que mesmo a tradução “fé de Cristo Jesus” não alteraria de forma significativa o argumento de Paulo, quando contrasta a expressão com “obras da lei”. A questão permanece a mesma: não é por praticar as obras requeridas pela lei que alguém é salvo, mas pela dependência de Deus e de Jesus Cristo como Salvador.

Tal contraste entre obras e fé, que também aparece em outros escritos de Paulo (ver Rm 2.20,28; 3.8,24; 4.5; 5.1; Ef 2.8-12; 3.2; Fp 3.9), em Gálatas faz parte do contraste maior que Paulo está fazendo entre a mensagem dos seus adversários e o evangelho genuíno que ele prega. Esse contraste é apresentado de várias formas: carne e Espírito (3.2,5; 5.18-25), Agar e Sara (4.21-31), a aliança feita mediante Moisés e a promessa feita a Abraão (3.15-22). Em todos esses casos, temos a impressão de que Paulo está estabelecendo claramente a diferença fundamental entre as duas mensagens: a tentativa de merecer a absolvição divina pela acumulação de méritos em contraste com a recepção simples dessa absolvição mediante a fé em Cristo Jesus. Como parte desse contraste abrangente, as “obras da lei” são entendidas como uma execução legalista dos requisitos da lei de Moisés.

Outra expressão usada por Paulo em contraste com “obras da lei” é “ouvir com fé duas vezes em 3.1-5). Nessa passagem, Paulo argumenta com os gálatas, com base na experiência dos mesmos no passado e no presente, que a recepção do Espírito e a sua atuação poderosa entre eles decorriam não das “obras da lei”, mas do “ouvir com fé” (3.2,5). A expressão ἐξ ἀκοῆς πίστεως também não é fácil de traduzir, porque mais uma vez temos um genitivo que pode ser tanto subjetivo quanto objetivo e duas palavras que podem comportar várias traduções diferentes (embora relacionadas), ἀκοῆς e πίστεως. Entretanto, independentemente da tradução adotada, o argumento de Paulo permanece invariável. Em última análise, o contraste entre “obras da lei” e “ouvir com fé”, conforme Hays afirma, estabelece ambas como alternativas mutuamente excludentes, que destacam a diferença e a justaposição entre a atividade humana e a atividade divina.22

 Em 3.9-10, Paulo coloca “os que são das obras da lei” em correspondência antitética com os que são “da fé” . Essa passagem pertence ao argumento final de Paulo de que Abraão foi justificado pela fé e de que Deus prometeu abençoar todas as nações em sua descendência (3.6-8). Os que são (v. 9) são abençoados com o crente Abraão, ao passo que os que são ἐξ ἔργων νόμου são malditos pela lei. Se pudermos ler aqui o argumento de Paulo em 3.16-18, o contraste entre esses dois grupos toma-se mais claro.23 Os que são “da fé” são justificados como Abraão, sem as “obras da lei”. No caso de Abraão, a lei não havia sido dada ainda. O outro grupo, os das “obras da lei”, justificam-se pela lei de Moisés, que veio 430 anos após Abraão. O contraste é soteriológico. As “obras da lei” aqui, bem como em toda a carta, referem-se a obras realizadas em obediência à lei de Moisés com propósito meritório.

Praticar as “obras da lei” em 2.16 tem ainda um paralelo em 2.21, a “justiça mediante a lei”, que Paulo coloca em irreconciliável oposição aos efeitos da morte de Cristo. O contexto e a semelhança das duas expressões autorizam-nos a estabelecer o paralelo. O resultado é que praticar as “obras da lei”, por inferência, é incompatível com os propósitos da morte de Cristo. Para que a justaposição no v. 21 entre a morte de Cristo e a justiça mediante a lei seja válida, é necessário que esta última seja entendida como atividade humana, padronizada pela lei, desde que a morte de Cristo, como Paulo geralmente indica, é resultado da iniciativa e da atividade de Deus com o objetivo de salvar pecadores (Gl 4.4-5; Ef 1.7-8; Cl 1.19-20; Rm 3.25-26).
CONCLUSÃO
 Esperamos que nossa rápida pesquisa tenha demonstrado que o ataque de Paulo às “obras da lei” em Gálatas faz parte da sua polêmica mais geral contra o sistema legalista e inadequado do judaísmo palestino como uma religião de méritos e em direta oposição ao evangelho da graça revelado em Cristo, conforme tradicionalmente se vem afirmando. Embora a ênfase de Dunn na função sociológica da lei nos desafie a ampliar nossa interpretação e incluir também este aspecto na polêmica de Paulo contra as “obras da lei” em Gálatas, sua tese fundamental, bem como muitas teses da “nova perspectiva” sobre o judaísmo e Paulo, não pode ser aceita senão mediante severas restrições e qualificações. Portanto, desde que não conseguimos ser convencidos por elas, resta-nos permanecer com a interpretação tradicional, que, mesmo parecendo antiquada e indefensável para muitos, continua refletindo mais exatamente a intenção de Paulo ao afirmar que a salvação é pela fé, sem as “obras da lei”.

A “nova perspectiva” sobre Paulo continua a influenciar grandemente os estudos paulinos. Inclusive estudiosos evangélicos têm abraçado alguns de seus postulados, embora não cheguem ao ponto de considerar Paulo como equivocado ou inconsistente. Partindo da nossa investigação acima, podemos oferecer uma crítica abordando pelo menos dois pontos.

Primeiro, a “nova perspectiva” acaba atacando a autoridade das Escrituras. Na verdade, é uma “velha perspectiva” sobre as Escrituras. Ela acaba por presumir com relação ao Novo Testamento o mesmo ceticismo histórico que tem marcado os estudos críticos modernos. Ou seja, os escritos do Novo Testamento devem ser tratados como qualquer outro livro de religião, e seus escritores como os demais autores humanos. Admite-se a priori que poderiam ter cometido erros históricos, passado informações falsas e caído em frequentes contradições. Nem todos os que aceitam algumas das ideias da “nova perspectiva” são necessariamente liberais em sua maneira de tratar as Escrituras. Ao fim, porém, temos de escolher entre o quadro que elas nos dão do judaísmo e dos fariseus do século I e aquele reconstruído por Sanders e demais estudiosos que o seguem.

Segundo, a “nova perspectiva” deixa os opositores de Jesus e Paulo sem identificação. Embora o trabalho de demolição feito pelos críticos da “nova perspectiva” seja bem apresentado e desenvolvido, pouco ou nada tem sido erguido sobre as ruínas. A reconstrução que fazem de Jesus, de Paulo e do judaísmo daquela época acaba não convencendo ninguém a não ser os seus proponentes. Não há unanimidade entre eles, por sinal. James Dunn criticou duramente o Jesus reconstruído por Sanders.
ABSTRACT
This article deals with the Christian church’s understanding of Paul and his relation to the law of Moses, from the Reformation to the present. The author focuses at greater length on a recent understanding advanced by renowned scholars that the church has understood erroneously this relationship. First century Judaism was not a religion of works but of grace. Paul never attacked the works of the law because they were legalistic but because they were identifying markers of first century Judaism, thus establishing a distinction from the Gentile Christians. The author examines “works of the law” in the letter to the Galatians in order to verify the claims of the so called “new perspective on Paul”. He concludes from an exegetical point of view that the “new perspective” cannot be supported from Paul’s writing to the Galatians and also that the traditional view of historical Christianity, that Paul is struggling against salvation by works, is still the best explanation for his writings on the subject.
KEYWORDS
Law; Legalism; Judaism; Jews; Pharisees; Paul; Works of the law; Grace; Dunn; Sanders; Galatians.

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* O presente artigo é baseado no capítulo de sua autoria, LOPES, Augustus Nicodemus. Um Estudo sobre as Obras da Lei em Gálatas. In: PIERATT, Alan (org.). Chamados para servir: ensaios em homenagem a Russell P. Shedd. São Paulo: Vida Nova, 1994, p. 65-73.

1 Um exemplo bem próximo de um estudioso que partiu de detalhada análise exegética da Escritura para abordar a questão prática e urgente do legalismo dentro do evangelicalismo brasileiro é o Dr. Russell Shedd, em seu livro SHEDD, Russell P. Lei, graça e santificação. São Paulo: Vida Nova, 2000.

2 Essa interpretação tradicional, de certa forma, está representada no liberalismo luterano alemão. Rudolph Bultmann argumenta que Paulo fala de forma negativa sobre a lei e sobre as “obras da lei” porque ambas levam à autoconfiança e à justiça própria. Até os esforços para guardar a lei, segundo Bultmann, são pecaminosos em si mesmos. Ver BULTMANN, R. Theology of the New Testament. New York: Scribner’s, 1951, vol. 1, p. 262-267. Vários outros exegetas têm seguido Bultmann, como Käse- mann e Hubner. Veja a crítica de Thomas R. Schreiner a essa linha de pensamento em SCHREINER, Thomas R. Works of the Law in Paul. Novum Testamentum. 33:217-44, especialmente p. 238-421.

3 Krister Stendahl lançou a famosa tese de que a interpretação tradicional usa os óculos de Lutero para interpretar Paulo; ver STENDHAL, Krister. Paul among Jews and Gentiles. Augsburg: Fortress Press, 1976, p. 78-96. Para uma crítica penetrante das suas idéias, consulte SPY, John M. ‘Paul’s Robust Conscience’ Re-examined. New Testament Studies 31:161-188. Ver também KÜMMEL, Werner O. Römer 7 und das Bild des Menschen im Neuen Testament: Zwei Studien. In: Theologische Bucherei, vol. 53. Kaiser, 1974. Veja uma resenha dessa obra pelo próprio Stendhal em Sartryck 25:59-63. Kümmel questionou seriamente a interpretação tradicional de Romanos 7 como uma autobiografia de Paulo e também influenciou profundamente os estudos posteriores.

4 SANDERS, E. P. Paul and Palestinian Judaism: a comparison of patterns of religion. Augsburg/ London: Fortress Press/SCM, 1977. Veja porém um sumário das diferenças básicas entre a soteriologia judaica e o ensino de Paulo na avaliação do livro de Sanders por COOPER, Karl T. Paul and Rabbinic Soteriology. Westminster Theological Journal 44:123-39, especialmente p. 137.

5 SANDERS, E. P. Paul, the law and the Jewish people. Augsburg: Fortress, 1985, p. 18. Em português, ver SANDERS, E. P. Paulo, a lei e o povo judeu. São Paulo: Paulus, 1990. Para uma avaliação dessa obra, ver SCHREINER, Thomas R. Paul and Perfect Obedience of the Law: An Evaluation of the View of E. P. Sanders. Westminster Theological Journal, 47:245-78. Ver ainda as críticas de SILVA, Moisés. The Law and Christianity: Dunn’s New Synthesis. Westminster Theological Journal 53:339-53; SCHREINER, Works of the Law in Paul, p. 217-44; GUNDRY, R. H. Grace, Works and Staying Saved in Paul. Biblica 66:1-38.

6 Ver mais críticas do ponto de vista conservador em SILVA. The Law and Christianity: Dunn’s New Synthesis, p. 339-353; SCHREINER. Works of the Law in Paul, p. 217-44; GUNDRY. Grace, Works and Staying Saved in Paul, p.1-38.

7 DUNN, James D. G. The New Perspective on Paul. Bulletin of John Rylands Library 65:94- 122; Works of the Law and the Curse of the Law. New Testament Studies 31:523-42. Ver ainda DUNN, James D. G. (ed.). Paul and the Mosaic Law. Grand Rapids: Eerdmans, 2000; DUNN, James D. G. A teologia do apóstolo Paulo. São Paulo, Paulus, 2003.

 8 Para um resumo dos avanços mais recentes ver MOO, Douglas. Paul and the Law in the Last Ten Years. Scottish Journal of Theology 40:287-307; SCHREINER, Works of the Law in Paul, p. 217- 44; BARCLAY, John M. O. Paul and the Law: Observations on some Recent Debates. Themelios 5:15; e Obeying the Truth: A Study of Paul’s Ethics in Galatians. In: RICHES, John (ed.). Studies of the New Testament and its world. London: T & T Clark, p. 1-6. Ver também o excelente trabalho de Martin McNamara sobre como a crítica evangélica tem abordado o judaísmo deste os tempos patrísticos: MAC- NAMARA, Martin. Palestinian Judaism and the New Testament. Delaware: Michael Glazier, 1983, p. 17-44.

9  Esse conceito é especialmente defendido pelo conhecido estudioso judeu do Novo Testamento H. J. Schoeps, o qual argumenta que Paulo basicamente se confundiu em sua avaliação do judaísmo de sua época. SCHOEPS, Hans-Joachim. Paul – the theology of the apostle in the light of Jewish religion history. London: Lutterworth, 1961, p. 65-77, 171-83, 213-17.

10  H. Räisänen representa essa posição. Ele acredita que a avaliação de Paulo sobre a lei é incon- sistente e contraditória. Ver RÄISÄNEN, H. Paul’s Theological Difficulties with the Law. In: Studia Bíblica III. LIVINGSTONE, E. A. (ed.). Journal of Studies for the Old Testament 1980, p. 301-320.

11 Ver a revisão da história da interpretação desse ponto até a década de 80 por BRINSMEAD, Bernard H. Galatians – Dialogical Response to Opponents. In: SBL Dissertation Series. BAND, W. (ed.), Scholars, 1982, p. 9-22.

12  Ver SCHOEPS, Paul – the theology of the apostle in the light of Jewish religion history, p. 65-77; 171-83; 213-17. Em minha opinião, esse proselitismo do partido farisaico da igreja de Jerusalém era exe- cutado sem apoio formal dos apóstolos Pedro e Tiago (ver At 15.7-20,24; 11.12-13). A declaração de Paulo de que alguns “da parte de Tiago” vieram a Antioquia (Gl 2.10-13) não é suficiente para estabelecer uma associação formal entre os judaizantes e Tiago e não tem recebido a mesma interpretação dos estudiosos.

13  DUNN, The New Perspective on Paul, p. 106.

14  Outras classificações têm sido sugeridas. Ver, por exemplo, MOO, Douglas. Law, “Works of the Law” and Legalism in Paul. Westminster Theological Journal 45:73-100. T. David Gordon afirma que o elemento unificador em todas essas ocorrências é o conceito da lei como “administração sinaítica”, que funciona como um amplo “guarda-chuva” para todos os subconceitos. Ver GORDON, T. David. A Note on paidagwgo.j in Gal. 3.24-25. New Testament Studies 35:150-54, e também GORDON, T. David. The Problem at Galatia. lnterpretation 41:32ss.

 15 C. E. Cranfield sugere que Paulo usa “lei” no sentido de “legalismo”. Ver seu artigo CRANFIELD, C.E. St. Paul and the Law. Scottish Journal of Theology 17:43-68 e também FULLER, Daniel. Gospel and Law: Contrast or Continuum? The Hermeneutics of Dispensationalism and Covenant Theology. Grand Rapids: Eerdmans, 1980, p. 89-102.

16  LONGENECKER, Richard N. Galatians. In: Word Biblical Commentary. Dallas: Word Books, 1990, p. 86.

17 DUNN, Works of the law and the curse of the law, p. 536. Ver também DONALDSON, Terence. The Curse of the Law and the Inclusion of Gentiles: Gal 3:13-14. New Testament Studies 32:94-112.

18  BRASWELL, Joseph. The Blessing of Abraham Versus the Curse of the Law – Another Look at Gl 3.10-13. Westminster Theological Journal 53:73-91.

 19 Este é também o pensamento de Longenecker. Ver Galatians, 116.

 20  O texto hebraico reza taZhO -; hrA” Th; yrbE D. -I ta, ~yqyi -” al{ rva, ] rWra,’ “Maldito o que não confirmar as palavras desta lei”, enquanto que a LXX expandiu o sentido ao traduzir como Ἐπικατάρατος πα̂ς ἄνθρωπος, ὃς οὐκ ἐμμενει̂ ἐν πα̂σιν τοι̂ς λόγοις “Maldito todo homem que não permanecer em todas as palavras...”.

21 Para um resumo dos debates ocorridos à época do assunto, ver CAMPBELL, Douglas A. The Rhetoric of Righteousness in Romans 3.21-26. In: JSNT Supplement Series, JSOT,1992, 65:58-62. Ver também a interessante sugestão de HAYS, Richard B. The faith of Jesus Christ – an investigation of the narrative substructure of Galatians 3.1-14. In: SBl Dissertation Series Scholars, 1983, 56:142.

22  Veja The Faith of Jesus Christ, p. 147.

23 Para Hansen, o contraste em 3.1-4.11 pertence ao clímax do padrão quiástico da passagem. Ele pressupõe a sugestão de N. Dahl de que a carta aos Gálatas segue o padrão das cartas de repreensão e de solicitação, e também a tese de J. Bligh de que Gálatas é estruturada de acordo com um padrão quiástico (HANSEN, O. Walter. Abraham in Galatians – epistolary and rhetorical contexts. In: JSNT Supplement Series, JSOT, 1989, 29:17).

Sugestão de leitura:

Lei e Graça em Paulo: Uma resposta à polêmica em torno da doutrina de justificação de Peter Stuhlmacher

  • AUTOR
Augustus Nicodemus

Augustus Nicodemus

É paraibano e pastor presbiteriano. É bacharel em teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte (Recife), mestre em Novo Testamento pela Universidade Reformada de Potchefstroom (África do Sul) e doutor em Interpretação Bíblica pelo Westminster Theological Seminary (EUA), com estudos no Seminário Reformado de Kampen (Holanda). Foi professor e diretor do Seminário Presbiteriano do Norte (1985-1991), professor de exegese do Seminário JMC em São Paulo, professor de Novo Testamento do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (1995-2001), pastor da Primeira Igreja Presbiteriana do Recife (1989-1991) e pastor da Igreja Evangélica Suiça de São Paulo (1995-2001). Atualmente é chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pastor auxiliar da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro. É autor de vários livros, entre eles O que você precisa saber sobre batalha espiritual (CEP), O culto espíritual (CEP), A Bíblia e Sua Familia (CEP) e A Bíblia e Seus Intérpretes (CEP). É casado com Minka Schalkwijk e tem quatro filhos Hendrika, Samuel, David e Anna

Fonte: Edições Vida Nova

segunda-feira, 12 de julho de 2010

A Catequese e o Segundo Mandamento

Introdução

Católico a 19 anos, de família tradicionalmente católica, desde criança fui instruído no "Catecismo Católico". Logo na infância, toda a criança é "obrigada" (nunca vi nenhuma criança que foi por livre e espontânea vontade) por seus pais a ingressar no estudo doutrinário, o qual o primeiro passo é a "Primeira Comunhão". Assim aconteceu comigo. Após algum tempo aprendendo as doutrinas católicas sobre os mais diversos assuntos, tomei minha primeira "hóstia", o corpo de Cristo transubstanciado, segundo a Teologia Romanista. Em seguida, fiz a "Perseverança", próximo passo rumo à "Crisma" ou Confirmação, quando o candidato é selado com o Espírito Santo, celebração necessária como um complemento da Regeneração Batismal efetuada à criança. Até então, para mim, tudo normal. Hoje, aos 21 anos, um ano de verdadeira conversão ao Senhor Jesus Cristo, leitor assíduo da Palavra de Deus, vejo que Primeira Comunhão, Crisma, Batismo Infantil e muitas outras coisas mais carecem de bases bíblicas sólidas e não podem ser respondidas simplesmente pela "Tradição", pois entram em conflito direto com os ensinamentos claros da Bíblia Sagrada.

Assim como eu, quando uma criança nasce, não escolhe ser católico, se torna por natureza, por hereditariedade, não por escolha pessoal e própria. Não é à toa que o Catolicismo mundial responde por número excedente aos um bilhão de adeptos... Assim é fácil! Grande parte dos católicos "cresce católico" e vai frequentemente à Igreja, sem ao menos concordar com as mais simples doutrinas bíblicas e muito menos com as decisões da Igreja católica. Duvida? Pare dez "católicos" na rua, pergunte a eles sobre questões como aborto, ou mais especificamente sobre a decisão do Vaticano sobre o uso de preservativos depois me diga o resultado... Falo isso porque convivo com isso diariamente. Assim se formam os "Católicos Universais", a maior representação do Cristianismo (supostamente, pois na realidade...) na face da Terra. Desafio um católico sincero a me provar que, majoritariamente (existem exceções, é claro) estou errado.

O Segundo Mandamento

Senti a necessidade de escrever alguma coisa do gênero quando, logo depois de convertido, sentei-me a comparar o Livro1 o qual utilizei na minha "Crisma", com a Bíblia Sagrada. Parei na página 35, sexto capítulo intitulado: Os Mandamentos: Nova Aliança. Encontrei o Seguinte texto transcrito:

"Os Dez Mandamentos da Igreja Católica apresentam os Mandamentos do Decálogo de Moisés em forma resumida:

Amar a Deus sobre todas as coisas
Não tomar Seu santo nome em vão
Guardar domingos e festas de guarda
Honrar pai e mãe
Não matar
Não pecar contra a castidade
Não furtar
Não levantar falso testemunho
Não desejar a mulher do próximo
Não cobiçar as coisas alheias."

Abri então a Bíblia no Livro do Êxodo 20:1-17:

Então falou Deus todas estas palavras, dizendo:

2 Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.
3 Não terás outros deuses diante de mim.
4 Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.
5 Não te encurvarás diante delas, nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.
6 e uso de misericórdia com milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos.
7 Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente aquele que tomar o seu nome em vão.
8 Lembra-te do dia do sábado, para o santificar.
9 Seis dias trabalharás, e farás todo o teu trabalho;
10 mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o estrangeiro que está dentro das tuas portas.
11 Porque em seis dias fez o Senhor o céu e a terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou; por isso o Senhor abençoou o dia do sábado, e o santificou.
12 Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá.
13 Não matarás.
14 Não adulterarás.
15 Não furtarás.
16 Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.
17 Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.


Para minha surpresa, os mandamentos da Catequese Católica não eram os mesmos da Bíblia Sagrada. Não contente com a pesquisa, julgando eu que o livro fosse "ultrapassado" (embora essa minha primeira impressão fosse completamente descabida, uma vez que as doutrinas bíblicas não mudam), supondo que a igreja tinha corrigido o erro, pesquisei na Internet e encontrei alguns sites (2) oficiais de Catecismo Católico com a mesma descrição doutrinária. Conclui então que havia uma séria discrepância. Abri então minha Bíblia Católica (3), que comprei recentemente com o objetivo de ler os livros apócrifos, e li o devido trecho da Escritura que era exatamente igual a minha Bíblia. E mais: ao lado de cada mandamento, o seu respectivo número assinalado em algarismos romanos, inclusive o segundo mandamento!!! Pergunto eu: se os teólogos romanos insistem em dizer que "... a questão já foi exaustivamente justificada ao longo dos séculos pela igreja...", (4) porque então não reproduzem corretamente a porção do texto bíblico referente? Porque adulteram e contradizem a própria Bíblia Católica, incultando na mente dos jovens adolescentes, mandamentos que não correspondem a Palavra de Deus (uma vez que o segundo mandamento é excluído e o décimo repartido em dois)? Imagens...

Questão já amplamente discutida nos campos teológicos, não me colocarei aqui a repetir argumentos redundantes e já demonstrados de diversas formas. Desejo apenas contra - argumentar as afirmações contidas na matéria "As Imagens Permitidas" do site citado anteriormente (5), bem como algumas outras afirmações de alguns sites de apologética católica que não correspondem a verdade. Depois de colocar lado a lado versículos como Êxodo 20:4, Êxodo 25:18 e Números 21:8-9, o autor afirma que a proibição das imagens não foi feita de forma absoluta e aponta para a ordem do próprio Deus quanto aos querubins da arca e da serpente de bronze. É do conhecimento do leitor, bem como do próprio autor da matéria, que a serpente, assim como a arca da aliança forma "tipos". Na Nova Aliança os tipos foram cumpridos e revelados (João 3:14, Hebreus 9) pelos seus antítipos correspondentes. Sendo as citações das imagens feitas, tipos apontando para uma revelação espiritual profundamente mais elevada, o argumento católico de "permissão" divina para confecção de imagens pode se conservar? É claro que não! Qualquer católico sincero sabe que a confecção da serpente de bronze foi um fato único, não há outro caso semelhante no Velho Testamento. E, como tudo na Bíblia, tinha um propósito, cumprido na crucificação de Cristo. Se pudéssemos utilizar tipos do Antigo Testamento para fundamentar doutrinas ou mesmo práticas da Igreja Cristã, será que poderíamos então tornar sagrado um simples pedaço de pão (não estou falando da hóstia, estou falando de um pão francês comum), como foi o maná para os israelitas guardado dentro da arca da aliança? Ou será que poderíamos pegar uma vara de árvore qualquer e santificá-la como a vara de Arão (Hebreus 9:4)? Todas essas considerações e muitas outras mais estão no mesmo contexto de Hebreus 9:1-7. Afinal de contas, tanto o pão, como a serpente no deserto apontam para Cristo, certo? O pão simboliza Cristo, nosso pão vivo descido do céu, o único capaz de saciar a fome espiritual do homem (não transubstanciado numa hóstia, mas vivo no coração de cada cristão genuíno e no governo de tudo o que acontece no Universo) -João 6:35-; a serpente simboliza Cristo, levantado numa cruz para a salvação dos homens -João 3:14-. Será que poderíamos pegar um fato isolado da história vetero-testamentária para justificar as práticas da atual Igreja Cristã? Ainda mais os tipos, que, uma vez revelados foram abolidos por serem "sombras" (Hebreus 8:5; Hebreus 10:1) do que agora vivemos?

Muitos dos fatos decorridos durante a história do povo de Israel (aliás, todo o Velho Testamento) teve essa finalidade, ou seja, apontar para o Cristo de Deus que viria ao mundo. De uma forma ou de outra, esses acontecimentos que o próprio Deus ordenou não são "permissões" para a confecção de imagens, mas fatos em que uma escultura seria simplesmente utilizada para tipificar o Santo de Israel e seus ofícios neo-testamentários, embora o povo não entendesse. Porque então,sendo a permissão não absoluta, não pôde ser desfrutada pelo povo de Deus pelos seus mais de dois milênios de história? Porque não confeccionaram eles uma "...iconografia que transcrevesse pela imagem a mensagem que a Sagrada Escritura transmite pela Palavra..." (6). Certamente um católico consciente dirá que o povo de Israel estava cercado de nações pagãs e isso seria um convite à idolatria. Mas não vivemos nós, não no meio de nações, mas num mundo globalizado onde o paganismo impera em todos os meios de comunicação e sob todos os tipos de influência? Não está o Ocidente cada vez mais orientalizado com suas práticas de yoga, suas meditações transcedentais entre muitos outros fatores, como a maior divulgação do carma reencarnacionista de Alan Kardec em todo o horário nobre da televisão brasileira? O próprio autor da matéria admite que no Catolicismo Popular existem "exageros de devoção" (7) às devidas imagens. Porque então fazer uso delas? Qualquer católico sincero terá que admitir que um desses exageros poderá ser visto nas declarações de qualquer um dos romeiros do Círio de Nazaré, ou de uma procissão do Pe. Cícero no Nordeste brasileiro. Se o que acontece com aqueles pobre católicos, "mal informados", segundo os católicos "conscientes", não puder ser chamado de idolatria, não sei mais qual será a definição para a palavra...

Prosseguindo no raciocínio, o autor afirma que, quando o povo começou a "idolatrar" a serpente de bronze, ela foi destruída, conforme II Reis 18:4, onde os israelitas queimavam incenso à ela. Será mera coincidência não poder ver no fato, um grave semelhança com a Campanha da Mãe Peregrina de Schoenstatt, quadro de Maria com Jesus no colo que percorre as casas das cidades tradicionalmente católicas sendo rezado um terço na frente dela e colocado uma vela para queimar diante da figura? Ou mesmo numa simples missa, onde as imagens estão dispostas e, constantemente são queimadas velas e velas diante delas? Não me diga que estou enganado, pois, por dezenove anos fui católico, participei dos terços da Mãe Peregrina e fui às missas todos os domingos.Também não estou tentando ser implicante, apenas comparando fatos...

Logo em seguida, o argumento Católico para prostra-se diante das imagens é, a meu ver, o mais frágil. Relata o autor da matéria: "... não podemos acusar o patriarca Abraão de idólatra quando tendo levantado os olhos, apareceram-lhe três homens que estavam em pé junto dele; logo que os viu, correu da porta da tenda ao seu encontro, e prostrou-se por terra... (Gênesis 18:2)" (8). Não é preciso ter um conhecimento muito profundo de teologia para saber que entre o povo hebreu havia "costumes" e "hábitos" característicos e distintivos deles. Impressiona-me o autor não ter notado esse fato. A hospitalidade hebraica era apuradíssima. Quando um viajante vinha à casa de uma pessoa, essa lhe oferecia da melhor comida, lavava o pé (ou pelo menos oferecia água e toalha) do visitante e fazia uma série de cortesias que hoje em dia não se vê mais, inclusive a segurança total do hospede acolhido na casa (Gênesis 19:8). Já no tempo do Novo Testamento esse comportamento era estranho ao povo judeu. Ajoelhar-se perante outro homem era asperamente repugnado por ser um ato que simbolizava sujeição de autoridade ou admitia que o indivíduo queria prestar honra "extra humanas" à pessoa perante a qual se prostrava. Não foi exatamente o que aconteceu com Pedro e Cornélio em Atos 10:25? Não é isso demonstrado pelos escritos dos Pais Apostólicos? Sinceramente, justificar um ato que uma igreja supostamente cristã pratica através de um ato de hospitalidade de 2000 anos atrás é a mesma coisa de afirmar que as pessoas devam hoje em dia, se cumprimentar com um beijo na barba, como faziam os antigos hebreus, pois ambos os fatos estão no mesmo contexto bíblico. Absurdo não é? Aliás, como pode ser ilustrado esse fato, ao achegar-se Abraão aos seus visitantes, prostrado em terra atribui ao visitante o título de "meu senhor", embora não soubesse ser uma teofania diante de si.Qualquer pessoa que resolver pesquisar um escritor profano que trate do comportamento do povo neotestamentário, ou mesmo as cartas apostólicas dirigidas as Igrejas, verá logo que chamar uma pessoa de "senhor" era atribuir a ela um título de Deus (Kirios). Não foi exatamente o que aconteceu com Abraão? Pergunto eu: Abraão teve a intenção de chamar o hóspede de "meu Deus?" Absolutamente! Isso, bem como o ato de prostrar-se em terra, fazia parte do comportamento do povo hebreu e que agora, como já nos tempos da Nova Aliança é completamente repugnado pelos cristãos verdadeiros. Não temos um "senhor" muito menos uma "senhora" mas temos a Jesus Cristo como Senhor absoluto (Filipenses 2:11) das nossas vidas, completamente. Não nos prostramos diante a nada nem a ninguém, pois o único digno de que nós nos prostremos diante dele em oração é Deus e Deus não pode ser simbolizado, embora os católicos afirmem que "... as fontes disponíveis tornaram possíveis a representação de Deus Filho... " (9). Você acredita em Papai Noel? Então acredite nessa afirmação, pois nem mesmo os manuscritos bíblicos primordiais puderam ser guardados até os dias de hoje e se você quer acreditar numa tradição que transmitiu, ainda que não seja de maneira fiel o rosto do Mestre, acredite então no recurso eletrônico que o Fantástico usou algum tempo atrás para reproduzir o rosto de Cristo, afinal, a probabilidade é semelhante, ou seja, improvável, senão impossível.

Não me colocarei aqui a discutir os termos Veneração, Devoção e Adoração, pois já foi amplamente divulgado que na prática, tudo isso resulta em um só fim: IDOLATRIA. Se estou mentindo, cabe ao Catolicismo dar uma catequese mais apurada aos nossos irmãos católicos nordestinos, principalmente, do que deve ser feito na Dulia, Hiperdulia e Latria. Caberia aqui ainda uma citação do próprio site CACP, onde um fato bem observado pode ilustrar a confusão dos termos (o que é relativo nada mais nada menos do que ao "santo padre", o Papa):

37. Durante a festa dedicada a João Paulo II em outubro de 1997 no Maracanã, foi dedicado ao Pontífice uma canção que dizia; "Ave Maria, NOS SEUS ANDORES, rogai por nós pecadores", interpretada por Fafá de Belém. Tal canção não seria digna de grave censura, já que sabemos que estátuas não rogam e nem Maria vive em andores, perguntaria se o que caracteriza a idolatria não é precisamente o fato de ver o símbolo como sendo o próprio simbolizado? (10).Acho que a questão foi esclarecida e os mais desavisados poderão pensar sobre os frágeis argumentos da Tradição Católica, revestida de Bíblia e ler na própria Palavra a Verdade, tirando suas próprias conclusões. Penso ser meio difícil um leitor sincero, após ler o Velho e Novo Testamento, justificar as práticas paganizadas da Igreja Católica com argumentos "bíblicos".

Protestantes...

Com o atual sincretismo religioso que impera no Brasil, estamos sendo tachados de "perseguidores", "os que odeiam os católicos", ou em suma, "os anti-católicos (11)". Não acho isso estranho, pois já fui católico e tive a mesma opinião. Quero, porém, dizer que nenhum protestante, evangélico, ou seja, Cristão Autêntico, odeia os católicos, espíritas, muçulmanos, judeus, umbandistas, satanistas, ateus, ou qualquer outra espécie de religioso que existe. O que fazemos simplesmente (digo isso porque faz apenas pouco mais de um ano que saí da Igreja Católica) consiste em que, uma vez tendo pura e simplesmente a Verdade da Palavra em nossos corações, muito mais do que em nossos intelectos, queremos de qualquer maneira, lutar para que pessoas não caiam nas mãos do inimigo através da própria religião, que o homem deturpou por influência do Maligno para sua própria perdição. Hoje em dia, a Inquisição Católica que matou milhares de inocentes ao pregar o Evangelho pela espada (o que pode ser chamado de anticristão), deu lugar à cortesia, a liberdade religiosa. É certo que, como dizem os católicos, temos a liberdade de ter a religião que nos agrada. Contudo, em se tratando de religião, não estamos falando de uma compra no supermercado, estamos falando de ETERNIDADE. Se somos sal e luz, se somos ministros do Evangelho, ficaremos então calados em nome da liberdade religiosa? Algum tempo atrás, assistindo televisão, um padre aconselhou uma pessoa ao telefone, que, segundo relato, estava sofrendo muita "pressão" dos evangélicos em sua casa: "aquele que vem com pressão não é de Deus e sim do inimigo, porque, se fosse de Deus, viria com amor". Pergunto eu: acaso Paulo não amava a Igreja de Corinto ao escrever a Primeira Epístola tão asperamente repreendedor (I Coríntios 3:1)? Amava sim e isso é afirmado uma dezena de vezes na sua segunda carta (II Coríntios 2:4). A perseguição que outrora o Catolicismo empregou para ganhar o mundo, hoje em dia dá lugar ao exclusivismo: "não costumamos falar mal de ninguém" freqüentemente se ouve da boca dos padres... Nós não falamos mal. Falamos o que é bíblico, e o que é bíblico tem que ser falado doa a quem doer. Não se pode crer em fantasias humanas criadas como Assunção de Maria, Imaculada Conceição de Maria, Intercessão dos Santos, e muitas outras coisas que o Romanismo traz e dizer que mesmo assim se crê na Bíblia, embora as argumentações "bíblicas" para tais doutrinas são excessivamente frágeis e difíceis de ser compreendidas verdadeiramente. As palavras de Deus foram fechadas de modo definitivo e plenário no Livro do Apocalipse. À semelhança da "Tradição" farisaica, a Tradição Católica dá ênfase e cria "estórias" para ludibriar o povo e para a própria perdição revestindo tudo de interpretações absurdas da Palavra de Deus como as quais foram demonstradas acima. E os católicos que nascem e crescem católicos, a semelhança da cronologia demonstrada na Introdução desse trabalho, concordam com tudo por comodismo ou discordam por opiniões pessoais, sem ao menos saber o que diz a Palavra de Deus.Quanto às doutrinas "bíblicas" que o catolicismo criou, como por exemplo, a doutrina do purgatório, como disse o autor do site descrito em nota "... a própria Sagrada Escritura ensina que existem céu, inferno e purgatório e outros estados ou lugares intermediários . Por favor, deixo abaixo o meu e-mail para que me mostre onde, nos Livro Bíblicos (apócrifos não valem!) algum lugar menciona Purgatório ou os lugares intermediários. Só peço uma coisa: não me venha com uma interpretação grotesca como aquele feita no caso de Abraão!!!

O povo é enganado com semelhantes afirmações: "a Igreja Católica foi a Igreja que Jesus Cristo fundou em Mateus 16:18", "a Igreja Católica é a única instituição humana que tem 2000 anos de existência" e muitas outras... Falo isso porque ouvia isso semanalmente e me gabava por fazer parte de tão grande privilégio. Como quase todo católico, comodista, não procurava saber se o que ouvia era verdade ou não. Era um néscio, um insensato. Católicos amados, não sejam como eu era, questionem, não acreditem nas coisas "porque o padre falou". Insisto: se algum católico bem informado tiver algum documento dos Pais da Igreja que concorde com as doutrinas atuais da Igreja Católica e afirme que ela foi fundada no ano 50 ou mesmo no ano 100 d.C.. mande um e-mail a mim e ao CACP.

Conclusão:
Se a "questão já foi tão amplamente discutida e esclarecida" volto a perguntar: porque não reproduzir a porção do texto sagrado de Êxodo 20:1-17 da maneira como ele se encontra transcrito nas Bíblias Católicas? Porque ensinar os jovens desde cedo a "decorar" os mandamentos como eu decorei, sem ser os legítimos e genuínos mandamentos de Deus? Se não há um interesse por trás de tudo isso, há pelo menos um grande sofisma, um embuste utilizado para sustentar a base de uma teologia que não encontra apoio sólido na Bíblia nem na prática dos membros das Igrejas Neotestamentárias Primitiva (antes da "conversão" de Constantino ao Cristianismo).

Nós, os crentes em Cristo Jesus, que temos nossa Certeza de Salvação (João 10:27-30), que temos nossa fé firmada única e exclusivamente no Deus que fez os céus (Genesis 1:1) e a terra e no único mediador entre Deus e os homens (I Timóteo 2:5), oremos a Deus, para que nossos missionários nacionais, estaduais e regionais encontrem corações abertos e sedentos pela segurança que somente o verdadeiro crente em Cristo Jesus tem de um dia estar com Ele no Paraíso. Peçamos, intercedendo a Deus, que ele quebrante os corações para ouvir a Palavra de que as pessoas não resistam ao Espírito Santo de Deus que deseja que todos se salvem. Trabalhemos com afinco e dedicação e com amor infinito pelas almas que se embrenham pelos caminhos que o inimigo usa atualmente para atrair o maior número de pessoas: a falsa religião. Que nós possamos dizer, incessantemente, que só Jesus Cristo salva pelo seu sacrifício na cruz do calvário, por meio da fé depositada nessa obra (Atos 16:31; Efésios 2:8-9), contrariando a apostasia católica demonstrada em perguntas retóricas tais como: "...onde a Bíblia afirma que a salvação é atingida somente pela fé? (12) Leitor católico, não se irrite comigo. Leia a Bíblia e tire suas próprias conclusões... Aposto que lendo apenas o Novo Testamento, você se conscientizará que pelo menos essa "Doutrina do Purgatório", além de extra-bíblica é anti-bíblica, pois em cada página da Nova Aliança se vê o sangue de Jesus como o único remédio sobremaneira eficaz para salvar a humanidade dos seus pecados. Se não se convencer, achando a leitura bíblica "complicada" como os padres querem fazê-la parecer, acesse os sites de apologética católica (mas tem que ser os bons) e compare os argumentos com uma leitura simples da Palavra de Deus e verá que as citações bíblicas feitas são de uma interpretação que você certamente não teria lendo a Bíblia atentamente, ou seja, são fantasiosas, pois somente dessa maneira pode-se sustentar doutrinas "colocadas" na Bíblia.Que nós possamos ter o apreço de Paulo numa obra missionária dentro de nosso país que, paulatinamente, está sendo ganho para o Jesus Cristo Bíblico, não sacramentado, suficiente para salvar cada um que a Ele se achegue pelo seu sacrifício vicário de cruz, para viver uma vida santa, livre das cadeias que o diabo imprime na vida das pessoas "católicas" como eu era, mas que não querem buscar a Deus e o seu reino sobre todas as coisas...

Deus tenha misericórdia do Brasil e avive os seus filhos para que sua palavra seja pregada com cada vez mais força e mais poder, e que o império das trevas que insiste em se vestir de Bíblia seja despido e morto pelo sangue do Cordeiro vertido na Cruz do Calvário, para a purificação de todo o que nele crê!


Notas:

1. O Sacramento do Espírito Santo (A Crisma) - Pe. Luiz A. Vendrúscolo / Pe. Reneu P. Stefanello: Edirora Vozes 7ª edição.
2. http://www.santamissa.com.br/glossario/descricao_palavra.asp?id=83
http://www.paginaoriente.com/catecismo/dezmandamentos.htm - Sites de Catequese Católica.
3. Bíblia Sagrada Mensagem de Deus Edição Luxo - Editora Santuário / Edições Loyola: Reeditada em Janeiro de 2003.
4. http://www.veritatis.com.br/conteudo.asp?pubid=1912 - Site de Ortodoxia Católica.
5. Site citado acima.
6. II Concílio Ecumênico de Nicéia - Matéria descrita no site supra citado.
7. Matéria citada no link acima.
8. Matéria citada no link acima.
9. Matéria citada no link acima.
10. http://www.cacp.org.br/cat-perguntas.htm - Site de Pesquisas Crsitãs.
11. http://www.montfort.org.br/index.php?secao=cartas&subsecao=apologetica&artigo=20040827212525〈=bra - Associação Cultural Católica.
12. http://www.veritatis.com.br/conteudo.asp?pubid=7 - Site de Ortodoxia Católica.


Este artigo foi enviado por: Evandro J. Lui autor 


Fonte: http://www.cacp.org.br/adventismo/artigo.aspx?lng=PT-BR&article=120&menu=2&submenu=9&cont=1 

Dulia, Hiperdulia e Latria

Os eruditos católicos precisam fazer esta distinção, pois sem a qual não poderiam se escudar quando são pressionados com a acusação de idolatria. Com esta nuança de palavras eles se sentem livres para prosseguir com seus sofismas. Foi necessário fabricar uma tríplice distinção entre “Latria” que seria o grau mais alto de adoração e “Hiperdulia” um grau abaixo deste, tido como veneração á Maria mas superior a “Dulia” também veneração no entanto prestado aos santos e objetos relacionados a eles, como por exemplo, as imagens.

Dizem que prestam unicamente a Deus o culto de “Latria” e aos santos o de, “Dulia”, sem incorrer no risco de confundi-los. Contudo esta “cuidadosa” diferença desaparece na prática! Vejamos mais à frente como ela tende a se confundir no desenrolar do culto que o devoto presta.

Gregório estava errado quando disse que “as imagens são os livros dos ignorantes”, e é porque eles são simples que acabam confundindo os dois cultos engenhosamente inventado pelo clero! Á bem da verdade, as imagens servem mais para cegar os olhos espirituais e conseqüentemente deixa-los mais ignorantes do que o contrário! Vejamos:

Quando a imagem do “santo” cai no chão e quebra, o devoto não diz apenas que quebrou-lhe a imagem mas diz ter quebrado o santo: Antonio, Benedito, Jorge, José, repetindo o episódio de Labão que acusou Jacó de roubar não só suas imagens, mas seus “deuses”! Gn 31:30

As imagens de maneira alguma ajuda a fé dessas pessoas, mas as deixam mais ignorantes ainda em relação as verdades espirituais.

Imagina essa oração sendo feita perante o quadro da sagrada família: Jesus, Maria e José. Assim reza o católico a jaculatória:

Meu Jesus, misericórdia.

Doce coração de Maria, sede a minha salvação.

Jesus, Maria, José eu vos dou meu coração e minha alma.

Jesus, Maria, José assisti-me na última agonia.

Jesus, Maria, José, expire a minha alma entre vós em paz.

Amém.



Pergunto: Qual é o católico que faz a diferença entre “latria”, “dulia” e “hiperdulia”, quando se prostra para rezar fervorosamente perante os três personagens da imagem ? Como bem expressou a pesquisadora de religiões, Mary Schultze: “A Mão de obra é grande demais!”

Como quase todas as invenções doutrinárias do catolicismo através dos séculos tem seu embrião no paganismo, esta suposta distinção entre um culto e outro não é de maneira alguma novidade. Os pagãos rodeados por seus muitos deuses e intercessores fizeram uma hierarquia de culto para eles, distinguindo entre divindades maiores e divindades menores. A Roma papal cópia fiel do paganismo também procedeu do mesmo jeito. Isto me trás a memória o texto bíblico onde aparece uma situação análoga a esta:



“Assim estas nações TEMIAM AO SENHOR, MAS SERVIAM TAMBÉM AS SUAS IMAGENS ESCULPIDAS; também seus filhos, e os filhos de seus filhos fazem até o dia de hoje como fizeram seus pais.” II Reis 17:41 (ênfase do autor)O CORRETO USO DOS VOCÁBULOS NA BÍBLIA



Os termos gregos, DULIA e LATRIA, não tem nenhuma semelhança com a definição que lhe dá o catolicismo.

Podemos desmontar este arcabouço doutrinário levantado pela teologia romanista simplesmente recorrendo ao original grego do Novo Testamento.

DULIA
é derivado do verbo grego DOULÉUO que trás como equivalente, servir, ser escravo, subserviente. Este verbo é usado para expressar o nosso dever de servir a Deus aparecendo em passagens como Mateus 6:24 - Atos 20:19 – Romanos 12:11;14:18 e outras mais.

LATRIA
aparece nas escrituras gregas cristãs como adoração no sentido de culto, ritos, cerimônias, serviços exteriores. Aparece por exemplo em João 16:2 – Romanos 9:4;12:1 - Hebreus 9:1 e 9:6 “Ora, estando estas coisas assim preparadas, entram continuamente na primeira tenda os sacerdotes, celebrando os serviços sagrados” aqui o original grego trás a palavra “LATRÉIA”.

A palavra comumente usada para adoração na Bíblia Sagrada é “PROSKYNEO”= (prostrar-se e adorar), não LATRÉIA, veja isso em Mateus 4:10 “Vai-te, Satanás; porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás (proskyneo), e só a ele servirás (latréia).

Tanto o culto de Latria quanto o de dulia, devem ser dados somente a Deus e a mais ninguém, pois devemos prostrar-nos e servir somente a ele.

É claro que servir alguém em sentido religioso que não seja o próprio Deus, é descaradamente idolatria, e foi essa a intenção do apóstolo Paulo escrevendo aos gálatas, quando censura a vida idólatra que outrora eles viviam.

“Outrora, quando não conhecíeis a Deus, servíeis (dulia) aos que por natureza não são deuses”

No original grego aparece a palavra “Dulia”, era este o tipo de culto que os Gálatas prestavam aos seus deuses, mas nem por isso Paulo os poupa de serem chamados de idólatras, pois aos tessalonicenses ele diz:

“porque eles mesmos anunciam de nós qual a entrada que tivemos entre vós, e como vos convertestes dos ídolos a Deus, para servirdes (dulia) ao Deus vivo e verdadeiro”

Veja que dulia deve ser prestado com exclusividade a Deus!

“É claro, pois que com o termo dulia, ele condena essa superstição com a mesma força com que a condenaria com o termo latria” (Institutas livro I cap. 12).

O que é hiperdulia? O dicionário define como hiper: 'posição superior'; 'além'; 'excesso'.

Será que com o culto de “hiperdulia” os católicos não estariam cultuando Maria acima e além de Deus e conseqüentemente transformando-a em um ídolo? As escrituras nunca registram uma “hiperdulia” para Deus mas apenas dulia, já os católicos querem prestar a Maria um culto ou serviço, superior ao que é prestado ao próprio Deus, uma hiperdulia!

Para que nenhum católico diga que estou fazendo jogo de palavras para falsamente os acusar, leia o que afirma o livreto “Com Maria Rumo ao Novo Milênio” editora PAULUS na página 13: “Houve um tempo em que os católicos VENERAVAM DEMAIS os santos. Esqueceram-se um pouco de Jesus. Ele até parecia um santo ao lado dos outros...” (ênfase do autor). Exemplos disso são os títulos “santóides” dados à Jesus tais como: “São Bom Jesus dos Milagres”, “Senhor Jesus do Bom Fim”, etc...

Se isto não for idolatria então não sabemos mais o que seja!

Todavia os fatos falam por si. Essa é uma questão de fatos e não de nomes, e como alguém já disse, “contra fatos não há argumentos”. Não adianta querer tapar a vergonhosa situação em que os católicos estão, com sutilezas e supostas distinções de palavras! É ato de adoração escancarado quando um católico prostra diante das imagens de Maria e faz seus pedidos. Onde está, pergunto, a diferença da qualidade do culto que prestam a Deus e os prestados aos santos ou Maria e suas imagens?


Autor:
Prof. Paulo Cristiano

Fonte:  http://www.cacp.org.br/adventismo/artigo.aspx?lng=PT-BR&article=116&menu=2&submenu=9&cont=1