Quem não gosta de samba, bom cristão não é
No último dia 14 de maio, tive a reunião mais inesperada para um editor de livros cristãos. No fim da tarde, tomei um táxi no bairro carioca de Bonsucesso com direção à Cidade do Samba. Para quem não sabe, esse espaço é um complexo de galpões perto do centro do Rio que abriga os ateliês das escolas de samba do grupo especial, como Portela, Salgueiro, Mocidade Independente… Ou seja, as melhores do Brasil e do mundo.Chegando lá, como bom paulista sem samba no pé que sou, fiquei fascinado com o tamanho do local, que só parece pequeno diante dos carros alegóricos gigantes usados no carnaval deste ano e que ainda se espremem no local, pois só serão desmontados a partir de junho. Mas por que eu fui até lá? Resposta simples e direta: para me reunir com a diretoria da tradicionalíssima Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira da Mangueira e negociar um evento com o escritor cristão Max Lucado na quadra da escola. É isso mesmo – um pastor evangélico americano vai falar na quadra de uma escola de samba!
Quando surgiu essa possibilidade, parecia coisa de maluco. Simplesmente, começamos a brincar com a ideia de levar um autor evangélico com mais de 65 milhões de livros vendidos para aquele templo do samba. Quando paramos de rir, ficou a pergunta no ar: e por que não? Pensamos um pouco sobre o assunto, consultamos Lucado e ele topou. Organizamos a agenda e o único dia que encaixava era o 26 de julho – um domingo! Mais uma vez: e por que não?
Depois de um contato prévio com a diretoria da Mangueira, lá estava eu conhecendo o recém-eleito presidente da escola, Ivo Meirelles, e o diretor de Eventos, Roberto Benevides. Eles foram presenteados com livros com capas nas cores verde e rosa, em uma explícita homenagem à octogenária Mangueira, que se eternizou no samba ostentando aquelas duas cores em seu estandarte.
Os sambistas, é claro, adoraram a homenagem e se interessaram pelo evento inusitado. A reunião fluiu, acertamos vários detalhes, e tudo indica que, quando esta edição de CRISTIANISMO HOJE estiver nas mãos dos leitores, tudo já estará mais que confirmado. Ou seja, no último domingo de julho, Max Lucado não estará em nenhum templo cristão, mas na quadra da Mangueira – e tenho certeza de que Deus e sua igreja também estarão presentes por lá. Na programação, além da palavra do famoso pastor evangélico, que trará uma mensagem de esperança e fé aos sambistas, visitantes e crentes presentes, haverá uma programação musical. A bateria da Mangueira e um coral evangélico farão parte do espetáculo, tocando juntos hinos cristãos. É, os bumbos, repiniques, cuícas e tamborins da Estação Primeira serão usados para glorificar o nome do Senhor. E por que não?
A ocasião festiva leva também a algumas reflexões. Primeiro, porque mensagem cristã de esperança e redenção será levada à quadra da Mangueira, lá dentro da comunidade. Segundo, porque cristãos das mais diversas denominações terão, muitos pela primeira vez, contato com o samba, uma tradição tão brasileira e tão bela. Os mais críticos poderão lembrar do lado promíscuo e pagão do carnaval, que muitos consideram uma folia profana, mas a verdade é que o samba é muito mais do que isso. Ele é o ritmo mais brasileiro, o que mais exalta nossa alma de raízes negra, branca e indígena. O fato de muitas vezes aparecer atrelado a mulheres seminuas e bailes libertinos não quer dizer que esse rico gênero musical se limite apenas a isso. Há sambas com letras maravilhosas e, assim como qualquer outro ritmo, não existe nada contraditório em sua associação com o cristianismo. Na verdade, assim como a Igreja é muito mais do que seus erros do presente e do passado, o samba é muito maior do que alguns aspectos do carnaval que essa Igreja condena.
O samba é uma grande festa. O cristianismo, também. Que tal, então, festejarmos todos juntos e proclamar nossa bela tradição musical e também a mensagem redentora do Evangelho? É uma ocasião única para um grande testemunho de fé, quando os crentes em Jesus mostrarão aos seus irmãos do samba como Deus os ama. E olha, é provável que muitos evangélicos até arrisquem uns passinhos – afinal, quem não gosta de samba, bom cristão não é. Mais uma vez, a pergunta: e por que não?
Quem sabe um dia desses o pessoal da Mangueira, com direito a bateria, mestre-sala, porta-bandeira, baianas, velha guarda e tudo o mais, aparece para visitar uma de nossas igrejas? E por que não?
Autor: Carlo Carrenho
Fonte: Cristianismo HOje on line
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