sexta-feira, 7 de maio de 2010

Igreja fora do templo


Grupos pequenos são alternativa para crescimento espiritual, evangelização efetiva e discipulado no contexto urbano


Células, núcleos familiares, pequenos grupos… Importa menos o nome do que o conceito, resgatado dos primeiros tempos do cristianismo e guindado à condição de alternativa comunitária à correria da sociedade contemporânea. De fato, a conciliação entre trabalho, família e igreja, principalmente para quem vive nos centros urbanos, é um desafio diante do qual muitos cristãos estão capitulando. E como comunhão exige tempo – artigo com status próximo ao de uma commodity nos dias de hoje –, a solução à qual as igrejas passaram a recorrer foi a boa, antiga e bíblica fórmula da reunião em coletivos menores. Os formatos e as metodologias variam bastante, mas a ideia fundamental de promover comunhão, evangelização e edificação é comum a todos. Afinal, o próprio Cristo prometeu a seus servos que estaria presente quando dois ou três deles se reunissem em seu nome.
A reunião de grupos de cristãos para a prática da oração e da meditação na Palavra remonta aos primeiros anos subsequentes à ascensão de Jesus Cristo. É verdade que, nos tempos do Novo Testamento, não era questão de mera opção: ainda não havia grandes igrejas como hoje e o contexto era de intensa perseguição aos que criam no Rabi da Galileia. O livro de Atos e várias passagens das epístolas paulinas fazem referência a essa iniciativa em um tempo no qual a fé cristã ainda era proscrita. A casa de Maria, mãe de João Marcos, abrigou alguns dos primeiros encontros dos chamados seguidores do Caminho. Lídia, a vendedora de tecido de Tiatira, na Macedônia, e o casal Priscila e Áquila também são exemplos de pessoas que abriram as portas de seus lares para os pequenos grupos pioneiros.
A institucionalização da Igreja, com a construção de santuários cristãos e a romanização de templos pagãos, reduziu o conceito de igreja celular a iniciativas esporádicas e isoladas, muitas delas reprimidas pelas autoridades eclesiásticas em nome do poder papal. Nem mesmo a Reforma Protestante, em sua gênese, conseguiu recuperar o prestígio dos grupos menores, alternativa que coube melhor a movimentos paraeclesiásticos, ramificações e seitas – e ao próprio pentecostalismo em seus primórdios, como as reuniões na Rua Azuza, em Los Angeles, nos Estados Unidos, há um século.
O sistema celular só viria a ser efetivamente colocado em prática pelas igrejas evangélicas de forma massiva a partir dos anos 1980, com o pastor sul-coreano Paul Yonggi Cho, da Igreja do Evangelho Pleno de Seul. Após uma juventude marcada por manifestações sobrenaturais do poder de Deus, Paul (que posteriormente mudou seu nome para David Yonggi Cho) começou a pregar e se tornou pastor. Desde então, implantou o conceito dos pequenos grupos em sua igreja, que experimentou um enorme crescimento. Hoje, é considerada a maior comunidade evangélica do mundo, com mais de 800 mil membros. E o sistema de divisão em pequenos grupos é a única solução para um rebanho tão grande poder congregar de modo efetivo.
Envolvimento – Com os passar dos anos, várias denominações evangélicas brasileiras implantaram essa prática, cada uma com método e nomenclatura próprios. Muitas aderiram ao modelo do pastor Cho, enquanto outras o adaptaram de acordo com a necessidade da igreja local. De modo geral, as células têm duas finalidades específicas: comunhão entre membros e proclamação do Evangelho. É ali, num espaço mais intimista, que os recém-convertidos são melhor discipulados e despontam lideranças. O pastor e escritor Geremias do Couto, da Assembleia de Deus, explica que os pequenos grupos são uma grande oportunidade de os crentes se envolverem na missão, além de uma forma de a Igreja marcar presença no espaço social ao sair dos templos e ganhar as casas. “O crente passa a exercer papel de discipulador, evangelista e proclamador”, avalia.
Muitas igrejas, de fato, têm registrado crescimento espiritual e numérico como resultado da implantação do modelo de células, e já há até ministérios especializados no assunto. O Igreja em Células, por exemplo, oferece capacitação a igrejas locais para exercer o trabalho. O pastor Roberto Lay, coordenador do movimento e líder da Igreja Evangélica Irmãos Menonitas, de Curitiba (PR), explica que numa igreja de programas e eventos (leia-se “liturgia convencional”), um número reduzido de pessoas trabalha preparando algo para a maioria dos membros que agem como meros consumidores. “Já as células devolvem a cada crente o direito e o privilégio de ser um ministro, desenvolvendo seu sacerdócio”, aponta.
Questionado sobre o papel das igrejas de hoje em comparação à Igreja Primitiva, Lay defende com convicção a aplicação do modelo celular para a edificação pessoal: “A igreja de Atos, na verdade, aprendeu com Jesus Cristo a ser uma comunidade de relacionamentos, e não de eventos. Era uma igreja bem recebida e estimada pelo povo por sua influência positiva na sociedade”, assinala. Jorge Henrique Barro, diretor da Faculdade Teológica Sul-americana, acredita que o caráter missionário das células não pode ser negligenciado. Ele explica que a célula tem uma ênfase missiológica, e não eclesiológica. “Isso porque sua razão de existir não é a Igreja, mas o imperativo da pregação do Evangelho”, sentencia.

“Caráter, combinação e competência” – Algumas denominações apostam no modelo celular na certeza de que ele é o ideal. A Comunidade da Graça, de São Paulo, vale-se do sistema de células desde o início do ministério de seu pastor titular, Carlos Alberto Bezerra. “Minha visão não era receber as pessoas na igreja para ouvir um bom sermão, bater palmas ou atirar pedras e ir para casa”, lembra. “O sonho era que cada pessoa se tornasse membro da família de Deus e um ministro, um servo de Deus, como Jesus. Pessoas engajadas no objetivo de lavar os pés e levar as cargas umas das outras”, explica. Para realizar essa visão, foram instituídos os grupos familiares. Todavia, num primeiro momento, eles acabaram reproduzindo, inesperadamente, as distorções dos cultos de domingo: eram muito grandes, incapazes de tocar o coração das pessoas e dar oportunidade para o desenvolvimento espiritual dos novos convertidos. A igreja então mudou de tática. “Há dez anos começamos a transição, e hoje já colhemos frutos maravilhosos de grupos com menos pessoas, mas com mais visão estratégica de acolhimento e crescimento”, comemora Bezerra.

Nascida após uma série de reuniões de um pequeno grupo na casa do pastor Ary Velloso, a Igreja Batista do Morumbi, também na capital paulista, até hoje mantém esse tipo de encontro, ali chamado de PG (pequeno grupo). “Todas as pessoas que chegam, sejam novos convertidos ou membros oriundos de outras igrejas, são incentivadas a participar de um PG”, explica Claudio Duarte, coordenador da atividade na igreja. Adepta do modelo com, no máximo, dezesseis pessoas que se reúnem regularmente, a Batista do Morumbi inclui entre os objetivos dessa prática, além da oração e do estudo da Palavra de Deus, o fortalecimento dos laços sociais por meio da troca de experiências de vida. Para Claudio, os pequenos grupos têm a missão precípua de acolher, cuidar das pessoas e prover apoio: “Eles devem estimular o desenvolvimento de relacionamentos profundos, além de oferecer oportunidade de ministério e serviço aos participantes, propiciando o surgimento de novos líderes.”

O ministério em células teve início na Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte (MG), em 1987, no apogeu da visibilidade mundial da igreja de Cho. Àquela época, diante do crescimento da membresia, as congregações foram emancipadas e se detectou a necessidade de acompanhamento da vida dos fiéis através de pequenos grupos. A pastora Dinamarcia Faria Barbosa Moreira, coordenadora de células da Lagoinha, diz que o modelo adotado, previamente estruturado, foi o mesmo do pastor Cho. “As células funcionam nas casas, em reuniões semanais que duram em média uma hora e meia, encerrando sempre com um lanche”, informa. A coisa é informal, mas organizada – “Há um líder ativo, outro em treinamento, um secretário, os membros da igreja e os visitantes, convertidos ou não”, explica a pastora.
Cada reunião, de acordo com Dinamarcia, é dividido em partes: há o chamado quebra-gelo, louvor, testemunhos pessoais, estudo da Bíblia, oração e desafios de atividades. As células seguem uma programação proposta pela Coordenação Geral. Adotando um modelo semelhante ao G5 – uma variação do polêmico G12 (ver quadro) –, a liderança da Lagoinha acredita que o ministério com células é a melhor estratégia para ganhar vidas para Jesus, formar novos líderes e expandir a igreja. Também adepta do conceito de G5, o Ministério Verbo Vivo, de Guarulhos, na Grande São Paulo, cresceu desde que se adequou às células, no fim da década de 1990. Por meio de um treinamento embasado num critério chamado “Três C” (“caráter, combinação e competência”), a pessoa que possui essas características é escolhida como líder de uma célula. “Para que ocorra um crescimento numérico e espiritual, a igreja deve estar debaixo da verdade de que ela é igual à família”, pontifica um dos pastores do Verbo Vivo, Jefferson Karagulian. “Quando isso acontece, não existe inveja nem competição”, frisa o líder.

Ênfase na comunhão – É claro que pensar na estrutura celular como solução mágica para todos os problemas de uma igreja no cumprimento de sua missão seria ingenuidade. Várias comunidades e denominações enfrentaram problemas ao adotar o modelo de pequenos grupos – entre os quais um dos mais temidos pelos pastores, a divisão. Vitor Ribeiro Piva, líder de célula e presbítero do Ministério Fé em Ação, em São Paulo, explica que as células constituem uma estratégia para alcançar pessoas, mas podem acabar ficando com a cara do líder. “A célula veio para o fortalecimento da igreja e dos irmãos. Mas é preciso ser submisso e ter a consciência de que ela é uma parte do Corpo de Cristo, não um novo braço que está nascendo”, pondera. Para que essa distorção não ocorra, ensina Vitor, é muito importante levar os frequentadores do grupo pequeno para a igreja, onde eles podem participar da comunhão geral.

De acordo com Jorge Henrique Barro, as divisões fazem parte dos muitos riscos que esse movimento pressupõe. Além disso, a nomeação de pessoas despreparadas na liderança de células torna-se um caminho aberto para heresias. “Esse líder despreparado vê na célula a possibilidade de ter a sua igreja. Já que é o líder e debaixo da autoridade tem cerca de vinte, 25 pessoas, pode estimular o surgimento de uma ‘igreja clandestina’”, diz o teólogo. “Quando os pastores acordam, as cadeiras e o som já foram comprados”, ironiza. Outro desdobramento do movimento celular é a substituição gradativa do envolvimento com a igreja pelas atividades do grupo familiar. Muitos evangélicos têm aderido a esse tipo de prática eclesiástica por criticar o que seria uma institucionalização excessiva das denominações.

Geremias do Couto não abre mão do papel da igreja e da importância de suas atividades clássicas, como a Escola Bíblica Dominical. Ele não acha legítimo substituir a congregação formal pelas células e prefere apostar numa complementação entre as duas. “Não se deve dar a célula o papel de formação bíblica”, opina, “pois nem todos os líderes de célula sabem ensinar. O ensino é um dom, e nem todos o possuem”. Já em relação à evangelização, o pastor acredita que os núcleos representam uma excelente opção – ainda mais em grandes cidades, nas quais as distâncias, a violência urbana e a crônica falta de tempo são empecilhos à frequência constante a templos, sobretudo em meio de semana. “Afinal, anunciar o nome do Senhor é papel de todos os crentes.”

Para Roberto Lay, do ministério Igreja em Células, a vida em comunhão dentro da igreja é inegociável, assim como a prática do chamado ministerial de cada membro. Em sua opinião, a divisão da membresia em grupos pequenos ajuda a suprir lacunas da igreja institucional, mas jamais significará a falência do modelo clássico. “A nossa proposta sempre foi ajudar as igrejas a encontrar a eclesiologia do Novo Testamento, aquela que promove a vida dos pastores, líderes e membros da igreja”, sustenta. “O ideal é cada um exercer o seu ministério sacerdotal de acordo com o chamado que recebe do Senhor”, finaliza.

Crescimento com críticas

Com o passar dos anos, vários modelos de igrejas em células surgiram no universo evangélico, mas nenhum gerou tanta controvérsia quanto o G12. O método foi criado em 1983 pelo pastor colombiano Cezar Castellanos, fundador da Missão Carismática Internacional, e logo virou coqueluche. Castellanos afirma ter criado o sistema a partir de uma revelação divina em resposta ao pedido que fez ao Senhor para crescimento de sua igreja. O número encerra simbologias bíblicas – doze eram as tribos de Israel, doze os discípulos de Cristo, e por aí vai. O processo é simples: basicamente, cada crente é estimulado a formar um grupo de doze novos convertidos, passando a ser seu discipulador. Cada elemento do grupo, por sua vez, também buscava reunir uma dúzia de liderados, e assim sucessivamente. No topo da pirâmide, os líderes também montavam seu grupo, com pastores prestando mentoria espiritual a outros pastores.

O princípio do modelo se traduz no quadrinômio “ganhar, consolidar, discipular e enviar”. No G12, a estratégia de discipulado é gradual, e inclui os chamados encontros, espécie de retiros a que todo envolvido deve comparecer. O bordão “o encontro é tremendo” dava ideia da importância do evento. Mas o caráter heterodoxo desses encontros, anunciados por alguns como uma espécie de panaceia para curar todos os males espirituais dos adeptos, logo começou a atrair opositores. Correram boatos de que sessões de regressão e unções bizarras eram praticadas ali, embora quem participava voltava dizendo-se renovado espiritualmente. O exclusivismo, que levou muitas igrejas a romper a comunhão com aquelas que não adotavam o método, e a extrema verticalização do sistema – que criou lideranças monolíticas – também costumam ser muito questionados.

O G12 teve início no Brasil por volta de 1999, e floresceu rapidamente. Denominações inteiras aderiram ao sistema, abrindo mão de estruturas eclesiásticas muitas vezes enraizadas ao longo de décadas. Algumas alcançaram, de fato, notável crescimento, como a Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo, liderada por sua apóstola Valnice Milhomens, e o Ministério Internacional da Restauração, capitaneado por René Terranova – outras, porém, racharam entre os entusiastas e os descontentes com o modelo. Os dois religiosos assumiram a linha de frente do G12 no Brasil, por mandato do próprio Castellanos. Procurados por CRISTIANISMO HOJE para falar da situação do movimento, dez anos depois de sua implantação no país, eles não retornaram os contatos da reportagem.

Laelie Machado

Fonte: http://cristianismohoje.com.br/ch/igreja-fora-do-templo/

Satanismo no Século XXI


Sempre envolto em mistérios, satanismo chega ao século 21 como movimento difuso mas assustador


Cenas de horror, cerimônias macabras, sacrifícios de animais e crianças; poções fumegantes, amuletos misteriosos, trajes negros; tridentes, capas vermelhas, pentagramas. Tais elementos, cuja origem se perde no tempo, simbolizam a veneração à figura mais detestada da história da humanidade. Diabo, Lúcifer, Belial ou Leviatã são seus nomes clássicos; demo, capeta, coisa-ruim, encosto ou tinhoso, as formas populares de chamar o príncipe das trevas. A personificação do mal sempre teve lugar de destaque nos corações dos homens, seja para adorá-la ou repudiá-la. Com muitas formas e representações, dependendo da época e do lugar onde se fala dele, a figura de Satã (do hebraico Satan, ou “aquele que se opõe”) sempre despertou uma repugnância temerosa. Seu período de maior esplendor, se é que se pode usar o termo em referência a tal criatura, foi na Idade Média, quando um misto de superstições religiosas e ignorância moldou sua imagem mais conhecida, com cabeça de bode, capa vermelha, olhos flamejantes e chifres pontiagudos.
Mas o diabo é muito mais do que isso. Tentador, pai da mentira, acusador e inimigo das almas são algumas maneiras pela qual a Bíblia o trata. E ele já pintou e bordou ao longo das eras. Sua atuação é apontada como causa de ódios, desavenças e guerras. Pobre de quem se envolvesse com ele. A caçada às bruxas, impulsionada pelo rigor dos tribunais de Inquisição, redundou na captura de milhares de pessoas acusadas de feitiçaria e lhes impôs variados tipos de penas, que podiam ir do confisco de bens até a morte em fogueira. Nesse contexto, o então denominado satanismo se desenvolveu estimulado por diversos fatores, sobretudo pela contrapropaganda inquisitória que – no ímpeto de localizar e denunciar indivíduos considerados diabólicos – acabou por disseminar o estereótipo.
Mas a suposta ação do mal, que tem sido um simples temor ancestral desde o início dos tempos, vem adquirindo contornos macabros a cada vez que alguma atitude humana é considerada inspirada pelo demo. E nada tem sido tão assustador nesse aspecto quanto a sucessão de crimes atribuídos a ritos satânicos. Apesar das contradições entre o que se diz e o que se faz presumindo ser satanismo, é fato que, em pleno século 21, uma era tida como do conhecimento e do desenvolvimento científico, a proliferação de homicídios dessa natureza é assustadora. Cada vez mais recorrentes e horripilantes, tais crimes vêm se multiplicando em noticiários policiais, com vítimas geralmente menores e incapazes. Como foi o caso da menina Dyeniffer Santos, de 12 anos. Em junho de 2009, a garota foi morta com um golpe no pescoço, por Efigênia Balbinos, sua vizinha em Uberlândia (MG), para que o sangue da menina fosse espargido sobre um bebê de seis meses. Segundo a criminosa, seu marido, que está preso, sofria de uma maldição e a oferenda tinha por objetivo removê-la. A crendice doentia da mulher, que contou com a ajuda de várias outras pessoas e um adolescente de 15 anos, culminou no esquartejamento do corpo de Dyeniffer que posteriormente foi descartado em diferentes pontos da cidade, de acordo com o Ministério Público.
Uma suposta ordem do diabo também teria sido a motivação para que Otty Sanchez apunhalasse, decapitasse e comesse partes de seu filho, Scott-Wesley Buchholtz Sanchez, de apenas um mês de vida. A polícia de San Antonio, cidade localizada no estado americano do Texas, onde o crime foi cometido em julho de 2009, informou que a própria mãe da criança confirmou a motivação do homicídio. Outro fato chocante ocorreu na cidade de Yaroslavl, na Rússia, em junho de 2008. Quatro adolescentes com idades entre 16 e 17 anos receberam 666 facadas cada um após terem sido embriagados por um grupo de satanistas. Segundo a polícia, os corpos foram cozidos antes de serem devorados pelos criminosos. Pelo menos oito suspeitos foram presos. Um deles confessou o envolvimento em outra operação satanista durante a qual teria comido o coração de uma criança recém-enterrada, após violar seu túmulo. “Satã vai me ajudar a sair dessa, pois fiz muitos sacrifícios para ele”, declarou um dos presos acusados pelo assassinato dos jovens. Nikolai Ogolobyak foi apontado pelas autoridades como líder da quadrilha.
Medo e incredulidade – Relatos de ocorrências macabras assim volta e meia assustam o mundo, o que leva a pensar no que estaria por trás da bestialidade humana, se a pura perversidade ou de fato uma influência maligna. Acontece que o satanismo não mostra o rosto. A maior dificuldade é justamente encontrar quem fale pelo movimento – por isso mesmo, ele desencadeia as mais variadas reações, do medo à incredulidade. Já no blog satanista brasileiro Recanto do opositor – Satanismo sem malvadeza, o autor, que se identifica como Vitor V., indigna-se com seus pares pelo fato de no Brasil nada ser feito para que a imagem do ‘satanista adorador do capeta’ seja desfeita. “Somos individualistas e não congregacionalistas”. argumenta. Na verdade, a teoria básica do movimento é mais comportamental que religiosa. Ela consiste na valorização das liberdades individuais e do hedonismo, aí entendido como um contraponto aos dogmas religiosos – leia-se cristãos – considerados restritivos da potencialidade humana.
O sumo sacerdote da Igreja de Satã, nos Estados Unidos – entidade criada por Anton Szandor LaVey em 1966 (ver quadro) –, Peter Howard Gilmore, diz que o satanismo em si foi muito mais difundido devido à internet. Segundo ele, há pessoas que realmente adoram o diabo cristão, aquele mencionado na Bíblia, e lhe fazem rituais, pactos de sangue e até vendem a alma. No Brasil, onde já existem grupos organizados como a Fraternidade Templi Satanis, no Rio de Janeiro, e a Igreja de Lúcifer em Porto Alegre (RS), os satanistas ainda se articulam para criar uma associação nacional.
Para o pastor e teólogo Jorge Videira, professor da Faculdade de Educação Teológica das Assembleias de Deus (Faetad), o satanismo moderno é bem distante daquele do imaginário popular, o das seitas ocultistas e missas negras. “No seu livro sagrado, a Bíblia Satânica, eles são orientados a não se declarar necessariamente anticristãos. Mas para eles, o diabo bíblico não existe, e o satanismo atua como uma força de resistência”, explica. Segundo ele, o pior está por vir. “Segundo a Bíblia, no fim dos tempos o amor de muitos esfriará. Após o arrebatamento da Igreja, o Anticristo vai governar em cima de uma religião que já se encontra presente entre nós”, diz, referindo-se ao quadro profético traçado pelo livro do Apocalipse.
Por outro lado, o pesquisador também enxerga uma apropriação indevida do conceito satanista em determinados casos. “Existem os bruxos, esotéricos e praticantes de magia”, enumera, esclarecendo que, em sua opinião, nem todos eles podem ser considerados satanistas na acepção normalmente atribuída ao termo, “bem como uma ramificação denominada Dabbles satânicos, que são grupos de adolescentes que se dizem satanistas e praticam rituais onde às vezes sacrificam gatos ou cachorros”, aponta. No entanto, tais práticas, no entender de Videira, estão muito mais ligadas ao culto à personalidade ou à pura imbecilidade do que ao chamado senhor das trevas.
De fato, fervem no mesmo caldeirão – com trocadilho, claro – do satanismo uma série de elementos que não necessariamente têm a ver com o príncipe das trevas. Até mesmo personagens de ficção, como o bruxinho Harry Potter, que arrasta multidões de crianças e adolescentes aos cinemas a cada um de seus filmes, ou a série Crepúsculo, que anda fazendo o maior sucesso no Brasil e no mundo, têm sido associados ao mal (ver quadro). Por outro lado, pastores e pais evangélicos sempre torcem o nariz para o Halloween, tradição americana cuja origem remonta ao paganismo dos antigos celtas e que tem ganhado apelo entre crianças e jovens brasileiros. A cada 31 de outubro, fantasias de diabo, duendes e feiticeiros saem dos armários, numa estranha fusão de brincadeira com ocultismo. Tenha ou não razão quem assim pensa, para os cristãos os ardis do maligno não são coisa com que se deva brincar. O pastor João Martinez, pesquisador, teólogo e presidente do Centro Apologético de Pesquisas Cristãs (CACP), lembra que a maior intenção de Satanás é justamente realmente fazer as pessoas acreditarem que ele não existe. “Na atualidade, o diabo pretende ser estratégico. Por que então iria lançar mão de semânticas desgastadas?”, questiona.
Já no entender do pastor Jayro Soares, teólogo sistemático da Escola de Pastores de Niterói (RJ), as pessoas hoje estão apelando para o satanismo para ter mais uma opção para suas vidas. “Esses estão em busca de si próprios. Enquanto o protestantismo trabalha com a verdade fundamental, os satanistas fazem um sincretismo religioso do culto ao prazer com o individualismo”, descreve. “Não ocorre mais aquela situação drástica de envolvimento com a magia negra. Esse movimento está mais vinculado ao que a gente recebe da mídia do que a satanistas propriamente ditos”, avalia.
Ataque à Igreja – Para muitos setores evangélicos, o satanismo ganhou visibilidade principalmente no período em que muito se falava em batalha espiritual, há coisa de 20 anos. Tornou-se um certo modismo encarar todo e qualquer contratempo na vida do cristão como uma oportunidade para demonstração de fé beligerante contra as hostes malignas. Foi a época de obras como Este mundo tenebroso, do americano Frank Perretti, que provocou alarme nas igrejas por enfatizar a realidade da ação do diabo em nossos dias. Outra que fez de suas obras um alerta contra o mal é Rebecca Brown, pseudônimo de Ruth Irene Bailey, autora de livros que ainda vendem muito, tais como Ele veio para libertar os cativos (1986), Prepare-se para a guerra (1987) e A pequena pobre bruxa. Este último alerta contra a infiltração de pessoas ligadas ao satanismo nas igrejas cristãs – uma antiga suspeita em que muitos crentes acreditam piamente, mas que jamais foi comprovada de fato.
Na visão da escritora, o satanismo é muito mais que uma mera forma de encarar as coisas ou uma contestação irônica aos dogmas das igrejas. “Os satanistas assumem enganosamente a profissão de fé cristã. Infiltram-se nas igrejas para disseminar ensinos e doutrinas falsas, porém, de grande aceitação”, diz num de seus livros. Já no Brasil, a pessoa considerada por seus seguidores como maior especialista em batalha espiritual é Neuza Itioka, apóstola do Ministério Ágape Reconciliação, em São Paulo. Ela defende que pastores e ministérios inteiros podem estar sob influência demoníaca. “A Igreja precisa de cura, de libertação. A nossa visão é que, assim como um indivíduo pode necessitar de libertação e cura, da mesma forma a saúde espiritual de uma igreja local precisa ser, em certos casos, restaurada”, declara, em seu livro A noiva restaurada (Editora Naós). Para Neuza, se o diabo age em estruturas sociais e políticas, pode muito bem fazer das suas no ambiente eclesiástico. Ela até postula uma tese polêmica, a de que mesmo crentes em Jesus genuínos podem ficar endemoninhados.
O pastor Natanael Rinaldi, coordenador do Instituto Cristão de Pesquisas (ICP), explica que é preciso diferenciar bem os três níveis de atuação dos espíritos malignos sobre as pessoas: a tentação, a opressão e a possessão. “O cristão pode ser tentado e até oprimido, mas dificilmente ficará possesso. Isso se o Espírito de Deus realmente estiver fazendo nele morada, conforme diz I Coríntios 9.19-20”, cita. Rinaldi diz ter certas reservas em relação ao envolvimento do satanismo moderno com todos os homicídios que são relatados como resultado de magia negra, mas não enxerga contradições entre a essência dos ritos satânicos tradicionais e a bruxaria. “A origem é a mesma. O apóstolo Paulo já nos adverte de que o diabo por vezes se disfarça de anjo de luz.”
“Satanismo quer passar imagem anarquista”
Ele está disposto a revelar a verdade sobre os bastidores do movimento satanista. Neo Montenegro usa este nome, fictício, porque se diz ameaçado por seguidores do diabo. Autor do livro Crimes satânicos (Editora Naós), ele conta que se deparou com as piores atrocidades que um ser humano pode cometer. Segundo ele, crianças, mulheres e até homens adultos aparecem em vídeos que são veiculados na internet, tendo seus olhos arrancados, pés e mãos amputados e sofrendo violência sexual. Até episódios de canibalismo fazem parte das cenas chocantes de vídeos snuffs (em que ocorre a morte dos protagonistas) que são retratados no livro. Montenegro conversou com CRISTIANISMO HOJE:
CRISTIANISMO HOJE – O que o motivou a fazer um livro sobre crimes satânicos?
NEO MONTENEGRO – Eu pretendia fazer uma pesquisa sobre a veracidade dos vídeos snuffs, se eram reais ou se não passavam de lendas.

E o que o senhor descobriu?
Descobri que realmente existem inúmeras pessoas que encomendam a morte de meninas de 13 anos e até de menos idade, bem como mulheres e homens adultos, para satisfazer seus desejos pervertidos. As vítimas são submetidas a todo tipo de violência, como estupro, espancamento e mutilação de seus membros para serem gravados em vídeos e comercializados principalmente na Europa e nos Estados Unidos.

Quais são as suas fontes?
Sobretudo materiais postados em fóruns clandestinos na internet, e até links apontando para locais onde esses conteúdos são disponibilizados: matérias de jornais, revistas etc. Todas as provas são publicadas pelos produtores dessas postagens horrendas que ficam em domínio público.
Os vídeos são reais?
Provavelmente, sim. Cito isso no livro. A clientela paga de US$ 100 mil a US$ 300 mil para ver uma menina lourinha, de olhos azuis, ser trucidada. Em seguida, cortam sua cabeça e fazem sexo com ela.
O senhor acha que o satanismo moderno tem algo a ver com essas mortes?
Sim, mas o satanismo tradicional, que eles chamam de alta magia. Hoje o satanismo quer passar uma imagem anarquista. Colocam uma máscara de modernidade, porém, nada mais são do que o despertar da maldade. Eles se propõem a ser uma influência satânica em tudo.
Como identificar um satanista?
Isso é difícil, sobretudo porque atualmente podemos encontrar alguns infiltrados até dentro das igrejas. Mas se os cristãos não denunciarem as obras do diabo, quem o fará?

Seu trabalho de pesquisa lhe acarretou alguma ameaça?
Durante o processo de pesquisa recebi um e-mail ameaçador, que dizia em inglês: “Vamos te achar, custe o que custar”. Por cautela, tomei providências para impedir o rastreamento do meu computador. Com certeza tenho medo de tudo isso – afinal, estamos lidando com um mercado diversificado que movimenta cinco bilhões de dólares no mundo. Quando você vê a maldade da pior forma possível fica complicado tirar isso da cabeça depois. São coisas assim que demonstram o quanto o mundo jaz no maligno.
Ocultismo na tela
Nos últimos anos, várias manifestações culturais e artísticas têm sido consideradas de inspiração satânica. Temas como bruxaria, ocultismo e vampirismo normalmente povoam o imaginário coletivo, e muitas vezes viram obsessão sempre que um fato novo acende o pavio, e nada melhor para isso do que o cinema. A bola da vez é a série Crepúsculo, de autoria de Stephenie Meyer, cujos livros já venderam mais de 70 milhões de exemplares no mundo. Adepta do mormonismo, ela diz que a ideia surgiu a partir de um sonho que teve. A saga conta a história de Isabella Swan, adolescente que se apaixona por um vampiro, Edward Cullen, e tem todos os requintes de suspense e terror – mas agrada em cheio ao público em geral, embora os crentes torçam o nariz. O primeiro filme da saga rendeu a bagatela de 400 milhões de dólares, e o segundo, o recém-lançado Lua nova, vai pelo mesmo caminho.
Já Harry Potter, o bruxinho criado pela inglesa J.K.Rowling, alarmou os crentes quando desembarcou nas telas do Brasil em 2001. Aluno de uma escola de bruxaria, o garoto vive aventuras mirabolantes entre zumbis, demônios e seres elementais. O clímax das histórias são os confrontos entre Potter e o senhor das trevas, Lord Voldemort. Dos sete livros da série, que catapultaram Rowling ao posto de mulher mais rica da história da literaturas, seis já tiveram suas versões cinematográficas – todas sucesso de bilheteria, apesar dos boicotes ensaiados por muitas igrejas.

Fonte: http://cristianismohoje.com.br/ch/fantasma-sem-rosto/

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Conferência de Teologia Vida Nova em Niterói - RJ

Conferência de Teologia Vida Nova em Niterói - RJ 



Edições Vida Nova, tendo sempre em vista a capacitação e a edificação da igreja e de seus líderes, tem promovido conferências teológicas pelo país afora com o objetivo de levar a seminários e igrejas discussões relevantes para a igreja brasileira contemporânea.
Em 2010, a primeira conferência será na Primeira Igreja Batista de Niterói, dias 12, 13 e 14 de maio, em parceria com as seguintes instituições: Seminário Batista de Niterói, Seminário Betel Brasileiro e Seminário Escola de Pastores.
Russell Shedd, Luiz Sayão e Jonas Madureira serão os preletores desse encontro, abordando temas que têm chamado atenção no atual cenário teológico:


Tema principal
CRISTIANISMO E CULTURA EMERGENTE
os desafios para uma igreja relevante na atualidade

Palestras

ESPIRITUALIDADE HOJE: a vida cristã e os desafios do mundo contemporâneo
Russell Shedd

IGREJA EMERGENTE: os limites entre a relevância e a acomodação cultural
Jonas Madureira

TEÍSMO ABERTO: uma análise de suas implicações na vida da igreja
Luiz Sayão

Venha participar dessa discussão que é fundamental para todos que pretendem responder aos desafios para uma igreja relevante na atualidade.


Local: Primeira Igreja Batista de Niterói
Rua Marquês do Paraná, nº 225
Centro - Niterói - RJ

Valor das inscrições: 
R$ 15,00 para convidados e R$ 10,00 para alunos das instiuições parceiras.

Faça sua inscrição através dos telefones:
Escola de Pastores - Tel: (021)  2722-7970
Betel Brasileiro - Tel: (021) 2621-8706
Seminário Batista de Niterói - Tel: (021) 2622-2832


24/2/2010

Veterano da fé


Aos 80 anos de vida, o doutor Russell Shedd mantém-se como referência de integridade, conhecimento bíblico e vida cristã

Por Carlos Fernandes

Não é muito comum um líder religioso chegar aos 80 anos em plena atividade. Mais raro ainda é ter atravessado todo este tempo mantendo um ministério de visibilidade internacional. Agora, privilégio mesmo é poder ostentar uma reputação inabalada e manter-se como referência de conhecimento bíblico e saber teológico em idade tão avançada. Pois Russell Philip Shedd entrou para o rol dos octogenários em 10 de novembro passado com todas essas características. Missionário de origem americana, ele está radicado no Brasil desde 1962. Neste quase meio século, tem prestado decisiva colaboração à Igreja nacional, seja através de seus livros e trabalhos de cunho teológico, seja com suas pregações, conferências e palestras.
Shedd é um teólogo com grande preparo. Com apenas 20 anos, graduou-se no Wheaton College, nos Estados Unidos. Ali, especializou-se em hebraico e grego – línguas bíblicas cujo conhecimento considera fundamental para uma correta interpretação das Escrituras. Em seguida, tornou-se mestre em teologia e, mais tarde, doutor em filosofia e Novo Testamento pela Universidade de Edimburgo, na Escócia. Mas o saber não fez dele um acadêmico arrogante, desses que enxergam a divindade com a frieza dos livros. “O conhecimento não enfraquece a fé; pelo contrário, auxilia o nosso relacionamento com Deus”, afirma. “E ainda produz muita dependência dele também”. Para manter a comunhão com Deus, a receita desse veterano da fé é simples: “Acordo todo dia antes das cinco da manhã. Assim, é possível dedicar uma hora ou mais à leitura bíblica e à oração.”
Com vinte livros publicados, Russell Shedd é muito conhecido no Brasil como fundador de Edições Vida Nova, casa publicadora especializada em obras teológicas pela qual lançou a Bíblia Vida Nova em 1977, abrindo o mercado para a popularização das versões de estudo das Escrituras Sagradas. Foi também professor na Faculdade Teológica Batista de São Paulo durante 30 anos e pastor da Metropolitan Chapel, congregação fundada por ele na capital paulista, onde vive e permanece ligado à denominação Batista. Missionário jubilado, Shedd tem um padrão de vida simples, razão pela qual não aceita que o líder evangélico ostente riquezas. “Não creio que o ensinamento do Novo Testamento favoreça em algum momento o ato de esbanjar ou gastar somas grandes para provar que Deus nos tem abençoado”, comenta. O “senhor Bíblia” – como muitos o chamam, à sua própria revelia – concedeu esta entrevista a CRISTIANISMO HOJE:

CRISTIANISMO HOJE – O senhor tem um dos mais invejáveis currículos de formação teológica entre os líderes cristãos que atuam no Brasil. É difícil conciliar tanto conhecimento com a simplicidade de um relacionamento com Deus?

RUSSELL SHEDD – Não, não acho difícil.  O conhecimento não enfraquece a fé; pelo contrário, auxilia o relacionamento com Deus. E produz muita dependência dele também.

De modo geral, como é o nível do conhecimento do crente brasileiro acerca de Deus e de sua Palavra?

Creio que um problema em diversas igrejas é a falta de ensinamento que explique mais detalhadamente a Bíblia toda. Por exemplo: quantos creem num inferno eterno? E muitos crentes têm uma aversão contra a soberania de Deus, tal como a Palavra ensina.


Em 1962, quando o senhor chegou ao país, o panorama religioso nacional era completamente diferente do de hoje. Faça um paralelo entre a situação espiritual que encontrou naquela época e o que se vê atualmente.

Uma das principais diferenças foi que, naquele início dos anos 1960, as igrejas tradicionais condenavam interpretações e práticas pentecostais, como dons de línguas, profecia e curas miraculosas. Tais manifestações eram consideradas quase como heréticas. Hoje, as igrejas mais tradicionais tendem a condenar a teologia da prosperidade e os ensinamentos dos neopentecostais por falta de base bíblica.  Os seminários proliferam, embora o ensino bíblico, em muitos casos, seja bastante superficial.  E o interesse em missões continua sendo muito precário.

Então, apesar da haver mais seminários, o panorama do ensino teológico no Brasil não é bom?


Muitas igrejas montaram suas próprias escolas teológicas. Claramente, hoje temos muitas escolas sem professores treinados. O liberalismo teológico tem sido tirado de algumas escolas, enquanto em outras continua sendo uma opção que os alunos não têm habilidade para julgar ou avaliar.  A leitura de autores como Tillich e Bultmann pode dar a ideia de que não há muita diferença entre o liberalismo e ortodoxia. Um bom número de autores teológicos modernistas está aí, no mercado editorial. Ao mesmo tempo, há um crescente número de excelentes opções de autores que abraçam firmemente a inspiração plenária das Escrituras e a ortodoxia tradicional.

O reconhecimento dos cursos teológicos evangélicos pelo Ministério da Educação [tema tratado em reportagem nesta edição] pode ser uma solução?

Não acho que esse reconhecimento seja positivo, uma vez que os professores precisam adquirir graus de mestrado e doutorado, muitas vezes orientados por professores liberais. E a vantagem de fazer um curso reconhecido se perde na medida em que os pastores se tornam mais, digamos, profissionais.

Como um ex-editor, o que o senhor acha do segmento editorial evangélico hoje? A realidade do mercado sufoca a vocação ministerial?

Não há dúvida de que, se não existir um mercado editorial, as editoras não podem sobreviver. Claro, elas também têm de ter um caráter de missão, para poder escolher títulos que o povo precisa ler. É óbvio que há muitos títulos no mercado que acho de pouca importância, mas isso não quer dizer que não haja muitos leitores que buscam informação e encorajamento nesses livros. Existe também uma outra questão. Algumas editoras evangélicas têm receio de publicar livros liberais, que poderiam destruir a fé dos leitores. Mas aquelas que publicam tais livros têm interesse no mercado e no aparecimento de outros autores “famosos”, mesmo que não sejam crentes evangélicos.

A popularização das Bíblias de estudo temáticas – como Bíblia da mulher, Bíblia das profecias, Bíblia dos pequeninos, Bíblia do executivo – tem beneficiado as editoras, que investem cada vez mais em novos lançamentos do gênero. Essa corrida pelo mercado é boa ou ruim?

Não acho ruim, uma vez que qualquer ajuda que o leitor recebe dessas bíblias somente poderia trazer benefícios.  Não seria o caso se as notas fossem tendenciosas, oferecendo interpretações falsas.


Na diversidade de versões e edições que hoje existem da Bíblia, qual deve ser o parâmetro de escolha do crente em termos de fidedignidade?

O que importa é que a tradução escolhida não acrescente alguma ideia que o autor do original não tinha. Fidelidade na tradução sempre tem que reproduzir a ideia do original. Ela não pode incluir nem excluir algo que o texto hebraico ou grego diga.

O senhor é o presidente emérito de Edições Vida Nova, casa publicadora que ao longo dos anos tornou-se referência em obras de cunho teológico, e consultor da Shedd Publicações. Num mercado dominado por livros de cunho motivacional, a literatura teológica ainda encontra espaço?

Graças a Deus, sim.  As vendas de livros publicados pelas Edições Vida Nova, bem como de Shedd Publicações, têm aumentado ano a ano, juntamente como o crescimento do público evangélico.

O que deve ser feito pelas editoras para que as obras de conhecimento teológico não sejam apenas livros de referência para professores e estudiosos, mas também tenham apelo para o crente comum, o membro de igreja?


Os editores estão de olho naquilo que vende. Eles sempre seguirão o que a pesquisa de mercado indica que será um sucesso. Mas para aproximar as obras teológicas dos leitores comuns será evidentemente necessário tornar esses livros mais populares. Por exemplo, os manuais bíblicos. Hoje existem manuais de todos os níveis.

Em seus livros O líder que Deus usa e A oração e o preparo de líderes cristãos, o senhor enfatiza a necessidade do caráter e do exemplo que o pastor deve dar às suas ovelhas. Qual sua impressão sobre a integridade pastoral hoje?

Infelizmente, temos ouvido sobre casos tristes de quedas de líderes no adultério, no nepotismo e na corrupção. Os pecados que destroem o ministério do líder muitas vezes são esquecidos pelas igrejas, que acham que o pastor é um homem de Deus e não deve ser demitido por um “tropeço”, especialmente se for um líder muito popular. A verdade é que sempre tivemos quedas de líderes durante a história, mas parece que a integridade deles hoje sofre desgaste maior.


Como evitar a excessiva vinculação da congregação a seu dirigente, de modo que a eventual queda do líder não represente um golpe inevitável na comunidade?

A queda de líderes muito proeminentes, isolados e sem o acompanhamento de bons auxiliares, torna-se um desastre para a igreja. Quando presbíteros e diáconos – ou seja, o segundo escalão na liderança da igreja – são muito responsáveis, acompanhando de perto o ministério do dirigente da congregação, é possível, em muitos casos, amenizar os efeitos de uma eventual queda.

Uma das expressões dessa concentração de poder nas mãos dos líderes é o uso de título eclesiais, como o de bispo ou apóstolo. Biblicamente, qual é a legitimação disso?

O ensinamento de nosso Senhor sobre a necessidade de humildade e disposição de servir deve nos advertir sobre o perigo de procurar alguma autoridade que deve ser unicamente de Cristo. Não acho positiva a adoção de títulos que não sejam bíblicos. Bispo é um título bíblico, mas significa apenas “supervisor” e não alguém que domina a vida de outros líderes e pastores. Aliás, o único texto que menciona pastor humano no Novo Testamento é o de Efésios 4.11, onde o grego dá a entender que o pastor deve ser um mestre.
Já a nomenclatura apóstolo, a não ser em raros casos, refere-se às pessoas que Jesus apontou pessoalmente – razão pela qual Paulo argumenta, na sua primeira Epístola aos Coríntios, que viu o Senhor ressurreto e que Cristo apareceu para ele em último lugar. Já Filipenses 2.25 registra o termo “apóstolo” no original, fazendo referência a Epafrodito, que foi autorizado especificamente para levar os donativos da igreja de Filipos a Paulo. Logo, ele foi apóstolo da igreja de Filipos, tal como Barnabé e o próprio Saulo o foram da igreja de Antioquia.

Muitos dirigentes denominacionais justificam a própria opulência argumentando que a prosperidade financeira do líder é sinal da bênção de Deus. Isso tem base bíblica?

Não creio que o ensinamento do Novo Testamento favoreça em algum momento o ato de esbanjar ou gastar somas grandes para provar que Deus nos tem abençoado. Jesus mandou o jovem rico vender o que ele tinha para dar o produto aos pobres. Fica evidente que o Senhor é completamente contrário a que os líderes gastem dinheiro em luxo ou desnecessariamente.

O que faz um líder cair e ficar pelo caminho, transformando seu ministério em motivo de escândalo?

Creio que a falta de cuidado em buscar uma intimidade com Deus todos os dias, evitando a aparência do mal. Acredito que quedas ocorrem quando não achamos possível cair, ou quando ficamos seguros e até orgulhosos de nossa espiritualidade.

Quais têm sido as suas fontes de sustento ao longo desses anos todos?


Nós chegamos de Portugal em 1962, sustentados pela Missão Batista Conservadora. Ao longo desse tempo, igrejas e crentes da América do Norte enviaram suas ofertas missionárias para manter nossa família [Shedd é casado com Patricia e tem cinco filhos]. Hoje, esta entidade chama-se World Venture e continua sustentando missionários em muitos paises do mundo. O nível de sustento é determinado pela missão de acordo com o custo de vida do país no qual o missionário vive. Desde janeiro de 2008, nossos recursos vêm do plano previdenciário Social Security e de uma aposentadoria fornecida pela própria missão.  Não temos sofrido nenhuma falta.

Em sua opinião, por que entidades associativas de pastores e líderes, como a Associação Evangélica Brasileira (AEVB), enfrentam problemas de continuidade? Falta interesse dos pastores em participar desses movimentos associativos?


Vários motivos explicam a falta de interesse em entidades associativas. Poucos acham importante, ou de grande benefício, esse tipo de associação. A maioria dos pastores estão tão ocupados com seus programas, planos e ministérios que não acham que vale a pena contribuir e trabalhar para alguma entidade além da própria denominação.

Em quê o conhecimento das línguas bíblicas originais pode ajudar na prática da pregação?


A importância de estudo das línguas originais reside no fato de que através dele se pode explicar melhor o significado que certos termos e frases tinham quando o autor escreveu o texto bíblico.  A diferença entre as culturas bíblicas e a cultura ocidental em que vivemos hoje requer bastante cuidado para se entender a visão de mundo e os valores que regeram os escritos bíblicos. Além disso, as línguas originais ajudam chegar a conclusões mais seguras acerca do que dizem as Escrituras. Trabalhar com o texto original leva o pastor a pregar com mais cuidado e a poder afirmar: “Assim diz o Senhor”. Bons comentários também ajudam na tarefa de buscar o sentido do texto.

Essa falta de conhecimento é o motivo de tantas pregações superficiais?

Não é apenas isso. Imagino que os pastores e professores de Escola Bíblica Dominical não têm tempo ou muito interesse em examinar as Escrituras para saber de fato o que o autor queria comunicar.  Preferem usar uma hermenêutica que recorre a alegorias sobre o texto bíblico. Assim, é possível dar uma interpretação muito diferente daquela que a Bíblia ensina.

Qual o tempo adequado para o preparo de uma mensagem consistente?

Varia muito. Alguns pregadores podem chegar à proposição, ou seja, ao ensinamento central do texto, com mais facilidade do que outros. Daí, procurar os argumentos dentro do texto que sustentem a proposição demora também. O professor Karl Lachler, que lecionou muitos anos na Faculdade Teológica Batista de São Paulo, dizia que uma hora de estudo por cada minuto de mensagem parece exagerado… Porém, aquele que estuda e medita para chegar ao cerne da mensagem do texto, além de buscar os argumentos dentro do trecho escolhido que comprovem essa proposição, pode gastar bastante tempo. Infelizmente, cuidado no preparo de mensagens que alimentem o rebanho e a realização de visitas para conhecer bem as vidas dos membros e confrontar aqueles que não estão obedecendo às ordens do Senhor têm sido práticas esquecidas em muitas igrejas. Pastores santos, crentes firmes na veracidade da Bíblia, com famílias ajustadas, que buscam ao Senhor com muita oração e fé, produzem igrejas de qualidade.


A Igreja contemporânea está sempre buscando novas formas de crescer, e muitas congregações recorrem a modelos empresarias de gestão e marketing. O que o senhor pensa de incorporação de tais elementos à obra de Deus?


Não tenho nada contra o crescimento das igrejas, desde que ele não ocorra em detrimento da qualidade da formação dos membros na imagem de Cristo, conforme preconiza o texto de Romanos 8.29. Sou muito a favor do crescimento do número dos genuinamente convertidos e nascidos de novo. O problema surge quando, no interesse de aumentar o tamanho da igreja, deixa-se de lado a santificação dos membros. Ora, sem a santificação, conforme Hebreus 12.14, ninguém verá o Senhor! Ocorre que modelos de gestão eclesiástica não têm tido muito sucesso no discipulado e na formação de homens e mulheres de Deus. Uma igreja muito grande pode ter dificuldades em integrar os fiéis num plano de crescimento espiritual verdadeiro. Com o aumento do número dos membros, é muito fácil perder os indivíduos de vista. Além disso, numa igreja grande os crentes muitas vezes não se sentem responsáveis para servir, contribuir, discipular ou alcançar novos convertidos, especialmente se houver na comunidade líderes pagos para cumprir esse papel. Por outro lado, uma igreja grande tem recursos pessoais e financeiros para se comprometer com grandes projetos e muitos ministérios.

Então, qual deve ser o objetivo de uma igreja?

O alvo bíblico descrito em Colossenses 1.28 – proclamação, advertência, ensino com toda sabedoria e entendimento espirituais – é o objetivo que todo pastor e igreja devem considerar como prioridade.


Na sua opinião, a mídia eletrônica é um bom púlpito?

 
A televisão pode, sim, ser um bom canal para se explicar o Evangelho. Mas ela tem sérias deficiências também: as pessoas não são discipuladas se não se tornam membros ativos da família de Deus. Um compromisso muito sério com uma igreja local que ensine a Palavra de Deus com autoridade é o caminho do discipulado e do crescimento espiritual.


De alto de sua experiência, o que o deixa preocupado em relação ao futuro da Igreja brasileira?


A minha preocupação se concentra na qualidade espiritual da liderança e dos membros das igrejas. É assustador ver a quantidade de divórcios que ocorrem hoje entre casais evangélicos e a falta de integridade por parte dos líderes. Também fico muito preocupado com a proliferação de ensinamentos que não são bíblicos, como a teologia da prosperidade, que nega a necessidade de o crente negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz e seguir a Jesus.

Qual a sua compreensão acerca do que seja um avivamento?

O avivamento tem algumas evidências. Uma delas é quando o Senhor e sua Palavra têm mais importância do que o dinheiro ou qualquer outra coisa material. Avivamento cria arrependimento profundo pelos pecados cometidos e muita alegria no Senhor ao reconhecer seu perdão. Para uma Igreja avivada, o evangelismo se torna algo natural e as missões transculturais, uma prioridade, uma vez que Jesus mandou seus servos fazerem discípulos de todas as nações.

Logo, ao contrário do que se diz, a Igreja brasileira hoje não experimenta um avivamento?


Não acredito que o que acontece hoje, com o rápido crescimento da Igreja, seja um avivamento de verdade.  O que eu vejo é que falta temor do Senhor, arrependimento profundo e interesse por missões.

O senhor é filho de missionários americanos que aqui chegaram na primeira metade do século passado, época em que obreiros estrangeiros tinham grande influência no Brasil. Hoje em dia, sendo o país uma potência evangélica, ainda há espaço para eles?


De fato, a influência de missionários estrangeiros aqui é cada vez menor. Mas ainda há áreas em que obreiros vindos de fora poderiam ser úteis, como no preparo para as missões transculturais. O treinamento em determinadas áreas, como antropologia, linguística e informação acerca de povos não alcançados continua sendo uma área em que os missionários estrangeiros podem ser muito úteis à Igreja brasileira.

Pode-se dizer que já existe uma teologia genuinamente nacional?


Creio que teologia nacional, brasileira, seria aquela alicerçada em nossa história e cultura. Não acho que poderia encontrar uma visão como essa bem divulgada no Brasil.  Ainda há muita dependência dos livros estrangeiros e de modelos de igrejas que tendem a copiar o que se faz em outros países.
Do que o senhor sente falta na Igreja de hoje e que já viu em outros tempos?


De um lado, mais ensino da Palavra, mais preocupação com santificação e mais investimento em missões transculturais. De outro, uma Escola Dominical mais forte, uma hinologia alicerçada na teologia bíblica e mais livros de ensino sério.

Fonte: http://cristianismohoje.com.br/ch/veterano-da-fe/

Conheça a história da tatuagem


por Paola Bello

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A tatuagem já foi usada para identificar bandidos e enfeitar poderosos; para juntar tribos e afugentar inimigos; para mostrar preferências e esconder imperfeições. O que não mudou quase nada foi a técnica de aplicação de tinta na pele. Passados mais de 4 mil anos, ela ainda é feita por meio de agulhas que perfuram a derme. Perseguida em vários momentos da história, a prática foi banida por decreto papal no século 8 e na Nova York do século 20. Apesar disso, é difícil encontrar quem nunca tenha pensado em fazer uma.
>> Baixatudo: Site coloca tatuagem nas suas fotos

>> Entre 2160 a.C e 1994 a.C.
Múmias de mulheres egípcias, como a Amunet, possuem traços e inscrições na região do abdome

>>> Há mais de 2.400 anos
Múmias encontradas nas montanhas de Altais, na Sibéria, apresentam ombros tatuados com animais, reais e imaginários

>>> Entre 509 aC e 27 aC
Os imperadores romanos determinam que, para não serem confundidos com súditos mais bem afortunados, prisioneiros e escravos sejam tatuados

>>> 787
Sob a alegação de ser coisa do demônio, o papa Adriano I proíbe as pessoas de se tatuarem

>>> Entre os séculos 15 e 17
Durante a invasão da Bósnia e Herzegovina pelos turcos otomanos, os católicos tatuavam cruzes como forma de evitar ter de rezar para Alá

>>> 1600
Com o fim das guerras feudais no Japão, os serviços dos samurais tornaram-se desnecessários. Surge, então, a Yakuza, a máfia japonesa

>>> 1769
Em expedição à Polinésia, o navegador inglês James Cook nota a tradição local de marcar o corpo com tinta. Na língua local, chamam isso de "tatao"

>>> Entre 1831 a 1836
A bordo do HMS Beagle, Charles Darwin registra que a maioria dos povos do planeta conheciam ou utilizavam algum tipo de tatuagem

>>> 1891
O americano Samuel O’Reilly patenteia a máquina de tatuar. Trata-se de uma adaptação de uma invenção de Thomas Edison

>>> 1928
Em Chicago, um caminhão com peles tatuadas é roubado. A coleção pertencia a Masaichi Fukushi, médico japonês que estudava como a tatuagem ajudava a preservar a pele

>>> 1942
Durante a Segunda Guerra, os nazistas tatuavam um número no corpo dos judeus para identificá-los como prisioneiros nos campos de concentração

>>> 1959
Chega ao Brasil o dinamarquês Knud Gegersen, o primeiro tatuador profissional a atuar por aqui

>>> 1961
Depois de um surto de hepatite B, a Secretaria da Saúde de Nova York proíbe a realização de novas tatuagens na cidade

>>> 1999
A empresa de brinquedos Mattel lança a Barbie Butterfly Art, boneca que vinha com uma tatuagem lavável

>>> dezembro de 2009
Ao passar 52 horas tatuando o corpo de Nick Thunberg, o americano Jeremy Brown bateu o recorde mundial de sessão mais longa, que era de 43h50min, estabelecido em 2006

Fonte: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI132738-17770,00.html