segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Experiência de Sentido presente no Antigo Testamento

Para nós cristãos a auto-revelação de Deus acontecida na história bíblica nos chega pela Palavra da Igreja e, isso se dá, pelos trabalhos evangelísticos, pela pregação dos ministros e pela leitura compartilhada na comunidade leiga, ouvindo-se mutuamente e juntos dando testemunho no meio do povo. Através desta palavra os atos libertadores de Deus na história veterotestamentária chegam a nós, iluminam nossa fé vivida na história presente.
Portanto, o Deus da Revelação manifesto nas páginas do Antigo Testamento é necessário para uma identidade profunda da experiência e da concepção de Deus. Mas vale ressaltar que no acontecimento de Cristo Deus se comunicou definitiva e radicalmente com o mundo, por isso mesmo cremos que todo ato anterior dessa história bíblica do povo de Deus de revelação deve ter uma orientação dessa interna para Cristo, isto é, a experiência e a concepção de Deus no Novo Testamento será, portanto a plenitude do que estava iniciado e latente no Antigo como auto-revelação de Deus.

Em todo processo de revelação histórica que é recolhido na Bíblia podemos distinguir os acontecimentos e situações, as “experiências” coletivas, ou seja, do povo como povo. É o processo de revelação que se dá pelo povo, pela convivência. Trata-se da experiência do povo, da família, do clã, onde o individualismo não é considerado, mas sim a comunidade, como no nomadismo. É um mergulho na história que se abre paulatinamente desvelando o Deus da revelação através da própria história, que antes de ser cronológica é, de fato, teológica. Esta descoberta progressiva vai da monolatria até o monoteísmo (Ex 20,3 – Is 45,21). Um Deus fora de mim para um Deus diante de mim.

Os fatos históricos, sobre o horizonte da fé do mesmo povo, que é comunidade, são vividos ou percebidos de ângulos e com acentos diferentes segundo as distintas gerações e os diferentes meios sócio-religiosos. As mesmas experiências, ao mesmo tempo históricas e “espirituais”, são refletidas e projetadas seguindo uma pluralidade de tradições teológicas. Mais a grande pergunta que se deve fazer é: qual o proveito dessas histórias tematizadas do povo da aliança para o povo hoje? Vejo que para o trabalho da evangelização é necessário usar as tradições de forma que, mesmo situadas no seu momento (contexto), deve-se procurar a conexão de cada uma para diferentes situações da fé cristã, de diferentes grupos, em nossa realidade presente. Há também a possibilidade de se trabalhar a partir da experiência e da teologia do Antigo Testamento, em correlação com nossa experiência espiritual mais profundo e para dar motivo de nossa fé cristã na nossa realidade latino-americana. A partir de algum tema da experiência do Deus vivo que se manifesta no Antigo Testamento, deve-se fazer uma síntese que possa ajudar-nos a procurar respostas mais bem fundamentadas para nossa problemática e ampliar o horizonte de nossa caminhada.
O monoteísmo verificado no período do exílio babilônico proporciona uma visão universalizada de Deus. E de fato procuramos um Deus universal, Deus da natureza e da sociedade, da humanidade inteira e do cosmos. Esse é o Deus teologizado pelo deutero-Isaías. O Deus de todas as pessoas e da história universal, evidentemente que não pode ser monopolizado por nenhuma instituição. É um Deus que escolhe pessoas e convoca comunidades, particulares e limitadas, que o reconhecem e proclamam como um Deus profundamente pessoal, que nos interpela e nos envolve em seu serviço. Pessoas e comunidades que Deus chama como suas testemunhas, sua família ou o seu povo entre as nações. É o Deus que nos convoca para reconhece-lo e anuncia-lo em comunidades. É o Deus que nos convida sempre a romper rotinas institucionais e barreiras de grupos para sair de nós para os outros, procurando aprender com eles, com suas experiências e servi-los. Vivermos inteiramente em comunidade, não sedentários e desvinculados com o elemento comunitário.
O deutero-Isaías apresenta uma certeza: haverá um novo Êxodo, uma saída não só do cativeiro, mas da mesma culpa responsável por tanto sofrimento. O interesse de Deus pelos oprimidos, e o seu poder para libertar dominam todo o livro. Escrito em época de exílio e de repressão (42,22), mas cheio de uma esperança que é a certeza, o livro merece ser lido todo. O agente evangelizador precisa ter em mente que o deutero-Isaías deve, porém, ser refletido com respeitosa sensibilidade, pois, o Israel exilado não está longe de nós. O Servo de Javé mora em nossas favelas e mocambos, mas principalmente, o Deus salvador de Israel está vivo e presente. E esse Deus que nos interfere e nos chama a uma vida comunitária se manifesta no encontro.
Pr. Eliezer Alves de Assis

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