sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Visita do Papa ao Reino Unido: Uma Avaliação

É, sem dúvida, um grande exagero de comentaristas da imprensa britânica falar em uma refundação católica da Inglaterra, com Bento XVI na Abadia de Westminster (onde são coroados os reis) falando o que queria para a liderança – inclusive política – do Reino Unido, mas se pode falar em uma reafirmação do Cristianismo ortodoxo.

O Papa não foi convidado nem pelo Arcebispo de Cantuária nem pelo Arcebispo de Westminster (líder da hierarquia católica romana), mas pela rainha Elizabeth II (de posições teológicas e morais conservadoras, descontente com os escorregadios liberais), para uma visita de Chefe de Estado (da Cidade do Vaticano) e não do Chefe da Igreja Romana. No palanque da recepção apenas Chefes de Estado, com os líderes religiosos em segundo plano. Em segundo lugar, a visita começa pela Escócia, onde a  religião oficial é a Igreja da Escócia (Presbiteriana), e a Igreja Episcopal da Escócia (Anglicana) é uma das tantas igrejas livres, e inexpressiva (1% da população). O primeiro dia ficou no eixo Edimburgo-Glasgow, e, obviamente, não se foi à Irlanda do Norte, porque o clima religioso por lá ainda não é de todo ameno...

Na Inglaterra, para os bramanistas, islâmicos e sikhs havia apenas a curiosidade em torno de um “homem santo” de parte de alguns brancos. As vibrantes igrejas cristãs de imigrantes caribenhos, como sempre, se mantém a margem dos movimentos sociais. Os evangélicos conservadores de centro: Conselho dos Evangélicos da Inglaterra (interdenominacional) e Conselho dos Evangélicos da Igreja da Inglaterra viram no Papa um aliado tático e transcreveram passagens convergentes dos seus discursos. Os setores mais protestantes do anglicanismo, como o Reform, o Church Society e o Prayer Book Society, tiveram comportamento semelhante, além de terem reduzido espaço público. Os protestantes liberais (metodistas, congregacionais, presbiterianos, batistas = maioria; e anglicanos = minoria) demonstraram claramente o seu descontentamento com a visita papal, mas sua força é muito limitada no conjunto da população, fora de alguns seminários teológicos, publicações e órgãos do governo.

Vale salientar que não somente o número de anglicanos praticantes é pequeno (5% dos 27 milhões de batizados), mas o mesmo acontece com a minoria católica romana (10% da população), com índices anuais de declínio de frequência às missas. Em sendo assim, um número aproximado de meio milhão de pessoas (pagantes de um ingresso) entre Escócia e Inglaterra, que assistiram às Missas Campais, pode ser, nesse contexto descristianizante, um relativo sucesso, além da cobertura pela mídia.

A Guerra (Nada) Santa se deu entre o papa e os papistas, de um lado, e a crescente, articulada e agressiva fração militante secularista no Governo, na Academia e na Mídia, que abriu fogo de obuses contra os gastos com a visita, contra o convite da rainha, contra a figura do papa, e, muito particularmente, contra as ideias reacionárias, nojentas, contrárias ao pensar da Inglaterra de hoje, etc. Foi chumbo grosso. A rainha manteve o convite. O papa veio. Os convidados para os eventos oficiais apareceram (com um Arcebispo de Cantuária apagado) e Bento XVI, impassível, disse o que queria dizer, curto e grosso, sabendo do rebu que estava causando.

A História não foi mudada, e o Reino Unido Moderno é fruto do Protestantismo. O Liberalismo interno o tem debilitado. O Secularismo antireligioso, antimonoteísta, e, particularmente, anticristão é um dos mais fortes no processo de descristianização da Europa. Os Bispos Anglicanos da África já disseram, em sua última Conferência, que vão enviar missionários para re-converter a pátria-mãe e o continente, o que coincide com o discurso de re-evangelização da Europa pelo Chefe da Igreja de Roma.

Os Secularistas (e os Liberais) perderam uma batalha nessa guerra prolongada. O papa marcou um tento. Mas a velha Albion não deixou de ser protestante e nem se converteu ao romanismo. Muita gente boa às margens do Tâmisa não tem a mínima intenção de cruzar o Tibre...

Recife (PE), 22 de setembro de 2010,
Anno Domini.
+Dom Robinson Cavalcanti, ose
Bispo Diocesano

Secretaria Episcopal
Diocese do Recife - Comunhão Anglicana
(das 8h às 13h)

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"Espiritualidade é colocar em prática o discernimento da vontade de Deus para a vida comunitária em todas as suas dimensões. A espiritualidade é um dom e uma tarefa" (René Padilha)


Fonte: Comunhão Anglicana Diocese do Recife

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