O novo álbum da banda Rammstein não pode mais ser adquirido por menores de 18 anos na Alemanha, determinaram as autoridades federais responsáveis pela proteção a jovens e crianças. O disco agora só pode ser comprado em lojas e mediante a apresentação da carteira de identidade.
Também a propaganda relativa ao disco foi proibida, assim como sua exposição em vitrines. A faixa "Ich tu Dir weh" (Eu te machuco), que ocupa atualmente o topo da parada de sucessos no país, não pode mais ser executada, nem seu texto pode ser impresso. Trata-se da primeira vez que um álbum inteiro é censurado na Alemanha desde 1987, quando uma medida semelhante afetou a banda punk Die Ärtzte.
"Visão pequeno-burguesa da arte"
Segundo as autoridades, o disco incentiva o sexo desprotegido e práticas sado-masoquistas de risco. Os músicos se mostraram "perplexos" com o anúncio. "Toda pessoa com um mínimo de razão e capacidade reflexiva deveria ser considerado capaz de contextualizar corretamente a nossa música", disse o tecladista Christian "Flake" Lorenz ao tablóide Bild am Sonntag.
Segundo Flake, a proibição deriva de uma "visão pequeno-burguesa da arte". Muitos veem aí também uma manobra de relações públicas do novo governo alemão, "interessado em ressaltar o caráter mais conservador da coalizão de democrata-cristãos e liberais". No entanto, seu alcance foi restrito, já que o disco continua no topo da parada, com mais de 300 mil exemplares vendidos.
Sexto álbum do grupo alemão em 15 anos, Liebe ist für alle da (O amor é para todos) foi lançado em outubro e aposta na estética da pornografia. O clipe da música "Pussy", dirigido pelo cultuado sueco Jonas Akerlund, que já trabalhou com Madonna, U2, Lady Gaga e Rolling Stones, entre inúmeros outros, mostra os integrantes da banda em cenas de sexo explícito com atores profissionais em um clube de Berlim.
Mesmo antes do lançamento do disco, o videoclipe já circulava na internet. Na Alemanha, tanto o download quanto a veiculação do conteúdo digital estão proibidos.
Polêmica acompanha carreira da banda
Representantes do estilo conhecido como Neue Deutsche Härte, que mistura metal e música eletrônica, o Rammstein se tornou principal produto de exportação da música alemã. Ao todo, o sexteto já vendeu mais de 15 milhões de álbuns e recebeu mais de 300 prêmios internacionais.
Mas a polêmica sempre os acompanhou. Desde sua formação em 1994, nenhum álbum foi dispensado do comentário negativo da imprensa alemã, que os acusa de glorificar a violência e de propagar símbolos de extrema direita.
O vocalista Till Lindemann enrola os erres ao cantar, suas megalômanas encenações no palco seriam dignas de filmes de Leni Riefenstahl, cineasta relacionada ao Terceiro Reich, e as letras são carregadas de alegorias sado-masoquistas, fantasias com matricídio, incesto, derramamento de sangue e putrefação, misturadas com um romantismo macabro.
A banda se recusa categoricamente a comentar seu conceito artístico, mas admite seu potencial agressivo. "A maioria das ideias que temos são provocantes. Somos uma mistura explosiva de seis componentes que, sozinhos, nem são tão ruins. Mas, quando nos juntamos, há uma reação química", explicou o guitarrista Paul Landers.
O público internacional se deixou convencer. O Rammstein é hoje a banda alemã de maior sucesso no exterior, com uma legião de fãs no Japão, nos Estados Unidos e na América Latina. Quase não há uma edição do Grammy sem que a banda receba uma nomeação.
No entanto, Rammstein encontrou sua maneira de lidar com a imprensa alemã. Seus integrantes quase não dão entrevistas, sendo que o vocalista se recusa absolutamente a falar com jornalistas alemães.
Autores: Uli José Andreas/Rodrigo Rimon
Revisão: Roselaine Wandscheer
Revisão: Roselaine Wandscheer
© Deutsche Welle
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