A igreja deve executar a missão de pregar (proclamar) o Reino do Senhor Jesus Cristo de forma incondicional, pois pesa sobre nós esta obrigação como discípulos. O Dr. Russell P. Shedd disse: “Cristo trouxe Deus para o mundo de um modo que podia efetuar a reconciliação do mundo. Deus, a única fonte de vida, que não pode morrer, morreu em Cristo, o Deus encarnado” (Missões: vale a pena investir? Shedd, 2001, p. 58). Deus fez a parte dele para nos reconciliar através da morte de Jesus na cruz. A igreja, na execução de seu papel missionário, não pode eximir-se do compromisso de embaixadora de Deus. A razão principal da existência da Igreja é a proclamação do seu Reino ao mundo perdido e parar isso precisamos ter consciência de que somos instrumentos no mistério da graça celestial para levar outros a conhecer a suprema verdade: Jesus.
Para levar o Evangelho ao pecador, a igreja precisa contextualizar a mensagem sem deixar-se contaminar pelo sincretismo religioso. É preciso entender a cultura local para transmitir uma mensagem que faça sentido, sem deixar, em hipótese alguma, de ser genuinamente bíblica. Devemos levar em conta as características culturais inseridas na comunidade receptora, seus costumes, crenças, valores e tradições, a fim de transmitir Cristo de forma compreensível. “O trabalho transcultural requer sensibilidade diante dos costumes e rituais do povo, distinguindo aquilo que é demoníaco e o que é cultural” (ATAÍDES, Florencio de. Revista Ultimato, Nº. 321, Viçosa, 2009, p. 55). Devemos entender que nem tudo que é diferente é antibíblico ou maligno, mas consequência do pecado que contaminou a natureza humana. O antropólogo Paul G. Hiebert diz que “por causa do pecado do homem, todas as culturas também possuem estruturas e práticas pecaminosas” (O Evangelho e a Diversidade das Culturas. Vida Nova, 2009, p. 33). Essa é a realidade do ser humano, ele é pecador e precisa da graça de Deus e da ação do Espírito Santo para transformar sua vida, fazendo-o nova criatura.
Para levar o Evangelho ao homem perdido, principalmente a um povo culturalmente diferente, é imprescindível um preparo adequado. Uma vez que o missionário esteja devidamente preparado, enfrentará com mais segurança o choque cultural que ocorre frequentemente no campo transcultural. O choque cultural pode deixar o missionário num estado deprimente, resultando, não raras vezes, num retorno prematuro, tendo como consequência muitas frustrações, traumas, stress, depressões, decepções, etc. O bom preparo do candidato é essencial para que ele saiba contextualizar a mensagem do Evangelho, adaptando-a ao contexto em que está trabalhando. O pesquisador William Taylor compara o treinamento do missionário ao alicerce de um edifício: “Em qualquer edifício, o alicerce é vital para sustentar toda a construção. A durabilidade de todo o edifício depende da qualidade de seu alicerce” (Valioso Demais Para Que se Perca. Descoberta, 1998, p. 43). Infelizmente, a falta de preparo tanto intelectual (teológico e missiológico) como espiritual (jejum, oração e leitura bíblica) tem possibilitado a ruína de “edifícios” que aparentemente eram inabaláveis. Está no topo da lista de uma das principais causas de retorno prematuro de missionários nos dias atuais. Baseado em estatísticas, concluímos que para eliminar essa brecha é necessário que aqueles que são chamados por Deus para levar a Palavra devem preparar-se em todas as áreas, caso contrário, ficarão vulneráveis aos perigos constantes dos tropeços no ministério. Isto trará consequências desastrosas ao Reino de Deus e dificultará a proposta de levar o Evangelho a todos os povos.
Diante da responsabilidade que a Igreja tem de proclamar o Evangelho do Reino aos povos e nações, devemos identificar as culturas e entendê-las assumindo uma postura humilde de servir e de trabalhar segundo os ensinos de Cristo.
É importante compreender o significado de missões transculturais, parte inerente da consciência missionária da Igreja. Para o Pr. Edson Queiroz, a missão da igreja “é levar a mensagem do evangelho atravessando uma barreira cultural” (A Igreja Local e Missões. Vida Nova. 1991, p. 15). O que isso quer dizer? Que não há barreira que possa segurar-nos, que devemos levar a palavra destemidamente até os confins da terra, essa é a nossa missão!
Segundo o teólogo suíço Karl Barth, o papel missionário da igreja “significa enviar, enviar às nações com propósito de testificar o evangelho, o qual representa a raiz da existência e, ao mesmo tempo, a raiz também de toda a tarefa do povo de Cristo” (Citado In: ATAÍDES, Florencio de. A Vocação Missionária da Igreja. Aleluia. 2006, p. 45) A missão principal da igreja é missões, sem essa consciência ela falha no seu papel missionário, pois não se pode separar missão e missões, as duas coisas estão intrinsecamente relacionadas.
A Igreja é chamada para fazer missões e essa é uma responsabilidade de cada cristão. Cada crente deve colocar-se à disposição para servir ao Senhor sem se importar com alguns fatores estranhos no campo transcultural como comportamento, valores e crenças que, às vezes, parecem inaceitáveis aos nossos olhos.
Concluímos afirmando que a igreja precisa entender com urgência o seu papel no mundo, empenhando todas as suas forças para cumprir a sua missão: fazer missões “enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar” (Jo 4.34) como disse o Senhor Jesus. Que Deus, em sua infinita graça, ajude-nos a cumprir com alegria e seriedade o ministério que recebemos do Senhor e não sejamos achados em falta no último dia. Amém!
Autor: Florencio Moreira de Ataídes
Fonte: Vida Nova.com.br
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