Faltando pouco para a conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre alteração climática, em dezembro, a ex-ministra do Meio Ambiente do Brasil atacou as políticas governamentais brasileiras.
Marina Silva, que renunciou ao ministério no ano passado por acreditar que outros ministros não levavam as questões ambientais a sério, disse que o governo de esquerda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria liderar, baseado no exemplo, durante a reunião de cúpula de Copenhague.
Ela acredita que o Brasil deveria adotar metas para a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa como parte de iniciativas globais para fazer pressões pela redução dos índices de desmatamento e pela diminuição das emissões industriais por parte dos países ricos.
"Nós precisamos garantir que o Brasil se comprometa com metas, mas estas metas têm que ser globais - elas não devem se restringir à redução do desmatamento, mas precisam cobrir também todos os setores que produzem emissões", disse a ex-ministra ao "Financial Times".
O Brasil deverá se comprometer a reduzir o índice atual de desmatamento em 80% até 2020, mas não se sabe se o país aceitará metas de redução de emissões de carbono.
Marina Silva, uma filha de seringueiro que se tornou uma das principais figuras do movimento ambientalista global, argumenta que as metas de redução das emissões de gases causadores do efeito estufa deveriam ser parte de um compromisso mais amplo de mudança do modelo econômico tanto nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento. Mas ela acredita que o governo carece da visão necessária para modificar a forma como aborda a questão do desenvolvimento.
"O Brasil e os outros países precisam tornar o meio ambiente e o desenvolvimento partes da mesma equação e não podem continuar pensando que esses dois conceitos são conflitantes", disse ela. "Não existe no mundo nenhum exemplo a ser seguido. O Brasil precisa liderar pelo exemplo."
Marina Silva, que cresceu em uma família de 11 filhos, se mudou para a cidade de Rio Branco aos 16 anos para tratar de uma hepatite. Ela frequentou a escola enquanto trabalhava como empregada doméstica e pretendia se tornar freira. Em vez disso, Marina acabou entrando para a política, tendo ajudado a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT) do presidente Lula da Silva.
A sua dedicação às questões ambientais fizeram com que fosse reconhecida internacionalmente. Mas em agosto deste ano ela deixou o partido governista em protesto contra um dos vários escândalos de corrupção e entrou para o Partido Verde. Ela deverá ser a candidata verde nas eleições presidenciais do ano que vem.
As nações em desenvolvimento têm resistido às pressões para que se comprometam a reduzir emissões, argumentando que as nações ricas deveriam a liderança quanto a essa iniciativa. Mas o Brasil começou a aceitar a ideia de assumir tal compromisso, especialmente porque ele foi fundamental, quando Marina Silva era a ministra do Meio Ambiente, para persuadir outros países de que o combate ao desmatamento deveria ser considerado uma contribuição para a redução de emissões.
O Brasil é um dos países que mais contribui para o aquecimento global devido à grande parcela de suas florestas que é derrubada a cada ano para a implementação da pecuária e outras atividades. Durante a gestão de Marina Silva, o índice de desmatamento caiu drasticamente.
Ela afirmou que a liderança do Brasil deverá encorajar outros países a seguirem o exemplo. "Se o Brasil assumir um compromisso, isso ajudará - ou pelo menos eu espero que ajude - a fazer com que a China, a Índia, a África do Sul e o México adotem medidas similares."
Quando lhe perguntam se a postura do resto do governo mudou após a sua renúncia, ela responde: "Não, infelizmente não. Os ministros da Agricultura, da Energia e do Transporte têm muita dificuldade em entender essa questão. Creio que, infelizmente, os partidos políticos e o Congresso, bem como o Executivo, estão aprisionados no status quo e são incapazes de ter a visão necessária para implementar mudanças rumo a um novo modelo de desenvolvimento".
Marina Silva saiu do PT para protestar contra o apoio de Lula da Silva a José Sarney, o presidente do Senado, que estava no centro de um escândalo de corrupção.
Analistas dizem que Lula da Silva precisa do apoio do partido de Sarney, o PMDB, para que Dilma Rousseff, a principal ministra do presidente e provável candidata, o suceda na Presidência no ano que vem. Caso Marina da Silva dispute, a sua candidatura poderá transformar a eleição já que, em vez de uma disputa entre dois candidatos, haveria maior possibilidade de uma decisão no segundo turno.
Segundo Marina Silva, os países em desenvolvimento têm razão ao esperarem apoio dos países ricos aos seus esforços para a redução da emissão de gases causadores do efeito estufa. Mas isso não deveria ser uma pré-condição.
"Deveria haver apoio dos países desenvolvidos não só em termos de financiamento, mas também para que se encontrem mecanismos capazes de tornar possível a modificação do modelo de desenvolvimento", disse ela.
"Mas não acho que se deva exigir primeiro financiamento externo para que se comece a fazer algo."
Fonte: Financial Times
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