Durante a história, a construção das ideias sempre teve pontos de partida; uma espécie de “grau zero do conhecimento”, ponto a partir do qual surgem outras afirmações. Assim, por um tempo a Metafísica era a filosofia primeira. Isto é, as discussões partiam dos pressupostos da Metafísica de modo que o sobrenatural, as questões sobre a origem do mal, etc. eram gestoras das conclusões. Com a secularização da Filosofia, a Metafísica deixou de ser a filosofia primeira e cedeu seu lugar ao racionalismo, ao existencialismo e a outros campos da própria Filosofia. Dessa forma, quando se fala que a Metafísica deixou de ser a filosofia primeira, pode-se estar afirmando que Deus deixou de ser a fonte de verdade.
No Cristianismo, tenho notado que a teologia primeira tem sido a Soteriologia, isto é, a doutrina da salvação, como se tivéssemos nascidos para ser salvos, o que equivaleria a dizer que para sermos salvos teríamos de cair em pecado, tornando Deus culpado por isso, uma grave contradição teológica.
Afirmo isso com base na percepção de que muita coisa na vida comum da igreja gira em torno da salvação. A hinódia, o foco do trabalho na igreja, os sermões (culto noturno como evangelístico), as ênfases para o trabalho do crente, a seleção dos dons que mais são valorizados e reconhecidos, frases tais como “se uma igreja não for missionária nada sobra...”, “o sangue do pecador será requerido do crente que não evangelizar...”, “se você não conquistar pelo menos uma alma para Cristo não pode dizer que é crente...”. Eu já cheguei a ouvir que a missão da Escola Bíblica Dominical é evangelizar, e eu pensei que a missão de uma escola era ensinar!?!
Por favor, não pense que estou falando contra evangelização e missões, particularmente acho que o que fazemos nesse campo ainda é muito pouco e, muitas vezes, um pouco empobrecido por um trabalho meramente conceitual baseado apenas numa lista de passos que chamamos de “Plano da Salvação”.
O que estou falando é que o ponto de partida da Teologia não pode ser a doutrina da salvação ou qualquer outra, mas o próprio Deus. Quando interpretamos tudo à luz da salvação e não de Deus, poderemos facilmente cair no antropocentrismo, pois, no fundo, partimos do ser humano e sua necessidade de ser salvo e não da razão pela qual Deus nos salvou — para nos levar de voltar a uma vida de total e incondicional dependência dele.
Isso quer dizer que a teologia primeira é a própria Teologia — a doutrina do próprio Deus — de quem vem todo sentido e razão de nossa vida. Tudo o mais no Cristianismo precisa ser entendido a partir dele e somente dele. É recuperar o lugar de Deus, onde sempre deveria estar!
Vou dar um exemplo de que esse reposicionamento acaba provocando um aprofundamento em nossa compreensão do restante do campo teológico cristão. Quando colocamos a Teologia (Deus) como ponto de partida, isso significa que a salvação deverá ser reinterpretada. Em vez de ter apenas uma significação jurídica — perdão e justificação dos pecados —, ou mesmo escatológica — ganhar a garantia do céu—, a salvação tem também uma conexão cosmológica. Nesse sentido, ao sermos salvos, somos reposicionados na ordem das coisas criadas, daí o ensino de Paulo em 2Coríntios 5.17 “se alguém está em Cristo, é nova criação...”. Em outras palavras, eu volto potencialmente ao estado de pré-queda, ainda que continue com a natureza pecaminosa. Daqui poderemos compreender a necessidade do amadurecimento na vivência cristã, do desenvolvimento cristão. Veja que agora o significado da salvação foi amplificado.
Eu poderia agora aplicar tudo isso à eclesiologia, tanto no campo da compreensão doutrinária quanto na prática, revendo, por exemplo, o conceito de missão de igreja, mas vou deixar isso para um outro artigo.
Deus é o ponto de partida e o ponto de chegada de tudo. A ele seja toda honra, glória e poder. Amém!
No Cristianismo, tenho notado que a teologia primeira tem sido a Soteriologia, isto é, a doutrina da salvação, como se tivéssemos nascidos para ser salvos, o que equivaleria a dizer que para sermos salvos teríamos de cair em pecado, tornando Deus culpado por isso, uma grave contradição teológica.
Afirmo isso com base na percepção de que muita coisa na vida comum da igreja gira em torno da salvação. A hinódia, o foco do trabalho na igreja, os sermões (culto noturno como evangelístico), as ênfases para o trabalho do crente, a seleção dos dons que mais são valorizados e reconhecidos, frases tais como “se uma igreja não for missionária nada sobra...”, “o sangue do pecador será requerido do crente que não evangelizar...”, “se você não conquistar pelo menos uma alma para Cristo não pode dizer que é crente...”. Eu já cheguei a ouvir que a missão da Escola Bíblica Dominical é evangelizar, e eu pensei que a missão de uma escola era ensinar!?!
Por favor, não pense que estou falando contra evangelização e missões, particularmente acho que o que fazemos nesse campo ainda é muito pouco e, muitas vezes, um pouco empobrecido por um trabalho meramente conceitual baseado apenas numa lista de passos que chamamos de “Plano da Salvação”.
O que estou falando é que o ponto de partida da Teologia não pode ser a doutrina da salvação ou qualquer outra, mas o próprio Deus. Quando interpretamos tudo à luz da salvação e não de Deus, poderemos facilmente cair no antropocentrismo, pois, no fundo, partimos do ser humano e sua necessidade de ser salvo e não da razão pela qual Deus nos salvou — para nos levar de voltar a uma vida de total e incondicional dependência dele.
Isso quer dizer que a teologia primeira é a própria Teologia — a doutrina do próprio Deus — de quem vem todo sentido e razão de nossa vida. Tudo o mais no Cristianismo precisa ser entendido a partir dele e somente dele. É recuperar o lugar de Deus, onde sempre deveria estar!
Vou dar um exemplo de que esse reposicionamento acaba provocando um aprofundamento em nossa compreensão do restante do campo teológico cristão. Quando colocamos a Teologia (Deus) como ponto de partida, isso significa que a salvação deverá ser reinterpretada. Em vez de ter apenas uma significação jurídica — perdão e justificação dos pecados —, ou mesmo escatológica — ganhar a garantia do céu—, a salvação tem também uma conexão cosmológica. Nesse sentido, ao sermos salvos, somos reposicionados na ordem das coisas criadas, daí o ensino de Paulo em 2Coríntios 5.17 “se alguém está em Cristo, é nova criação...”. Em outras palavras, eu volto potencialmente ao estado de pré-queda, ainda que continue com a natureza pecaminosa. Daqui poderemos compreender a necessidade do amadurecimento na vivência cristã, do desenvolvimento cristão. Veja que agora o significado da salvação foi amplificado.
Eu poderia agora aplicar tudo isso à eclesiologia, tanto no campo da compreensão doutrinária quanto na prática, revendo, por exemplo, o conceito de missão de igreja, mas vou deixar isso para um outro artigo.
Deus é o ponto de partida e o ponto de chegada de tudo. A ele seja toda honra, glória e poder. Amém!
- AUTOR
Lourenço Stelio Rega
É teólogo, educador e escritor. É Bacharel e Mestre em Teologia, pós-graduado em Análise de Sistemas, Licenciando em Filosofia, Mestre em Educação e Doutor em Ciências da Religião. É Diretor Geral e também professor de Ética, Bioética, Filosofia da Religião e Grego do NT na Faculdade Teológica Batista de São Paulo. É co-autor do livro Noções do Grego Bíblico: gramátca fundamental (Edições Vida Nova). Visite o site do autor: www.etica.pro.br/jeitinho.Fonte: http://www.vidanova.com.br/teologiadet.asp?codigo=127
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