A vida agitada, corrida, tem provocado interferências na nossa intimidade com Deus (Lc 10. 41-42).
Não é o barulho do dia-a-dia que nos impede de ouvi-lo. Qualquer um pode ter um momento com Deus, seja na agitação das barcas, dentro de um ônibus superlotado, ou no burburinho do shopping, etc. Na verdade, não é o barulho externo que nos impede de um contato íntimo com Deus, de uma experiência a mais, de um encontro a sós na agitação dos grandes centros – ainda que o profeta Elias esperasse encontrá-lo num forte vento, depois do vento um terremoto, e nada; depois do terremoto um fogo, e para a surpresa dele o Senhor não estava no fogo, na agitação da natureza (1 Rs19.11-12) – mas é precisamente o barulho interior que põe o silêncio em xeque.
Isso tudo me faz lembrar o barulho intenso, quase insuportável das grandes hélices dos galões com mais de três andares de altura na empresa farmacêutica, onde fazia a amostragem do caldo fermentado (antibiótico) para análise no laboratório. Por mais intenso que fosse aquele barulho, experimentava no silêncio do meu coração a voz do Senhor. Silêncio interior que indica a capacidade de conseguir se voltar inteiramente para Deus no mais profundo do íntimo, com o conseqüente domínio da mente, de tal forma que a pessoa seja sujeito e não objeto, capaz de concentrar todas as forças da atenção em Deus, em completa quietude. Mas veja, que é justamente o barulho interior que impede o silêncio, não o contrário. É nesse silêncio interior que se dá o cruzamento e integração dos dois grandes mistérios, o de Deus e o do seu próprio ser. Não foi sem razão que Jesus indicou esse caminho, o caminho do silêncio: “Mas tu, quando orares, entra no teu aposento, e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto” (Mt 6.5-8). Não serão muitas palavras, e nem a precipitação da boca e nem a pressa do coração que farão Deus te ouvir (Ec 5.2). Acalma-te, a ansiedade do coração é danosa (Pv 25). Não se importe com o barulho de fora, mas com a agitação incontrolável do seu interior. Toda a expectativa do profeta para ouvir Deus, não se deu da forma como ele imaginava, porém, “(...) depois do fogo uma voz calma e suave” (1Rs 19.11b).
Pr. Eliezer Alves de Assis
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