sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O que é teologia para Karl Barth?

Já começa a emergir na resposta a essa pergunta como Karl Barth relaciona, por exemplo, teologia e espiritualidade. Senão vejamos. Já de início, o teólogo de Basiléia nos conduz a que nos demos conta da particularidade da teologia como “ciência”, particularidade essa derivada do próprio “objeto” da teologia e da tentativa de “tematizá-lo em todo alcance de sua existência – e isso dentro do caminho indicado pelo próprio objeto em questão.”[1] Teologia é, então, uma ciência muito particular, é ciência sui generis, pela própria necessidade de tematizar a Deus.[2]
Contudo, como o próprio Barth demonstra, à palavra “Deus” podem ser atribuídos os mais diversos e variados sentidos. O que redundaria numa possibilidade quase infinita de teologias, todas com possibilidade de serem até mesmo radicalmente diferentes entre si. Portanto, o primeiro passo consiste em dizer uma palavra sobre de qual “Deus” está se falando. Pois para Barth:

Não existe ser humano que, de maneira consciente, inconsciente ou subconsciente, não tenha seu Deus ou seus deuses como objeto de seu desejo e confiança mais elevados, como base de sua vinculação e compromisso mais profundos. Neste sentido qualquer ser humano é teólogo. (...) Isto se aplica não só a situações nas quais se tenta fazer valer positivamente ou pelo menos deixar valer tal divindade como quintessência da verdade e do poder de algum princípio supremo, mas também a situações nas quais se nega a existência dessa divindade: nestes casos o que acontece em termos práticos é que exatamente dignidade e função da divindade são transferidas à “natureza”, a um impulso vital inconsciente e amorfo, à “razão”, ao progresso, ao ser humano de pensamento e ações progressistas, ou, quiçá, a um “nada” redentor, considerado destino último do ser humano. Também tais ideologias aparentemente “atéias” são teologias.[3]

Então, antes de se discutir de que teologia se está falando, primeiro devemos estabelecer sobre qual Deus se quer tematizar. O teólogo e a teóloga precisa saber de qual Deus está falando. Pois se a fé tem a primazia diante do discurso teológico mais rigoroso, é necessário se perguntar em quem depositamos nossa fé.  Em quem colocamos “nossa vinculação e compromisso mais profundos.”[4] A fé nesse determinado “Deus” precede todo discurso teológico. Portanto, para que se possa definir de qual teologia se está falando, precisamos nos expressar, confessando a esse Deus. Nossa teologia seguirá conseqüentemente o Deus a quem confessamos e adoramos. Em quem depositamos nossa fé. Em se tratando de nós cristãos somos crentes em um Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo. Nossa fé é trinitária.
Karl Barth ao denominar sua teologia de “teologia evangélica”, não tem como intuito tratar especificamente de mais uma “teologia protestante”. Na verdade, ele entende o adjetivo “evangélica” como sendo a tematização coerente do Deus que se revela no Evangelho.[5] Ele diz:

Uma teologia por ser “protestante”, ainda não é necessariamente evangélica. E existe teologia evangélica também no catolicismo romano e no âmbito da Ortodoxia oriental, assim como existe na área das inúmeras variações e mesmo das formas degeneradas posteriores ao evento reformatório.[6]

Não se trata, portanto, de uma questão de tentar definir a melhor teologia feita em todas essas manifestações históricas do cristianismo, mas qualificar a partir de qual referencial estamos tecendo nossos conceitos de Deus. Nesse caso, o referencial último é o Evangelho tal como podemos apreender das páginas do Novo Testamento. O adjetivo, “evangélica”, encontra aí seu solo donde brotar a tematização de Deus, o Deus do Evangelho.[7] Sobre isso esclarece ainda Karl Barth:

Designaremos com o termo “evangélico”, de forma objetiva, a continuidade e a unidade “católicas”, ecumênicas (para não dizer “conciliares”) de toda e qualquer teologia, que, em meio a todas as demais teologias e (sem que isso implique um juízo de valor ou desvalor) diferentemente delas, tenciona perceber, compreender e tornar manifesto o Deus do evangelho – quer dizer, o Deus que se manifesta no evangelho, que por si mesmo fala aos seres humanos, que age neles e entre eles – da maneira por Ele mesmo indicada. Onde se realiza o evento de este Deus se tornar objeto ou assunto da ciência humana e, como tal, origem e norma da mesma – aí existe teologia evangélica.[8]

A particularidade dessa teologia se define por seu próprio “objeto” o qual possui suas características peculiares, que a diferencia das demais “possíveis teologias”. O que não significa ausência de quaisquer elementos comuns as demais teologias e quiçá outras ciências. Mas a tarefa urgente para Barth é que possamos apontar significativamente as características nucleares dessa “ciência teológica” evangélica. Essa teologia deve sempre se ver não somente na impossibilidade de falar exaustivamente de Deus, mas igualmente “não poderá reivindicar o direito de bancar Deus neste campo.”[9] Como assevera Barth: “O Deus do evangelho é o Deus que de sua parte se acha voltado em misericórdia para a existência de todos os seres humanos, inclusive para a teologia dos mesmos.” [10]
A dimensão abscondita de Deus, imensurável, inefável, de um Deus que é Mistério, do qual não podemos dispor muito menos tematizar sem deslizes, é de que fala o Evangelho. Evangelho que nos revela um Deus que ao se revelar, desmascara mais e mais de nossa limitação e precariedade quando se trata de teologizar. Tal como diz Karl Barth, esse Deus “sempre permanece superior, não só quanto aos empreendimentos ‘dos outros’, mas também diante da teologia evangélica. Permanece o Deus que continuamente se dá a conhecer e que continuamente precisa ser descoberto e redescoberto.”[11]

A base epistemológica barthiana

Essa ciência, chamada de “ciência teológica”, está fadada ao condicionamento, à “parcialidade do discurso”, à precariedade, ao provisório, a ser sempre uma teologia inacabada, a caminho. Uma teologia consciente da necessidade premente de se rever sempre e estar “sempre se reformando”, em conformidade ao Deus que se revela por Sua própria iniciativa e por graça. Daí Barth conclui que: “A teologia evangélica é condicionada por seu próprio assunto para ser uma ciência modesta.”[12] Que segundo nosso teólogo, será em todo momento uma ciência não só modesta, mas livre, crítica e alegre. Modesta, porque se vê sempre para além da possibilidade de abarcar sem limites o Deus do Evangelho; livre, porque deixa sempre seu “objeto” agir livremente de modo a ser por esse Deus libertada; crítica, porque deve buscar a todo momento discernir e distinguir entre o ontem, o hoje, e o amanhã da presença e ações únicas desse Deus, sem perder de vista sua coerência e unidade; e alegre, por lidar com a palavra de graça desse Deus que se acha sempre voltado para o ser humano em seu Evangelho (boa notícia), como sendo o Emanuel (Deus conosco), essa ciência não poderia ser outra coisa senão uma ciência alegre.[13] Constatar essas realidades determinará radicalmente o posicionamento de todo teólogo(a) em sua aventura de tematizar a Deus. O que deveria levar-nos a mantermos sempre diante de nós a rica tradição teológica apofática, tal como nos legou o grande teólogo místico Dionísio Areopagita, conhecido também como Pseudo-Dionísio.[14]
Todavia, é com pesar que notamos a distância que a tradição teológica ocidental manteve por vezes dessa rica tradição teológica apofática quanto mais se tornara um exercício frio e especulativo, desconectada da vida e da vivência concreta do Evangelho de Jesus Cristo.  Essa “teologia descendente”, de cima para baixo, configura-se numa teologia de caráter dedutivo, sem vínculos e raízes lançadas no solo sagrado da espiritualidade cristã, que vive e se alimenta do Evangelho, no seguimento de Jesus Cristo, na força do Espírito.
A fundamentação epistemológica do teólogo de Basiléia se aproxima da tradição teológica ocidental que mais bebeu das fontes da teologia apofática e sem dúvida das contribuições do significado da teologia para Anselmo de Cantuária, a quem Barth não somente muito admirava, mas do qual se sentia devedor. Sem nos esquecermos que Karl Barth fora um profundo conhecedor dos escritos de Anselmo de Cantuária. De Anselmo, Barth apreende sua postura fundamental frente à teoria do conhecimento teologal, a partir de seu clássico axioma: fides quaerens intellectum. Ao ponto de Karl Barth escrever uma obra dedicada a essa e outras afirmações do teólogo de Cantuária.
O grande teólogo suíço começa sua aproximação do núcleo rígido do que viria a ser sua rica epistemologia teológica, tratando sobre o conceito e necessidade do intelligere em Santo Anselmo. Na percepção de Barth a intuição fundamental da qual Anselmo lança mão para sustentar sua teoria do conhecimento reside em conseguir responder a necessidade de a fé desejar ser compreendida. Ele diz: “Essa razão, a qual intelligere busca e encontra, possui nela mesma não somente utilitas (utilidade), mas também pulchritudo (beleza). É speciosa super intellectus hominum (grande brilho do intelecto humano).”[15]
Significa dizer que Karl Barth ao situar a teologia no chão da revelação bíblico-cristã, já está dando à vida de fé um lugar de destaque no labor teológico, ampliando seu horizonte epistemológico e conseqüentemente sua tessitura teológica, puxando a teologia cristã de volta a seu húmus original e fundante. O que propicia Barth falar depois, mais a fundo, acerca da Palavra como o primeiro “lugar” teológico, (os loci teologici), tal como veremos mais a frente.
Não obstante, se a ciência teológica deve ser modesta, ela também necessita, para existir, raciocinar com base em três premissas secundárias, a saber:

a) De modo geral, no evento da existência humana, em sua dialética indissolúvel, existência que se vê confrontada com a auto-revelação de Deus no evangelho; b) de modo específico: na de seres humanos que receberam o dom e a vontade de reconhecerem e confessarem a auto-revelação de Deus como tendo acontecido em favor deles; c) de modo geral e específico: na razão, i.e, na capacidade de percepção, conceituação e expressão de todos os seres humanos, inclusive dos crentes, fato este que os capacita tecnicamente a participarem, de forma ativa, do esforço de cognição teológica realizado no confronto com o Deus que se auto-revela no evangelho.[16]

Daí para Barth a teologia que emerge segundo a revelação de Deus no Evangelho ser o referencial último, aquele que desperta e potencializa a fé do ser humano, chamando-o à fé “e que com isso reivindica e ativa a totalidade do potencial intelectual humano (e não só o seu potencial intelectual).”[17] Deus desperta e dinamiza as energias humanas, potencializando-as sendo então possível canalizá-las para o saudável labor teológico.
O conhecimento de Deus na fé deve e pode ser dinamicamente transformada em bom trabalho teológico. A vocação à teologia é fundamental e constituinte do ser humano, teologia como sendo esse segundo momento, a qual deverá desenvolver uma atenção maior à presença de Deus sempre dada.
Portanto, todo ser humano é um teólogo em potencial, poderíamos dizer com Barth. Mas o desenvolvimento dessa vocação básica em direção a uma carreira teológica vai depender de diversos fatores, dentre eles a vocação à docência, à pesquisa, e etc. O teólogo é um eterno aprendiz, exercitando seu labor como quem vive sempre a garimpar palavras. Na busca de tematizar àquele que em parte não é tematizável (mistério). A teologia passa novamente a ganhar um sabor sapiencial


[1] Ibid., p. 9.
[2] Cf. Idem., p. 9. Sobre uma conceituação muito rica do que é teologia ver a excelente obra recém traduzida para o português do grande teólogo luterano alemão, Wolfhart Pannenberg: PANNENBERG, Wolfhat. Teologia Sistemática. Vol. 1. Santo André; São Paulo: Academia Cristã; Paulus, 2009, pp. 25-99.
[3] Ibid., p. 9.
[4] Ibid., Idem., p. 9.
[5] Cf. Ibid., p. 10.
[6] Idem., p. 10.
[7] Cf. Ibid., Idem., p. 10.
[8] Ibid., idem., p. 10.
[9] Cf. Ibid., pp. 10-11.
[10] Ibid., p. 11.
[11] Idem., p. 11. Essa parece ser a intuição dos grandes teólogos(as) da história da Igreja, como é o caso do maior teólogo católico do século XX, Karl Rahner. A teologia para Rahner, dado o seu “objeto” de estudo, ao qual no processo do fazer teológico revela-se, contudo, Sujeito livre, decerto não ao lado de outros [teólogo(a)], mas sempre para além, dá-se à nós como nosso horizonte infinito. Cf. RAHNER, Karl. O dogma repensado. São Paulo: Paulinas, 1970, p. 171. Grifo nosso. Esse Horizonte Infinito denominamos Deus.
[12] Ibid., Idem., p. 11.
[13] Cf. Ibid., pp. 11-14.
[14] Sobre um excelente resumo da vida e principais intuições desse autor grego ver: TILLICH, Paul. História do pensamento cristão. Op., cit., pp. 104-111.
[15] BARTH, Karl. Fé em busca de compreensão. Op., cit., p. 23.
[16] Ibid., p. 11.
[17] Ibid., p. 12.

Fonte: http://carocardosalutis.blogspot.com/

Sobre a sexualidade cristã

Wolfhart Pannenberg

Sobre o amor -- Pode o amor ser pecaminoso? Toda tradição doutrinária cristã ensina que há uma coisa chamada amor invertido, pervertido. Os seres humanos são criados para o amor como criaturas de Deus, que é amor. Ainda assim, essa ordenação divina é corrompida sempre que as pessoas se afastam de Deus ou amam outras coisas mais do que a Deus.

Sobre o casamento -- A união indissolúvel do casamento é o alvo da nossa criação como seres sexuais (Mc 10.2-9). Visto que, quanto a esse princípio, a Bíblia não é temporal, as palavras de Jesus são o critério e o fundamento para todo pronunciamento cristão sobre a sexualidade, não somente para o casamento, mas também para nossa identidade como seres sexuais. De acordo com o ensinamento de Jesus, a sexualidade humana como macho e fêmea tem como alvo a união indissolúvel do casamento.

Sobre a homossexualidade -- As determinações bíblicas quanto à prática homossexual são claras e não dão margem à ambiguidade quanto à rejeição de tal prática. Todas as afirmações sobre esse assunto concordam mutuamente, sem exceções [...]. Sobre esse assunto, o judaísmo sempre se viu como distinto de outras nações. Essa mesma distinção continuou a determinar as afirmações do Novo Testamento sobre a homossexualidade, em contraste à cultura helenista, que não via problema algum com as relações homossexuais. Em Romanos, Paulo inclui o comportamento homossexual entre as consequências de se afastar de Deus (Rm 1.27). Em 1 Coríntios, a prática homossexual está, junto com a fornicação, o adultério, a idolatria, a avareza, a bebedeira, o furto e o roubo, entre os comportamentos que impedem a entrada no reino de Deus (1Co 6.9-10). O Novo Testamento não contém nenhuma passagem que possa contrabalançar essas afirmações paulinas. Assim, o testemunho bíblico inclui a prática do homossexualismo, sem exceção, entre os tipos de comportamento que expressam notavelmente a humanidade afastada de Deus. Esse resultado exegético coloca amarras estreitas na visão sobre a homossexualidade que uma igreja sob a autoridade do Espírito Santo pode ter.

Sobre o papel da igreja -- A igreja tem de conviver com o fato de que, na área sexual, assim como em outras áreas, desvios de norma não são excepcionais, mas, antes, comuns e difundidos. A igreja deve agir com tolerância e compreensão para com todos os envolvidos, mas também deve levá-los ao arrependimento. Ela não pode abandonar a distinção entre a norma e o comportamento que se desvia da norma. Aqui estão os limites de uma igreja cristã que está sujeita à autoridade das Escrituras. Aqueles que argumentam que a igreja deve mudar essa norma devem estar cientes de que estão promovendo divisões: se uma igreja se deixar levar a ponto de não considerar a atividade homossexual como um desvio da norma bíblica e reconhecer as uniões homossexuais como uma parceria possível de amor equivalente ao casamento, tal igreja não estaria sobre bases bíblicas, mas contra o testemunho inequívoco das Escrituras. Uma igreja que desse esse passo, deixaria de ser a igreja una, santa, católica e apostólica.

Traduzido por Vitor Grando da Silva Pereira.


• Wolfhart Pannenberg, teólogo protestante alemão nascido na Polônia, é professor de teologia sistemática da Universidade de Munique e diretor do Instituto de Teologia Ecumênica. É autor de “Teologia Sistemática” (Paulus).


Fonte: Ultimato online

Visita do Papa ao Reino Unido: Uma Avaliação

É, sem dúvida, um grande exagero de comentaristas da imprensa britânica falar em uma refundação católica da Inglaterra, com Bento XVI na Abadia de Westminster (onde são coroados os reis) falando o que queria para a liderança – inclusive política – do Reino Unido, mas se pode falar em uma reafirmação do Cristianismo ortodoxo.

O Papa não foi convidado nem pelo Arcebispo de Cantuária nem pelo Arcebispo de Westminster (líder da hierarquia católica romana), mas pela rainha Elizabeth II (de posições teológicas e morais conservadoras, descontente com os escorregadios liberais), para uma visita de Chefe de Estado (da Cidade do Vaticano) e não do Chefe da Igreja Romana. No palanque da recepção apenas Chefes de Estado, com os líderes religiosos em segundo plano. Em segundo lugar, a visita começa pela Escócia, onde a  religião oficial é a Igreja da Escócia (Presbiteriana), e a Igreja Episcopal da Escócia (Anglicana) é uma das tantas igrejas livres, e inexpressiva (1% da população). O primeiro dia ficou no eixo Edimburgo-Glasgow, e, obviamente, não se foi à Irlanda do Norte, porque o clima religioso por lá ainda não é de todo ameno...

Na Inglaterra, para os bramanistas, islâmicos e sikhs havia apenas a curiosidade em torno de um “homem santo” de parte de alguns brancos. As vibrantes igrejas cristãs de imigrantes caribenhos, como sempre, se mantém a margem dos movimentos sociais. Os evangélicos conservadores de centro: Conselho dos Evangélicos da Inglaterra (interdenominacional) e Conselho dos Evangélicos da Igreja da Inglaterra viram no Papa um aliado tático e transcreveram passagens convergentes dos seus discursos. Os setores mais protestantes do anglicanismo, como o Reform, o Church Society e o Prayer Book Society, tiveram comportamento semelhante, além de terem reduzido espaço público. Os protestantes liberais (metodistas, congregacionais, presbiterianos, batistas = maioria; e anglicanos = minoria) demonstraram claramente o seu descontentamento com a visita papal, mas sua força é muito limitada no conjunto da população, fora de alguns seminários teológicos, publicações e órgãos do governo.

Vale salientar que não somente o número de anglicanos praticantes é pequeno (5% dos 27 milhões de batizados), mas o mesmo acontece com a minoria católica romana (10% da população), com índices anuais de declínio de frequência às missas. Em sendo assim, um número aproximado de meio milhão de pessoas (pagantes de um ingresso) entre Escócia e Inglaterra, que assistiram às Missas Campais, pode ser, nesse contexto descristianizante, um relativo sucesso, além da cobertura pela mídia.

A Guerra (Nada) Santa se deu entre o papa e os papistas, de um lado, e a crescente, articulada e agressiva fração militante secularista no Governo, na Academia e na Mídia, que abriu fogo de obuses contra os gastos com a visita, contra o convite da rainha, contra a figura do papa, e, muito particularmente, contra as ideias reacionárias, nojentas, contrárias ao pensar da Inglaterra de hoje, etc. Foi chumbo grosso. A rainha manteve o convite. O papa veio. Os convidados para os eventos oficiais apareceram (com um Arcebispo de Cantuária apagado) e Bento XVI, impassível, disse o que queria dizer, curto e grosso, sabendo do rebu que estava causando.

A História não foi mudada, e o Reino Unido Moderno é fruto do Protestantismo. O Liberalismo interno o tem debilitado. O Secularismo antireligioso, antimonoteísta, e, particularmente, anticristão é um dos mais fortes no processo de descristianização da Europa. Os Bispos Anglicanos da África já disseram, em sua última Conferência, que vão enviar missionários para re-converter a pátria-mãe e o continente, o que coincide com o discurso de re-evangelização da Europa pelo Chefe da Igreja de Roma.

Os Secularistas (e os Liberais) perderam uma batalha nessa guerra prolongada. O papa marcou um tento. Mas a velha Albion não deixou de ser protestante e nem se converteu ao romanismo. Muita gente boa às margens do Tâmisa não tem a mínima intenção de cruzar o Tibre...

Recife (PE), 22 de setembro de 2010,
Anno Domini.
+Dom Robinson Cavalcanti, ose
Bispo Diocesano

Secretaria Episcopal
Diocese do Recife - Comunhão Anglicana
(das 8h às 13h)

Visite nossa página: www.dar.org.br

"Espiritualidade é colocar em prática o discernimento da vontade de Deus para a vida comunitária em todas as suas dimensões. A espiritualidade é um dom e uma tarefa" (René Padilha)


Fonte: Comunhão Anglicana Diocese do Recife

Comprovado: Brasil Vem Sendo Governado Por Satanistas (o PJ vs. o PT)

Na campanha presidencial desse ano, “sumiram” com os miseráveis, que apareciam, invariavelmente, quando alguns dos partidos “da base aliada” eram de oposição. O outro lado, desde Pedro Álvares Cabral, tem dificuldade de se comportar como oposição, sem jeito, vestido em um figurino de número diferente do seu manequim. Já os demais partidos foram, pelo sistema, decretados ou predestinados para serem eternamente pequenos, e não possuem tempo para mostrar a miséria. Um estrangeiro que aqui chegasse, e assistisse aos programas dos “grandes” candidatos somente veria coisas boas, otimismo, e mais promessas de coisas boas. De fato, “sumiram” com os pobres. Um país semelhante a casas de estúdios cinematográficos: belas fachadas.

E aí, surpresa das surpresas. A Rede Globo, além de participar do “pool” moralista denuncista que nos deixa saudosos de 1989, fez algo de positivo, e o senso de justiça nos leva a elogiar: botou para voar pelo Brasil a fora um jatinho do “Jornal Nacional”, onde, finalmente, aparece um pouco do Brasil real: casas de taipa cobertas de palha, meninos magros de subnutrição e de imensas barrigas de verminose, pessoas mal vestidas, analfabetos, desdentados, esgotos a céu aberto, crianças catando lixos, escolas caindo aos pedaços, postos de saúde sem médicos, estradas esburacadas. Ou seja, o Brasil dos “grotões” ribeirinhos da Amazônia, interiorano do Nordeste ou do Centro-Oeste, periféricos nas grandes cidades. O Brasil dos índices de IDH de Alagoas e do Maranhão, e não só dos Jardins (SP), da Barra da Tijuca (RJ), de Ponta Verde (AL). O Brasil dos sem comida, sem terra, sem teto, sem educação, sem profissão, sem esperança. O Brasil dos assaltos nossos de cada dia, e das drogas mil de cada dia que destroem a juventude.

Fiquei até aliviado, porque estava dando um nó em minha cabeça, já que passo o ano viajando pelo País, inclusive o seu interior, e pensei que um ou outro país (o que eu vejo ao vivo e o que eu vejo na TV no Programa Eleitoral Gratuito) era uma alucinação.

Acontece que esse “Brasil dos Desdentados” se encontra localizado não apenas na Federação, e o seu governo da “base aliada”, mas em Estados e Municípios governados por, praticamente, todos os partidos políticos existentes, da direita à esquerda. Não há, portanto, monopólio das injustiças sociais: A Miséria é de Todos! “Todos pecaram”, diz a Bíblia, inclusive todos os partidos e todos os líderes, e prosseguem as Escrituras: “não há um justo, nenhum sequer”. E Satanás não faz acepção de pessoas, ele é um “democrata” em suas tentações, induções e possessões. E o demo, o tinhoso, o fute, o coisa ruim, foi muito bem sucedido nessa Terra da Santa Cruz. Com esse tamanho e esses recursos naturais, só muita competência na elaboração do mal, na concentração de propriedade, renda, poder e saber, para se gerar tanta opressão, por 500 anos. Como Deus quer o bem e satanás quer o mal, está, pois, mais do que comprovado, que, por cinco séculos, temos sido governados por satanistas...

Dentro da Igreja, também nos diz a Bíblia, há dois partidos: o PJ, ou Partido do Joio e o PT, ou Partido do Trigo, e se supõe que os fiéis do PT (Partido do Trigo = nenhum parentesco com o seu homônimo secular) não estabeleçam alianças ou acordos com os satanistas. Isso seria coisa para o pessoal do PJ (Partido do Joio). Vamos, como gente do trigo, repreender satanás “em nome de Jesus”, promovendo o Reino de Deus, de justiça e de paz, em que a nossa Cidade do Homem reflita a Cidade de Deus e não a Cidade do Diabo, no melhor dos nossos esforços e talentos, até que nos venha a santa cidade, a Nova Jerusalém. Transformemos o próximo dia 03 de outubro em um imenso mutirão de descarrego: xô satanás!

PS: Pela primeira vez, desde 1962, os meus seis votos irão para uma “sopinha de letras” e não para um único partido em particular.
Recife (PE), 23 de setembro de 2010,
Anno Domini.
 +Dom Robinson Cavalcanti, ose
Bispo Diocesano

Abraçando e reabraçando a santidade do corpo e da mente

A propaganda da pornografia, do amor livre, do sexo precoce, do adultério, do homossexualismo e do divórcio é tão bem feita, tão ampla, tão esmagadora e tão bem-sucedida, que as muitas vozes ainda em harmonia com a sexualidade cristã são tentadas a se calarem. No que diz respeito à homossexualidade, por exemplo, os defensores da condição oposta são quase constrangidos a pedir licença para falar sobre a homossexualidade ou a se desculpar por tocarem no assunto. Faz parte da propaganda do sexo ilícito a mensagem de que seus praticantes são a maioria e nós, a minoria. Faz parte da propaganda anticristã a mensagem de que a disciplina sexual é impossível, além de intervir na liberdade individual. Faz parte da propaganda da licenciosidade desacreditar o casamento (veja Cartunista coloca veneno na imaginação dos teenagers e se manda, Ultimato, maio/junho). Por isso, são poucos os que hoje se casam pensando numa união que deve ser preservada e mantida para sempre. Os celebrantes estão sendo pressionados a retirar os compromissos de fidelidade mútua e de durabilidade só interrompidos pela morte.

É nesse mar tempestuoso que os cristãos são chamados a navegar (sem naufrágios fatais). A palavra do bispo N. T. Wright é mais do que oportuna: “Uma coisa é ser atraído pelo pecado; outra bem diferente é inverter os conceitos de moralidade e transformar o mal em bem e o bem em mal”.

Para trazer à lembrança a sexualidade não profanada pelo pecado e para oferecer resistência à propaganda em contrário, leia os textos das páginas que se seguem e os da seção “Especial”.

A entrevista com Guilherme Nacif de Faria, doutor em direito privado e professor na Universidade Federal de Viçosa, mostra que os líderes religiosos têm plena liberdade de falar e escrever sobre suas convicções religiosas na área da sexualidade, “da mesma forma que a filosofia, a ética, a psicanálise e outras áreas do conhecimento humano podem se manifestar livremente sobre a questão”. Porém, ele alerta que essa manifestação seja argumentativa, e não discriminatória.

Todo esse esforço não se destina apenas aos “outros”, mas especialmente a nós, aos nossos filhos e às nossas igrejas. Precisamos abraçar e reabraçar a santidade do corpo e da mente e evitar mau testemunho, escândalos, incoerências, hipocrisia, frouxidão moral, comportamento de risco, separações e casamentos infelizes!
 

Heterossexualidade sem homofobia e homossexualidade sem heterofobia

Se todos somos igualmente marcados pelo pecado, tanto potencialmente como na prática, a discriminação por razões morais e religiosas contra, por exemplo, os gays, torna-se ridícula e hipócrita, além de acrescentar mais um pecado ao nosso vergonhoso currículo moral. Além do mais, a oposição que alguns fazem à homossexualidade não é educada, inteligente, coerente e caridosa. Há casos de agressão verbal e física. Em algumas vertentes muçulmanas acentuadamente fundamentalistas, os homossexuais podem ser condenados à morte. Nem todos os prisioneiros dos muitos campos de concentração eram judeus ou inimigos do regime nazista -- alguns eram apenas homossexuais.

Em contrapartida, os homossexuais não podem dar lugar à heterofobia. Eles podem sair do armário sem pretender colocar os héteros nos armários vazios. A sociedade precisa enxergar esse processo em andamento. Se os homossexuais podem defender a bandeira da homossexualidade, por que os heterossexuais não podem defender a bandeira da heterossexualidade?

Se a consciência de um homossexual não o deixar em paz, apesar do apoio ostensivo da mídia, de alguns profissionais da saúde e até de alguns líderes religiosos, por que não se pode dar a ele auxílio psicológico ou pastoral, caso a pessoa espontaneamente o deseje? Se uma igreja se recusa a celebrar um casamento gay ou ordenar um padre ou pastor homossexual, por que zombar, perseguir, multar ou prender o responsável por esse comportamento, exigido por seu credo? Os homos querem liberdade de pensamento e de ação. O mesmo acontece com os héteros.

A prática homossexual é condenada pelas três religiões monoteístas do planeta: o cristianismo, o judaísmo e o islamismo. No caso dos protestantes, enquanto eles se conservarem fiéis às Escrituras Sagradas, sua única regra de fé e prática, a conduta homossexual será considerada um desvio sexual. Entretanto, os cristãos horrorizados com a homossexualidade se obrigam pela mesma Bíblia a ficar horrorizados também com o adultério, com a hipocrisia, com o roubo, com o egocentrismo, com a soberba, com a incredulidade, com a inveja, com a violência, com a berrante injustiça social e daí por diante. E com a mesma intensidade!