Uma afirmação comumente feita sobre o Alcorão é a que ele veio diretamente de Allá para nós através de Mohamed sem nenhuma outra intervenção ou edição humana. Assim, se diz que foi Mohamed quem padronizou o que está no Alcorão. Eu tenho lido esta afirmação diversas vezes em livros e panfletos que Muçulmanos me deram para ler. Considere as seguintes declarações de autores Muçulmanos:
O texto do Alcorão é inteiramente confiável. Ele tem permanecido tal como é, inalterado, sem edições, não fraudado de nenhuma forma, desde o tempo de sua revelação. (M; Fethullah Gulen, Questions this Modern Age Puts to Islam. London: Truestar, 1993. p. 58)
Ele (o Alcorão) foi memorizado por Mohamed e então ditado aos seus companheiros, e escrito por escribas, os quais o conferiram com muita precisão durante sua vida. Nenhuma só palavra de seus 114 capítulos (suratas) foi alterada ao longo dos séculos. (Understanding Islam and the Muslims, The Australian Federation of Islamic Councils Inc. (panfleto) Nov. de 1991).
Declarações como estas são verdadeiras? Ou são elas um exagero? Esta é uma pergunta sensata para se fazer. Para responder a esta questão consideraremos o que as fontes Islâmicas dizem.
Bukhari: vol. 6, hadith 514, p. 482; livro 61
Narrou Umar bin Al-Khattab:
Eu ouvi Hisham bin Hakim recitando a Surata Al-Furqan durante o tempo da vida do Apóstolo de Allá e prestei atenção em sua recitação e percebi que ele recitou diferente em vários modos que o Apóstolo de Allá não havia me ensinado. Eu estava prestes a partir contra ele durante sua oração, mas controlei meu temperamento e quando ele havia completado sua oração, eu pus a parte superior de suas roupas em volta de seu pescoço e o agarrei por elas e disse, “Quem te ensinou esta Surata que eu te ouvi recitar?” Ele respondeu, “O Apóstolo de Allá a ensinou a mim”. Eu disse, “Você está mentindo para mim, porque o Apóstolo de Allá a ensinou a mim de um jeito diferente do seu”. Então eu o arrastei até o Apóstolo de Allá e disse, “Eu ouvi esta pessoa recitando a Surata Al-Furqan de um jeito diferente do que você me ensinou!” Ao que o Apóstolo de Allá disse, “Desprenda-se (Umar) e recite, oh! Hisham!” Então ele recitou do mesmo modo que eu o ouvi recitando. Então o Apóstolo de Allá disse, “Ela foi revelada deste modo”, e completou, “Recite, oh! Umar”, e eu a recitei tal como ele me havia ensinado. O Apóstolo de Allá então disse, “Ela foi revelada desta forma. Este Alcorão tem sido revelado para ser recitado de sete modos diferentes, então recite-o do modo que for mais fácil para você.”
Bukhari: vol. 4, hadith 682, livro 56
Narrou Ibn Mas’ud:
Eu ouvi uma pessoa recitando um Verso (do Alcorão) de certo jeito, e eu havia ouvido o Profeta recitando o mesmo Verso de um jeito diferente. Então eu o levei até o Profeta e o informei sobre isso, mas notei o sinal de desaprovação em seu rosto, e então ele disse, “Vocês dois estão corretos, então não se discordem, porque as nações antes de vocês diferiram e então foram destruídas.”
As hadiths acima claramente mostram que Mohamed permitiu alguma variação concernente à recitação do Alcorão.
Bukhari: vol. 6, hadith 509, p. 477; livro 61
Narrou Zaid-bin Thabit:
Abu Bakr As-Siddiq enviou uma mensagem para mim quando o povo de Yama-ma havia sido morto (i.e. um número de companheiros que lutaram contra Musailama). (Eu fui até ele) e encontrei Umar bin Al-Khattab sentado com ele. Então Abu Bakr disse-me, “Umar veio até mim e disse: ‘Houve infelizes acidentes entre a Qurra do Alcorão (i.e. aqueles que sabiam o Alcorão de cor) no dia da batalha de Yama-ma, e estou com medo que mais infelizes acidentes possam ocorrer à Qurra em outros campos de batalha, pela qual uma grande parte do Alcorão pode ser perdida. Por esta razão eu sugiro que você (Abu Bakr) ordene que o Alcorão seja ajuntado’.” Eu disse a Umar, “Como você pode fazer algo que o Apóstolo de Allá não fez?” Umar disse, “Por Allá, este é um bom projeto”. Umar continuou me incitando a aceitar sua proposta até que Allá abriu meu peito (me persuadiu) a isto e eu comecei a entender a boa idéia que Umar havia pensado.
Esta hadith claramente mostra que Mohamed nunca fez uma reunião final de todo o Alcorão antes de sua morte, porque quando Abu Bakr foi convidado a agrupar o Alcorão em um só volume ele disse: Como você pode fazer algo que o Apóstolo de Allá não fez? Mohamed não fez uma coleção final do Alcorão porque houve muitos de seus companheiros aos quais ele confiou ensinar o Alcorão e estes fizeram suas próprias coleções:
Bukhari: vol. 6, hadith 521, pp. 487-488; livro 61
Narrou Masruq:
… Eu ouvi o Profeta dizendo, “Tome (aprenda) o Alcorão de quatro (homens): ‘Abdullah bin Masud, Salim, Mu'adh e Ubai bin Ka’b.”
(Por favor tome note de Ubai [Ubayy] e Masud. Suas coleções do Alcorão foram importantes para os eventos posteriores da história do Alcorão).
Estes companheiros de Mohamed fizeram suas próprias coleções do Alcorão e ensinaram o Alcorão aos seus alunos. Entretanto, estes Alcorões não eram o mesmo e a confusão logo ascendeu entre os Muçulmanos primitivos sobre qual era o modo correto de se recitar o Alcorão. As duas próximas hadiths dão exemplos desta confusão:
Bukhari: vol. 6, hadith 468, p. 441-442; livro 60
Narrou Ibrahim:
Os companheiros de ‘Abdullah (bin Mas’ud) foram a Abi Darda’, (e antes que tivessem chegado a sua casa), ele os procurou e os encontrou. Então ele os questionou: “Quem dentre vocês pode recitar (o Alcorão) como ‘Abdullah o recita?” Eles replicaram, “todos nós”. Ele perguntou, “Quem de vocês o sabe de cor?”. Eles apontaram para ‘Alqama. Então ele perguntou a Alqama: “Como você ouviu ‘Abdullah bin Mas’ud recitando a Surata Al-Lail (A Noite)?” Alqama recitou:
‘Pelo macho e fêmea.’ Abu Ad-Darda disse,
‘Testifico que ouvi o Profeta recitando do mesmo modo, mas este povo quer que eu recite isto: ‘E por Ele que criou macho e fêmea’.
Mas por Allá, eu não os seguirei.”
A hadith acima mostra que os Muçulmanos de diferentes regiões discordavam sobre o modo que um verso em particular deveria ser lido. Aqueles que aprenderam o Alcorão de ‘Abdullah bin Mas’ud disseram a Surata 92:1-3 como ‘Pelo macho e fêmea’, enquanto os outros Muçulmanos disseram ‘E por Ele que criou macho e fêmea’. Consequentemente, os Muçulmanos antigos não memorizaram o Alcorão do mesmo modo.
Veja este problema novamente na seguinte hadith.
Bukhari: vol. 6, hadith 527, p. 489; livro 61
Narrou Ibn Abbas:
Umar disse, ‘Ubai (Ubayy) foi o melhor de nós para recitar (o Alcorão), porém nós deixamos algumas de suas recitações’. Ubai diz, ‘Eu tenho recebido da boca do Apóstolo de Allá e não abandonarei isto por nenhum razão.’
Mas Allá disse: ‘Nenhuma de nossas revelações ab-rogamos ou efetuamos que fosse esquecida, mas Nós substituímos para algo melhor ou similar.’ (Alcorão 2:106)
Esta hadith claramente mostra que os Companheiros de Mohamed discordaram sobre quais versos foram ab-rogados ou removidos. Aqui vemos que Ubai continuou a recitar o Alcorão com versos que outros Companheiros consideraram ter sido agora anulados ou removidos. Parece que Ubai se recusou a aceitar que os versos foram anulados porque ele diz: Eu tenho recebido da boca do Apóstolo de Allá e não abandonarei isto por nenhum razão. A hadith então cita a Surata 2:106 para explicar que este foi um exemplo de ab-rogação. O resultado, contudo, foi que os Companheiros recitaram o Alcorão diferentemente, porque Ubai continuou recitando os versos ab-rogados.
As duas hadith acima relatam como Masud e Ubai recitaram o Alcorão diferentemente dos outros Muçulmanos. Nós já temos visto que estes dois homens foram recomendados por Mohamed como sendo homens dos quais se era honroso aprender o Alcorão. Entretanto, já que suas coleções do Alcorão não eram a mesma, isso causou problemas para os Muçulmanos que aprenderam o Alcorão deles. O estudioso Muçulmano Labib as-Said relata o seguinte:
“Os Sírios,” nós dizemos, “contenderam com os do Iraque, primeiro sobre a leitura de Ubayy bin Ka’b, e depois com a leitura de ‘Abd Allah ibn Mas’ud, cada um acusando o outro de incredulidade”. (Labib as-Said, The Recited Koran: A History of the First Recorded Version, trad. para o inglês de B. Weis, et. al., Princeton, Nova Jersei: The Darwin Press, 1974, p. 23)
Alguns estudiosos Muçulmanos como Labib as-Said [1] e Ahmad Von Denffer [2] têm afirmado que as diferentes coleções do Alcorão feitas por Ibn Masud e Ubai (e outros Companheiros também) somente foram pretendidas para “uso particular”. Contudo, as hadiths acima citadas mostram que o Companheiro Ibn Masud ensinou sua versão do Alcorão aos seus estudantes, tal como fez Ubai, e neste tempo estes estudantes estiveram em conflito um com o outro. A história Muçulmana e recentes descobertas arqueológicas também apóiam a conclusão de que estas coleções não foram para “uso particular” e sim para uso público [3].
Nós vemos como esse problema foi resolvido nesta seguinte hadith.
Bukhari: vol. 6, hadith 510, pp. 478-479; livro 61
Narrou Anas bin Malik:
Hudnaifa bin Al-Yaman veio a Uthman (Othman) no tempo em que o povo de Sham e o povo do Iraque estavam partindo para a guerra para conquistar a Armênia e Adharbijan. Hudnaifa estava com medo das diferenças deles na recitação do Alcorão (o povo de Sham e Iraque), então ele disse a Othman, “oh! Principal dos Fiéis! Salve esta nação antes que eles difiram sobre o Livro (Alcorão)...” Então Othman enviou uma mensagem a Hafsa dizendo, “Envie-nos os manuscritos do Alcorão para que possamos compilar o material em cópias perfeitas e devolvê-los para vocês.” Hafsa enviou-os para Othman. Então Othman ordenou a Zaid bin Thabit, ‘Abdullah bin AzZubair, Said bin Al-As e ‘AbdurRahman bin Harith bin Hisham a reescrever os manuscritos em cópias perfeitas. Othman disse aos três homens de Quraish, “Caso vocês discordem de Zaid bin Thabit em qualquer ponto do Alcorão, então escrevam (o ponto de discordância) no dialeto dos Quraish, porque o Alcorão foi revelado nessa língua.” Eles assim o fizeram, e quando eles já haviam escrito muitas cópias, Othman devolveu os manuscritos originais para Hafsa. Othman enviou para cada província Muçulmana uma cópia do que eles haviam copiado e ordenou que todos os outros materiais do Alcorão, quer fossem fragmentos de manuscritos ou cópias completas, fossem queimados...”
Aqui vemos como o problema de haver diferentes versões do Alcorão foi resolvido. Foi resolvido por Othman ao padronizar uma versão do Alcorão e ordenando que todas as outras fossem queimadas. Deste modo até mesmo as “sete” variações que Mohamed permitiu foram removidas e o mesmo ocorreu com as outras coleções feitas pelos outros Companheiros. Sendo assim, a partir daquele momento todas as tradições escritas e orais deveriam estar conforme a versão do Alcorão de Othman.
É digno de nota aqui que a Bíblia nunca teve uma queima indiscriminada de manuscritos para padronizar seu texto tal como o Alcorão teve.
A próxima pergunta que devemos fazer é, “Othman e sua equipe fizeram alguma edição ou seleção quando fizeram sua versão do Alcorão?” As próximas três hadiths mostram-nos que houve edição e seleção envolvidas.
Bukhari: vol. 8, hadith 817, p. 539-540; livro 82
Allá enviou Mohamed com a Verdade e revelou o Livro Sagrado a ele, e ao longo do que Allá revelou estava o Verso do Rajam (o apedrejamento de uma pessoa casada [homem ou mulher] que cometesse um ato sexual ilegal), e nós recitamos este Verso, o entendemos e o memorizamos. O Apóstolo de Allá levou a cabo a punição por apedrejamento e nós também o fizemos após ele. Temo que após muito tempo passado alguém diga, ‘Por Allá, nós não encontramos o Verso do Rajam no Livro de Allá’, e assim eles se desencaminharão deixando de lado um dever que Allá revelou.
É óbvio que ‘Umar estava convencido de que apedrejar um adúltero era uma parte do Alcorão e não deveria ser removido. O moderno Alcorão, entretanto, não contém estes versos. Então onde é que eles foram parar? Estes versos devem ter sido removidos por aqueles que estavam encarregados do texto do Alcorão. O que está bem claro é que ‘Umar se lembrou destes versos e não pensou que eles pudessem ser editados ou removidos, enquanto os outros obviamente o fizeram, e então hoje nós não temos estes versos no moderno Alcorão.
Nós vemos o controle de Othman sobre o texto novamente nesta seguinte hadith.
Bukhari: vol. 6, hadith 60, p. 46; livro 60
Narrou Ibn Az-Zubair:
Eu disse a Othman, “Este Verso que está na Surata al-Baqara (A Vaca): ‘Aqueles de vocês que morrem e deixam esposas para trás... sem mandá-las embora’, foi substituído por outro Verso. Então por que você o escreve (no Alcorão)?” Othman disse, “Deixe isto (onde está), oh! Filho de meu irmão, porque eu não vou substituir nada (i.e. do Alcorão) de sua posição original”.
Aqui vemos que Ibn Az-Zubair e Othman discordaram sobre se um verso em particular deveria ou não ser incluído no Alcorão. Ibn Az-Zubair creu que o verso havia sido abolido e conseqüentemente poderia ser removido do Alcorão, enquanto Othman estava insistindo que o verso permaneceria. Othman persistiu e este verso está no Alcorão hoje.
Novamente, na próxima hadith, vemos como Othman teve controle sobre o estado final do texto do Alcorão.
Mishkat Al-Masabih: livro 8, cap. 3, última hadith [4]
Ibn Abbas disse que questionou Othman [1] sobre o que os havia influenciado tratar do al-Anfal [2] que é um dos mathani [3] e do Bara’a [4] que é um dos cem versos, unindo-os sem escrever a linha contendo “Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso,” [5] e isto pondo ao longo de sete longos versos. Quando ele perguntou novamente o que os havia influenciado a fazer isso, Othman respondeu, “Durante um período, suratas com numerosos versos poderiam ser reveladas ao mensageiro de Deus, e quando algo vinha até ele, ele poderia chamar um daqueles que escreveram e dizer a eles para adicionar estes versos na Surata em que tal e tal está mencionada. Agora al-Anfal foi um dos primeiros a vir em Medina e Bara’a estava ao longo do último Alcorão a vir, e o assunto de um se assemelhou ao assunto de outro, então, porque o mensageiro de Deus foi tomado sem haver nos explicado se este pertencia àquele, por esta razão eu os uni sem escrever a linha contendo ‘Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso’, e os inseri ao longo das suratas.”
Notas de rodapé para a hadith acima:
Othman, o terceiro sucessor de Mohamed.
al-Anfal é a Surata (capítulo) 8 do Alcorão.
mathani: suratas com menos de 100 versos
Bara’a, também chamada de Tawba, é a Surata 9.
Cada Surata no Alcorão é iniciada por “Em nome de Deus...” exceto a Surata 9.
Aqui vemos que Othman foi questionado por outros Muçulmanos sobre por quê razão ele não incluiu a frase, “Em nome de Deus, o Clemenete, o Misericordioso”, no início da Surata 9. Sua resposta foi que Mohamed morreu sem explicar aonde a Surata 9 pertencia e então ele (Othman) incluiu isso à Surata 8 porque elas se “pareciam” uma com a outra. O que é óbvio é que alguns Muçulmanos sentiram que a frase deveria estar ali enquanto Othman não pensou assim. A decisão de Othman prevaleceu e a frase não está incluída no moderno Alcorão.
Este três exemplos da hadith claramente mostram que houve algumas edições envolvidas com aqueles que compilaram o Alcorão. E está também claro que a decisão dos editores não foi universalmente aceita; isto não teve um consenso universal.
A próxima hadith mostra a reação de alguns dos Companheiros ao Alcorão de Othman.
Muslim: vol. 4, hadith 6022, p. 1312; livro 29
‘Abdullah (b. Mas’ud) relatou que ele (disse a seus companheiros para esconderem suas cópias do Alcorão) e, além disso, disse: Ele que oculta todas as coisas deve trazer à tona aquilo que ele tem ocultado no Dia do Juízo, e então disse: De que modo você me ordena a recitar? De fato eu recitei diante do Mensageiro de Allá (que a paz seja sobre ele) mais de setenta capítulos do Alcorão e os Companheiros do Mensageiro de Allá (que a paz seja sobre ele) sabem que eu tenho melhor conhecimento do Livro de Allá (do que eles), e se eu soubesse que alguém tem melhor entendimento do que eu, eu teria ido até ele. Shaqiq disse: Sentei-me na companhia dos Companheiros de Mohamed (que a paz seja sobre ele) mas não ouvi ninguém rejeitá-la (isto é, sua recitação) ou encontrar qualquer falta nela.
Quatro observações básicas podem ser vistas nesta hadith.
Ibn Mas’ud está dizendo ao povo para esconder seus Alcorões por alguma razão.
Ele parece ter sido ordenado por alguém para usar um modo diferente de recitação. Isto só pode ser referente ao tempo em que Othman padronizou sua versão do Alcorão e queimou todas as outras versões.
A objeção de Ibn Mas’ud sobre a mudança do modo que ele recitou o Alcorão foi esta: Eu (Mas’ud) tenho melhor conhecimento do Livro de Allá (do que eles).
Shaqiq disse que os Companheiros de Mohamed concordaram com Mas’ud.
O estudioso Muçulmano Ahmad ‘Ali al Imam também relata que nem todos os Muçulmanos aceitaram o Alcorão de Othman:
Após a compilação de Othman, todos os Qurra’ (leitores do Alcorão) foram requeridos a somente ler de acordo com o masahif de Othman. Por esta razão os códices pessoais foram ajuntados e destruídos. Eventualmente, o masahid de Othman dominou todas as cidades (amsar),com apenas algumas insignificantes resistências, por exemplo como no caso de Ibn Mas’ud e Ibn Shunbudh. (Ahmad ‘Ali al Imam, Variant Readings of the Qur’an, Virginia: IIIT, 1998, p. 120)
Parece-nos que Ibn Mas’ud nunca aceitou o Alcorão de Othman e Othman pode ter até mesmo chicoteado Ibn Mas’ud publicamente por isso.
Mas'ud se recusou a entregar sua cópia ao comitê cujo presidente, embora fosse um dos leitores da palavra de Deus, havia ganho muito menos confiança e autoridade que ele. Esta recusa incitou tão grande indignação do Califa que ele publicamente açoitou o “velho santo”. Alguém notou que o velho companheiro do profeta teve duas costelas quebradas pela violência dos golpes e que ele morreu após três dias. Esta crueldade, que acarretou em ódio de seus contemporâneos sobre Othman, hoje é considerada um crime atroz. (T. J. Newbold, Journal Asiatique, Dezembro de 1843, p. 385)
Sintetizando
Mohamed nunca finalizou como o Alcorão deveria ser recitado e permitiu variações.
Houve reais variações e o Alcorão foi sendo memorizado e recitado após a morte de Mohamed. Isso causou problemas.
Othman e uma equipe de outros realizaram uma certa quantia de edições no texto para produzir um texto padrão para o Alcorão.
Então Othman ordenou que todos os outros Alcorões fossem queimados e que sua versão fosse a única versão padrão para o mundo Muçulmano. A tradição oral e escrita agora tem que estar de acordo com a versão padronizada de Othman.
Alguns dos Companheiros, como Ibn Mas’ud, não ficaram felizes com as ações de Othman e sofreram por isso.
Conclusão
No início deste artigo nós consideramos as seguintes afirmações:
O texto do Alcorão é inteiramente confiável. Ele tem permanecido tal como é, inalterado, sem edições, não fraudado de nenhuma forma, desde o tempo de sua revelação. (M; Fethullah Gulen, Questions this Modern Age Puts to Islam. London: Truestar, 1993. p. 58)
Ele (o Alcorão) foi memorizado por Mohamed e então ditado aos seus companheiros, e escrito por escribas, os quais o conferiram com muita precisão durante sua vida. Nenhuma só palavra de seus 114 capítulos (suratas) foi alterada ao longo dos séculos. (Understanding Islam and the Muslims, The Australian Federation of Islamic Councils Inc. (panfleto) Nov. de 1991).
Agora, tendo lido tantas hadiths e outras fontes, é óbvio que estas afirmações Muçulmanas são um exagero e não têm apoio algum das autoridades das hadiths. De fato, as hadiths relatam o oposto. Elas dizem que Mohamed nunca padronizou o Alcorão e permitiu variações e que os Muçulmanos primitivos memorizaram o Alcorão de modos um pouco diferentes. Então Othman e uma equipe de outros padronizou uma versão do Alcorão e ordenou que todas as outras fossem queimadas. Não tenho dúvidas que a coleção do Alcorão que Othman fez é um bom relato do que Mohamed recitou. Contudo, esta não foi a única boa coleção que foi feita e esta não foi a coleção feita por Mohamed.
Notas finais
[1] Labib as-Said, The Recited Koran: A History of the First Recorded Version, tr. B. Weis, M. Rauf e M. Berger, Princeton, New Jersey: The Darwin Press, 1975, p. 22
[2] Ahmad Von Denffer, `Ulum Al-Qur'an, Leicester: The Islamic Foundation, 1994 (Edição Revisada), p. 52
[3Aqui estão algumas poucas referências que mostram que as coleções de Masud e Ubai fo-ram usadas publicamente.
Bukhari e Muslim relatam várias hadits sobre os argumentos comuns entre os Muçul-manos primitivos a respeito das diferenças entre a recitação do Alcorão de Mas’ud do Alcorão de Othman. Isto mostra que o Alcorão de Mas’ud não foi apenas para ‘uso particular’.
Bukhari:
Vol. 5, hadith 85-86, pp. 62-64, hadith 105, p. 71-72; livro 57.
Vol. 6, hadith 467-468, pp. 441-442; livro 60.
Muslim:
Vol. 2, hadith 1797-1802, pp. 393-394, livro 4.
Al-Nadim lista algumas das diferenças entre as coleções de Masud e Ubai e a coleção de Othman (pp. 53-62). Em outra seção de seu livro entitulada: The Books Composed about Discrepancies of the [Qur'anic] Manuscripts (p. 79), Al-Nadim lista sete estu-diosos antigos do Alcorão que estudaram as diferenças entre estas diferentes coleções. (Bayard Dodge (tr.), The Fihrist of al-Nadim (2 vols) (New York, London: Columbia University Press, 1970. pp. 53-62)
Vários Alcorões foram descobertos em 1980 em San`a'. Alguns deles têm a ordem das Suratas que é considerada sendo de Mas’ud e dos outros. Deste modo, nós temos có-pias atuais dessas coleções e então podemos ter certeza que elas existiram e foram de uso público. (Gerd-R Puin, Observations on the Early Qur'an Manuscripts in San`a'. Em "The Qur'an as Text" ed. Stefan Wild, Leiden: Brill, 1996. pp. 110-111)
[4] Mishkat Al-Masabih: Ahmad, Tirmidhi e Abu Dawud transmitiram isto. (tradução para o inglês de James Robson, Sh. Muhammad Ashraf, Lahore, p. 470
* This article is a translation of 'How and why the qur'an was standardized' - original
* Este artigo é uma tradução de 'How and why the qur'an was standardized' - original
Por Samuel Green - Tradução de Wesley Nazeazeno
Fonte: CACP
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